Capítulo Doze

THOMAS

Cheguei na praça principal da cidade no horário combinado. Porém, tive que esperar alguns minutos, mas não me incomodei pois sabia que mulheres demoravam para se arrumar.

Entretanto, fui surpreendido quando não só a senhorita Evans saiu de sua carruagem, mas também a senhorita Peterson. Isso me irritou um pouco, pois o plano era conquistar a senhorita Evans para que ela concordasse em assinar o divórcio para o bem da minha felicidade.

— A Bia queria muito ver essa peça... Tudo bem se ela for conosco, certo? — Essa foi a saudação da senhorita Evans.

— Claro — Forcei um sorriso e as duas sorriram animadas sem perceber minha falsidade. — O Bernard chegará em breve e poderá acompanhar a senhorita Peterson.

Na verdade eu havia dito para o Bernard não atrapalhar meu plano, mas agora precisava mandar um recado às pressas para a casa onde nos acomodamos, senão a senhorita Evans ficaria distraída com sua amiga.

— Quem? — Senhorita Evans perguntou.

— O senhor Reagan, esse é o primeiro nome dele — Senhorita Peterson respondeu num tom baixo.

— Isso é inapropriado — Senhorita Evans me olhou com irritação. — A Bia está noiva.

— É apenas um teatro e ele seria meu convidado, assim como ela é a sua.

— Se a Bia concordar...

— Eu concordo! Não quero ficar olhando vocês namorarem.

— A gente não... — Eu e a senhorita Evans dissemos juntos e logo nos calamos enquanto olhávamos um para o outro.

— Estão até falando juntos, que horror!

— Bianca!

A senhorita Peterson sorriu com diversão e então saiu na nossa frente, mas não longe o suficiente para que não nos perdêssemos uns dos outros.

— Vamos? — Eu estendi meu braço para a senhorita Evans que o segurou sem cerimônias.

— Hoje vai ser interessantíssimo — Senhorita Evans comentou enquanto passeávamos.

Percebi que ela caminhava mais devagar que o natural e muitas vezes acenava para pessoas desconhecidas por mim.

— Vejo que está gostando de ser minha esposa.

— Ah senhor FitzClarency, é muito divertido ver todos que me julgaram sorrindo falsamente por causa do seu status.

— A senhorita não tem mesmo vergonha alguma — Falei impressionado.

— Senhorita não, você — Ela me olhou e sorriu docemente. — Melhor, querida.

— Me recuso.

— Agora que me propôs uma noite sendo meu marido, precisa fazer o papel completo.

Respirei fundo. Agradar a senhorita Evans era mais difícil do que eu imaginei.

— Querida é um pouco íntimo demais.

— Mas somos casados há dez anos — Ela retrucou.

— Reconheço que a senho... Você é muito inteligente por manter isso por tanto tempo.

— Ninguém tem provas contra mim, o único que poderia destruir isso acabou de me oferecer seu braço.

Eu a olhei ofendido quando compreendi suas palavras e ela riu.

Tudo bem, ela poderia rir à vontade e me submeter aos seus caprichos contanto que assinasse o divórcio.

Na verdade era um negócio muito justo, eu fingia ser o marido dela por alguns dias, ajudava ela a recuperar sua reputação e depois nos divorciávamos. Eu permitiria que ela mantivesse a mentira, afinal minha identidade não estava exposta de fato. Para eles eu era apenas um general e não o segundo príncipe de Fasnar.

— Onde combinou de encontrar o senhor Reagan? — Senhorita Peterson esperou que nos aproximássemos para perguntar.

— No teatro — Respondi ansioso. — Ele definitivamente estará no teatro.

Ela sorriu e assentiu logo voltando ao seu caminho pouco mais à frente de mim e senhorita Evans.

Tive mais alguns diálogos relativamente agradáveis com a senhorita Evans e quando chegamos no teatro consegui falar com um mensageiro e pedir que ele enviasse o recado para o Bernard. Fui claro quanto à urgência.

— Onde está o senhor Reagan? — Senhorita Evans perguntou enquanto a senhorita Peterson me olhava com curiosidade.

— Esse idiota deve ter se atrasado — Respondi. — Não se preocupem, antes do espetáculo ele estará aqui, ainda temos um tempo até que inicie.

— Vamos esperar aqui, gosto de ver quem chega — Senhorita Evans sugeriu e assim ficamos perto da entrada. — Olha só... A oportunidade perfeita.

— Ceci, não diga besteiras, não quero ser expulsa — Senhorita Peterson sussurrou, mas eu escutei.

— Expulsa? — Perguntei surpreso e a senhorita Evans olhou feio para sua amiga.

— Senhor FitzClarency vá um pouco mais para o seu lado, quero que me vejam melhor.

Obedeci a senhorita Evans mesmo não entendendo nada. Porém, não tive chance de questioná-la já que no meio de todos, senhorita Evans puxou meu braço o colocando ao redor da sua cintura.

— Senhorita...

— Me olhe apaixonadamente — Ela resmungou sorrindo para mascarar sua fala.

Respirei fundo e decidi não perguntar. Pela quantidade de pessoas na rua provavelmente havia algum conhecido que ela queria impressionar.

— Como eu faço isso? — Sussurrei perto do ouvido dela.

— Sério, senhor FitzClarency — Ela sussurrou de volta, porém seu rosto agora estava voltado para o meu. Muito perto... — Apenas faça, assim.

Senhorita Evans segurou meu rosto e me olhou de uma forma que nunca imaginei ver em seus olhos... Pelo menos não direcionado à mim.

Meu coração acelerou e meus olhos instintivamente foram para os seus lábios sutilmente pintados de vermelho. Me aproximei inconscientemente e...

— Quanta vulgaridade!

Pisquei e quase me afastei da senhorita Evans, mas ela segurou meu braço que rodeava sua cintura com força.

Olhei sem jeito para quem havia nos insultado, com razão, e fiquei surpreso ao ver que era o homem que quase sequestrou a senhorita Evans.

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