Você É O Meu Prêmio

Você É O Meu Prêmio

.1.

Mais uma semana e vamos todos morar na rua. Isso mesmo, morar literalmente na rua.

Oi! Eu sou Maria Isis Gusmão, filha única de Heitor Gusmão e Maria Marta Gusmão, herdeira da construtora Gusmão, a maior empresa atualmente no ramo de construções. Eu deveria estar feliz? Claro que sim... Se não fosse pelo meu pai apostando tudo que temos em cavalos. E pior, perdendo.

Nossos cartões já estão sem limites e nossas contas estão zeradas. O condomínio está atrasado e os salários dos nossos funcionários também.

Eu já não aguento mais ser tão questionada sobre quando meu pai vai dar uma entrevista sobre a situação dele e da empresa. A Construtora Gusmão tem nome no mercado, mas está perdendo o valor devido ao descontrole do meu pai. Ele está doente e não quer reconhecer.

Alguns funcionários ligam para nossa casa dizendo várias atrocidades e avisando que vão colocar a empresa na justiça. Eu não consigo mais ir a faculdade porque já fui chamada de ladra pelo filho de um dos diretores da empresa.

As coisas que temos na dispensa, segundo nossa secretária do lar, duram mais uma semana. Minha mãe não reage, só chora. Ela está isolada no quarto faz um mês e pouco, quando teve seu cartão dependente bloqueado pelo meu pai.

Eu não cheguei nem na metade do meu curso, não tenho experiência com nada. Como posso ajudar?

Sem contar que eu, para conseguir equilibrar as contas, teria que pelo menos trabalhar limpando bosta dos camelos de um sheik árabe.

–– Oi, Isis –– Nosso motorista, Jardel, vem ao meu encontro. –– Seu pai já disse quando vai me pagar? Meu filho de sete anos precisa muito de um tênis novo e eu também preciso pagar as pessoas que eu devo.

–– Ai, Jardel. –– Deixo meus ombros caírem em sinal de desânimo. –– Sabe qual é a verdade? Não temos um tostão no bolso e meu pai não aparece em casa têm 3 dias.

–– Então... Posso aceitar a proposta de emprego dos Medeiros? Eles ofereceram o dobro do que recebo aqui. Ou melhor, recebia.

–– Pode ir, Jardel. Você tem sua família pra alimentar. –– Toco em seu ombro. –– Não se preocupe que quando começarmos a vender o que ainda nos resta iremos pagar os seus direitos trabalhistas. Você é um amigo querido da família. Não vamos deixar meu pai sacanear ninguém.

Ele agradece e vai embora. Quando noto que não tem mais ninguém em volta, grito bem alto. Eu estou tão estressada, tão estressada...

–– Isis! Isis! –– Nita, nossa secretária do lar, aparece esbaforida. –– Sua mãe, menina!

–– Ai, por favor! Mais problemas, não.

Nem deixo ela concluir o que iria dizer, saio correndo atrás da minha mãe. Encontro minha mãe com um pote de remédios calmantes em uma mão e uma garrafa de whisky na outra. Ela estava com seu robe de seda favorito e suas pantufas egípcias caras.

Ela gritava, ameaçando sua vida. Mas eu já estava cansada daquela cena. Era a quarta desde que ela se isolou. Joguei-me na poltrona do seu quarto e senti minha cabeça rodar.

Isso tudo só pode ser castigo. Não pode ser outra coisa.

–– Não duvide, filhinha –– Balançava a garrafa e o pote de remédios. –– Esse mundo é muito cruel. Não vou suportar viver assim. Prefiro a morte.

–– Mãe! –– Gritei sentindo um nó esquisito travar a minha garganta. –– Mãe, para com isso! Você... Você não vê o quanto eu estou sobrecarregada? O papai sumiu, as pessoas estão ligando cobrando as dívidas, estão me chamando de ladra... Mãe... –– Deixo as lágrimas caírem. –– Como a senhora pode estar pensando em morrer porque não vai beber mais seu champanhe caro ou não vai fazer compras em Paris três vezes ao ano?

–– Isis...

–– Para, mãe! –– Solto toda minha histeria enquanto grito. –– Eu só tenho vinte anos! Droga! Eu não pedi por nada disso... Não pedi.

–– Maria Isis, venha aqui!

–– Me erra.

Sumo daquele quarto enquanto ainda tenho sanidade. Minha vontade é puxar todos os meus cabelos e comê-los de tão estressada que eu estou.

Minha mãe nem sempre foi assim. Lembro nitidamente dos tempos em que ela esperava em frente a nossa antiga casa a minha chegada da escola. Eu morria de vergonha, mas era o jeito dela de dizer que ficou com saudades.

Ela adorava fazer misto quente com suco de laranja para mim aos finais de semana. Isso tudo acontecia antes da empresa do meu pai ser bem vista e muito requisitada. Resumindo, antes de mudarmos de classe social.

Minha mãe apaixonou-se pelas bolsas de grife, pelas jóias, pelas viagens, pelos cartões, pelos carrões. Esqueceu de todo o resto. Infelizmente.

Meu pai sempre foi amoroso. Sempre chegava com chocolates ou balas para mim. Mas depois do vício, nossa relação mudou drasticamente. Ele ficou impaciente, agitado. Tudo era motivo de gritar ou ignorar.

As vezes eu sinto que esse maldito dinheiro acabou com a nossa vida. Eu lembro que éramos mais felizes quando as coisas eram mais apertadas. Esquisito isso não?

Ligo para Suze, uma das pouquíssimas amigas que não afastou-se de mim, e peço para ela vir me buscar. Faço uma pequena malinha e fico na frente de casa esperando.

Ela tinha insistido muito para que eu fosse passar o final de semana na fazenda do amigo do irmão dela. Eles iriam fazer uma festinha para comemorar a compra da propriedade. Uma espécie de batismo do lugar. Regado a muita cachaça, ressalto.

Eu tinha recusado. Não conhecia o cara e muito menos estava com espírito para festas, mas depois dessa eu só queria extravasar. Era nítido que meus pais estavam pouco se lixando para mim. O foco dos dois era o maldito dinheiro.

Custa eu pensar um pouco em mim agora? Mesmo com o mundo desabando na minha cabeça?

–– O que te fez mudar de ideia, Isis? Sei que você não está muito no clima.

Suze é daquelas amigas sensitivas, que ama ler seu estado de espírito e te encurrala até você desabafar. Eu amo isso nela.

–– Estou farta de ficar me preocupando sozinha com a situação da minha família. –– Bufo, sentindo o mesmo nó na garganta de antes voltar. –– Meus pais são péssimos, Suze. Preciso distrair um pouco. Me conta, quem é o dono da tal fazenda?

–– É amigo do Maurinho; parece que se conheceram quando faziam boxe. Não sei bem sobre ele. Mas sei que geral foi convidado. –– Ela liga o som e me oferece chicletes. Aceito. –– Nós somos vips porque vamos nos hospedar no casarão. O resto da galera vai durante a festa. Espero que vá muitos caras bonitos e que beijam bem.

Gargalhamos ao olharmos uma para a outra. Eu não faço o estilo "passa o rodo", mas curto beijar na boca de vez em quando. Suze que faz esse estilo. Ela é terrível.

–– Espero que seja bom. Estou quase explodindo de tanto estresse. Pode aumentar o som? Adoro essa música.

Não demorou mais que três horas para estarmos passando pelas portas da Fazenda Paradise. Já estava perto da hora do almoço quando descemos do carro.

–– A Isis veio mesmo. Não acreditei quando Suze me mandou mensagem. –– Maurinho me abraça e beija minha testa. –– Se quiser, pode dormir comigo, no meu quarto.

–– Não enche, Maurinho!

–– Vai, imbecil. Cadê seu amigo? –– Suze é muito superprotetora. Ela odeia os contatos excessivos do Maurinho comigo. Sempre diz que ele é golpe.

–– Também te amo, Suzane. –– Revira os olhos. –– Ele chega daqui a pouco. Mas tem bebida nos freezers e comida nas geladeiras. Subam e escolham um quarto para vocês. Os funcionários estão fazendo o almoço.

Suze não exagerou quando chamou de casarão. São três magníficos e espaçosos andares. Tenho certeza que isso aqui deve ter custado uma grana alta.

–– Esse amigo do Maurinho deve ser muito bem de grana viu? –– Jogo minha malinha em cima da cama. –– Que lugar espetacular!

–– Isso é. Meu irmão disse que ele tem negócios vantajosos e que planeja expandir ainda mais sua riqueza. É um homem empreendedor.

–– Pelo jeito que você fala dele já deve ter pedido a ficha completa ao Maurinho. –– Ela gargalha. –– Já sei que visitarei mais vezes esse lugar futuramente. Gostei.

Organizamos nossas coisas e descemos para o térreo. O cheiro que vinha da cozinha estava maravilhoso e minha barriga estava roncando.

Suze avisou que iria atrás do Maurinho e eu aproveitei para ir à cozinha. Tinha cerca de quatro a cinco funcionários, andando de um lado para outro. Fiquei envergonhada e iria dar a volta, mas uma delas me notou.

–– Quer algo, senhora?

–– Não queria incomodar... É que eu estou com um pouco de fome. Acabei de chegar.

Ela pede que eu espere enquanto prepara uns aperitivos para mim. Ela me entrega três sanduíches, uma fatia de bolo e uma latinha de refrigerante. Agradeci e pedi desculpas pelo incômodo.

Sentei-me na varanda para apreciar a vista enquanto comia. O lugar é muito grande e está sendo todo decorado para a festa.

–– Ei, Isis –– Suze grita e acena de longe. –– Tem gente chegando ai.

Assinto continuando a comer tranquilamente. Não tinha comido nada hoje e não iria abandonar a comida por causa de quem vem chegando.

Um jipe surge em alta velocidade e para bem em frente a entrada do casarão. Aos poucos, um a um descem do carro. Apenas observo. Suze e Maurinho aproximam-se.

O último a descer é o motorista, que me encara por mais tempo do que eu gostaria. Desvio do olhar dele. Que homem gato!

–– E ai, Maurinho! –– Cumprimentam-se.

–– Fala, Rafa! –– Maurinho faz um sinal para que eu me aproxime. –– Essas são Suze, a pé no saco da minha irmã, e essa é meu sonho de consumo, Isis.

–– Sejam bem-vindas! –– Ele fica com os olhos vidrados em mim e isso me incomoda.

–– Obrigada!

–– Valeu!

O tal Rafael pediu com licença, pois tinha muito a fazer. Mas pediu que ficássemos à vontade. Junto com ele no carro tinha vindo mais uma galera. Gabi, Amanda, Ícaro e Nathan. Todos nos cumprimentaram e depois sumiram.

–– Notei que o todo poderoso ficou vidrado em você, gostosona. –– Suze me cutuca. –– Vê se não banca a chatonilda.

–– Até que ele é bonitinho. –– Dou de ombros enquanto olho por ele onde foi. –– Mas não vamos criar expectativas. Ele pode muito bem ser um mala. Odeio homens assim.

–– Não dou duas horas de festa e você vai estar grudada na boca dele.

Bagunço seu cabelo enquanto ela continua com suas gracinhas. Para passar o tempo resolvemos passear pela área da fazenda.

O estábulo era gigantesco e tinha muitos cavalos. Nada contra esses bichinhos, mas eles me lembram uma fase dolorosa e complicada da minha vida.

A estufa também era sensacional. Um funcionário nos mostrou algumas espécies raras já crescidas e também nos mostrou algumas recém-plantadas.

Suze alegou estar apertada e pediu que eu a esperasse na área arbórea do local. Tinha uma árvore imensa com um balanço pendurado chacoalhando com o vento. Não resisti e sentei.

Na nossa antiga casa com quintal eu tive um balanço também. Era nostálgico para mim estar sentada nesse agora.

–– Incomodo?

Olhei para trás de mim e lá estava ele de braços cruzados, avaliando cada canto do meu rosto.

–– Na-não. Desculpe. –– Saio do balanço. –– Só quis sentar um pouco enquanto espero minha amiga.

–– Isis, não é? –– Assinto. –– Não tem problema algum. Pode aproveitar cada parte daqui. Viu os cavalos? Gosta de cavalgar?

–– Não. Quer dizer, já cavalguei uma vez. Não curti muito. –– Por que está parecendo que estou falando de outro tipo de cavalgada? –– Mas seus animais são belíssimos.

–– Obrigado. Bom, até mais.

Ele segue seu caminho, passa por Suze e a cumprimenta. Já sei que Suze vai vir cheia das caraminholas na cabeça por ter nos vistos conversando.

–– E ai? Já decidiu se vai dar pra ele ou vai só beijar?

–– Suzane! –– Exclamo, falsamente horrorizada. –– Você é simplesmente terrível, garota!

O momento do almoço foi interessante. Todo mundo conversava entre si, trocando figurinhas sobre o que fazem ou como gastam seu dinheiro no tempo livre. Fiquei em silêncio; ora sorrindo ora assentindo. Eu não conseguia me enturmar e isso era graças ao medo de falarem sobre minha família.

–– E você, garota? Trabalha ou faz curso? –– Amanda aponta o garfo para mim, fazendo com que todos ficassem calados.

–– Tranquei a faculdade. –– Tento ignorar todas atenções em mim. –– Tô vendo o que eu faço ainda. Por enquanto tô na minha.

–– Você não é filha de Heitor Gusmão, o CEO da Construtora Gusmão? –– Obrigada, Rafael. Você acabou de cair no meu conceito. –– Maurinho me disse.

Olhei para o irmão da minha amiga sentindo que podia fazê-lo virar pó só com o poder do meu ódio. As vezes eu sinto que posso enforcar Maurinho e não sentir remorso por isso. Droga!

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Comments

Suna

Suna

meu deus que pai é esse? KKKKKKKKK

2024-10-30

0

Tania Cassia

Tania Cassia

Segunda a comentar kkk vou ver o desenrolar da história e ver se vou gostar 🥰🥰

2023-08-16

4

chegueiiii primeira a comentar

2023-06-21

0

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