Capítulo Dezesseis

THOMAS

— Tenho algumas coisas para resolver, você... — Respirei fundo, era difícil ser íntimo da senhorita Evans. — Você pode ir primeiro para casa.

Eu estava apenas seguindo o roteiro já que ainda havia algumas famílias próximas o suficiente para escutar nossa conversa.

— Tudo bem — Ela sorriu e estendeu sua mão. — Vou esperá-lo.

Ela e a senhorita Peterson deram alguns risinhos baixos. Isso teria me irritado ainda ontem, mas após a noite de hoje, eu estava entendendo melhor a senhorita Evans. Ela era apenas uma menina travessa em um corpo de mulher.

— Certo — Concordei e beijei as costas da sua delicada mão. — Se cuidem no caminho.

— Obrigada pela companhia, senhor Reagan — Senhorita Peterson agradeceu e fez uma breve reverência.

— Eu que agradeço — Ele respondeu naquele tom galanteador que ele sempre usava com as mulheres.

Eu o puxei antes que ele tentasse fazer algo impróprio com a senhorita Peterson. Bernard não tinha qualquer decência quando o assunto era o gênero oposto.

— Nos despedimos aqui, boa noite — Falei e esperei que elas entrassem na carruagem.

Quando o cocheiro começou a guiar os cavalos que carregavam a carruagem, eu e Bernard finalmente fomos para a casa que estávamos instalados.

Não morávamos tão longe do centro da cidade, mas ainda era uma boa caminhada para se andar a pé, por isso primeiro fomos pegar nossos cavalos.

— Tom, seu primeiro passo foi muito bem sucedido! — Bernard me elogiou quando ficamos sozinhos na rua. Os cidadãos já haviam entrado em suas carruagens. — Acredito que semana que vem ela estará aos seus pés.

Eu não tinha tanta certeza, quem pareceu apaixonado fui eu com essa baboseira de ciúmes. Eu definitivamente não estava com ciúmes já que ambos os homens que a senhorita Evans gostava eram eu mesmo.

Há alguns anos tentei fazer com que meu pai ajudasse os aldeões que haviam sofrido perdas por causa das guerras, mas meu pai apenas lhes doou alguns pães que mal davam para sobreviver durante o mês. Não tive outra escolha a não ser virar o Senhor da Justiça, e quando algo me desagradava na corte, era assim que eu lidava.

Pude sustentar esse personagem graças às minhas habilidades secretas em artes marciais que aprendi quando meus pais me enviaram para aprender o idioma de Xin Wang, mas o idioma não fui tudo que aprendi, pois consegui conquistar a amizade do príncipe que me ensinou secretamente os estilos de luta que sabia, enquanto eu o ensinei tudo o que conhecia sobre espadas.

Assim juramos irmandade e prometemos não revelar nossas habilidades secretas para ninguém. Talvez o príncipe de Xin Wang seja o único além do Bernard que saiba a real identidade do Senhor da Justiça.

— Não garanto isso, ela está mais tolerante, mas não sou o homem dos seus sonhos — Retruquei.

— Como não!? Conquistou ela duas vezes!

— Negativo, os boatos e impressões de outras pessoas a conquistaram, eu em pessoa fui um fracasso.

— E daí? No pior dos casos você ainda pode se vestir como "aquela pessoa" e pedir para que ela lhe faça tudo o que desejar — Bernard sorriu perverso.

Ele tinha razão. Eu poderia me vestir como o Senhor da Justiça e enganar a senhorita Evans, mas que tipo de homem eu seria se ferisse os sentimentos dela dessa forma?

Uma coisa era eu tentar enganá-la na situação que estávamos, ela já sabia quem eu era e no que estava se metendo. Outra era eu abusar da admiração que ela sentia há anos por "alguém".

— Não posso — Fui sincero. — Isso a magoaria profundamente.

— Tom, você precisa voltar para Fasnar e comparecer às suas obrigações — Bernard disse num tom sério. — Está sendo divertido acompanhar essas senhoritas, principalmente porque você nunca participa de eventos assim... Mas precisa voltar para a realidade em algum momento.

— Eu sei, Bernard, não estou fugindo, só não quero ser malvado.

— Fazer ela se apaixonar para concordar com tudo em nome do amor não é ser malvado?

Eu o olhei com irritação. Talvez fosse maldade, mas de qualquer forma eu estava aqui para ser odiado e não amado. Quando eu fosse embora ela poderia voltar para a sua vida independente e admirar o Senhor da Justiça ou o segundo príncipe como bem desejasse. O general FitzClarency carregaria todo seu ódio.

— Sabe que não tenho escolha.

— Exatamente por não ter escolha que eu estou sugerindo um caminho mais fácil — Ele retrucou. — Você só precisa aparecer como o homem que ela admira e fazer com que ela acredite que vocês vão ficar juntos, desse modo ela vai pedir o divórcio e...

— Não! — Falei irritado. — Não farei isso, vou me tornar amigo dela e podemos conversar sobre isso depois.

— Mas...

— Bernard, aprecio sua amizade e incríveis conselhos, mas sei o que estou fazendo.

— Isso vai demorar muito — Ele suspirou cansado. — Bom, você tem alguns dias, ficarei aqui só até semana que vem e voltarei ao reino, não podemos nos ausentar demais.

Assenti. Era bom que ele cuidasse de tudo para mim, principalmente minha família que a essa altura já devia estar se perguntando o motivo para a minha demora.

Mas eu estava decidido a demorar não mais que duas semanas. Esse tempo seria o suficiente para ganhar a sinceridade e confiança da senhorita Evans, eu a recompensaria grandemente e ela sempre teria passe livre para visitar o reino. Tudo o que eu queria em troca era o divórcio.

***Esta obra está sob contrato com a NovelToon, e a pirataria, como a reimpressão sem permissão, é estritamente proibida.***

***Faça o download do NovelToon para desfrutar de uma experiência de leitura melhor!***