Capítulo 15

Nunca neguei que a propriedade da família de Jack é linda, o verde da floresta em volta contrastava com o topo da montanha que podia ser vista de qualquer local do terreno, era mais bonito no inverno, quando o cume ficava branco com o gelo, assim como as árvores cheias de neve.

O problema de lugares assim é que sempre há um motivo para ser isolado, quase sempre a razão é PERIGO.

Jack me empurra devagar pelo caminho de pedra, o que não impede meu corpo inerte de sacudir com os movimentos.

- Seria ideal se você conseguisse andar\, mas acho que a cadeira aguenta.

Jack anda pela grama, precisa de muita força para deslizar as rodas, mas melhora quando alcançamos uma pequena estrada de terra, entre as árvores é mais frio e completamente úmido, foi por isso que aceitei vir aqui no começo, tratar meu pulmão recém drenado.

Mas agora penso que estender o uso do antibiótico não era assim tão nocivo.

Ele para bruscamente em uma pequena clareira, eu olho em volta, para o chão, procurando por alguma cova rasa que ele tenha cavado para mim.

- Era aqui que eu vinha quando garoto\, tem uma história engraçada\, embora minha mãe tenha achado muito assustador. Havia uma goteira no telhado\, que me fazia perder boa parte do verão\, sempre que chovia eu tinha que voltar para a mansão\, então um dia eu resolvi subir e consertar\, eu devia ter uns oito anos. Aqui – Jack inclinou minha cadeira para trás e só então vi a casa na árvore que ele apontava\, não era tão alta\, mas o telhado ficava a uns dois metros do piso\, daria para um adulto ficar em pé nela – e como você pode imaginar\, eu caí. Bati com a nuca no chão e fiquei aqui nesse chão por um longo tempo até alguém me achar.

Ele tinha um tom nostálgico na voz, uma profundidade rasa, como se estivesse sonhando acordado. Jack ficava distante quando falava do passado e eu sempre fantasiava fugir nesses momentos, enquanto ele estava distraído com seu narcisismo.

Mas nesse momento, tudo o que eu conseguia ver eram os restos mumificados de animais que eu não conseguia identificar devido ao estagio avançado de decomposição, pendurados em todos os galhos da árvore.

Como eu fui burra em ignorar os sinais, é assim que um serial killer começava, trauma na cabeça, família excêntrica, assassinato de pequenos animais. Se eu soubesse de tudo isso quando o conheci, não estaria presa dentro da minha cabeça.

- Bem\, não é isso que eu quero te mostrar\, vamos continuar.

Agora sim, ele me levaria para a beira de algum penhasco e me empurraria com cadeira e tudo, eu não sabia qual era a posição da casa na ilha, podia muito bem ter uma queda para o mar em algum lugar, eu cairia nas pedras e quando a maré subisse eu seria levada e devorada pelos animais carniceiros do mar.

Mas Jack entra em uma outra clareira, essa não parece natural, pelo formato oval perfeito e uma estrada asfaltada pelo lado oposto ao que chegamos e no centro disso tudo uma construção em concreto. Com o topo triangular, antes que Jack arrastasse a minha cadeira de rodas até a grama em frente a construção, percebi que se tratava de um mausoléu.

- Eu estava esperando o momento certo para te trazer aqui – ele andou até a porta de ferro\, tirou uma chave do bolso\, o chaveiro brilhou contra a luz do sol\, um o brasão da família. Ele deslisou as correntes para o lado com um barulho agudo e empurrou a porta\, fazendo ranger – vamos ver do lado de dentro.

Eu bati minha mão no peito dele quando me pegou no colo, mas sem firmeza alguma, duvido que tenha ao menos sentido. Sou carregada como um pedaço de pano, para o lado de dentro, olho em volta apavorada, mas não vejo nenhuma cova aberta.

Há dois bancos de igreja de cada lado e uma mesa de pedra na frente com uma única cruz no centro, ao lado, gavetas grandes o suficiente para abrigar caixões. Jack me colocou no banco e se sentou ao meu lado.

- É aqui que minha família está\, mamãe\, papai\, vovô. É onde eu vou acabar também – ele faz uma pausa\, quase posso sentir a tristeza dele\, mas então sua respiração muda para algo mais lento e profundo e um sorriso surge em seus lábios – é onde você vai acabar\, Madelaine. Em um caixão ao meu lado\, dividiremos os vermes como dividimos a cama. Quando você me pede coisas que eu não posso fazer\, só torna esse momento mais próximo\, por que você nunca. Nunca. Vai sair daqui.

Meu peito aperta tanto que sinto como se tivesse um ataque cardíaco. Jack só me trouxe aqui para me aterrorizar, para me mostrar o quão tranquilo estava com nosso futuro.

Eu me pergunto se ele não sente falta da esposa que tinha, de como eu era feliz e animada antes que ele me transformasse em um vegetal.

Ter sido arrastada para esse mausoléu me mostrou que se eu quisesse escapar teria que lutar, mas talvez eu não devesse mais lutar sozinha. Eu precisava de Astra.

Quando Jack se ajoelha na minha frente e abre o estojo, eu não me desespero, não luto, apenas o encaro, o desafio. Não sei se ele nota enquanto mantém o sorriso no rosto e injeta na minha veia.

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