Capítulo 11

Madelaine é, sem dúvida, a mulher mais bonita que já conheci, mesmo com a fragilidade de seu corpo, sinto a energia ampla que ela irradia, não é difícil perceber o quanto ela era divertida e espirituosa antes da doença.

Foi aterrorizante a forma como ela surtou, gritando e se debatendo debaixo de mim, mesmo debilitada, precisei usar muita força para segurá-la no chão e aplicar a medicação.

- Fentanil – resmungo para mim mesmo\, cuspindo ar condensado a cada silaba.

A noite caí muito rapidamente na região e por mais que os termômetros tenham mostrado vinte e cinco graus, enquanto ando pela floresta para casa, chega perto de zero.

Sempre que volto para a cabana tenho uma esperança gritante em meu peito, como se houvesse a possibilidade de abrir a porta e encontrar Prya sentada no sofá, pintando as unhas do pé em vermelho vivo e ela diria “preciso de uma cor forte para aparecer nessa mixaria de unha”.

Giro a chave na porta, está tão quieto e vazio quanto possível quando abro.

Ligo o velho computador na escrivaninha ao lado do sofá, não quero perder tempo. Estou vasculhando a rede social de cada pessoa que já conheceu Prya, é um trabalho demorado, se eu ao menos tivesse algum computador mais moderno, não levaria tanto tempo para carregar as páginas.

No tempo que tenho que esperar, penso em Madelaine. E Fentanil.

Quando percebo, já estou abrindo uma nova página e pesquisando a ligação entre o remédio e esquizofrenia. Mesmo que eu já tenha a informação que o uso de qualquer opioide por tempo prolongado pode piorar doenças mentais. É uma droga, um vício. Além disso, Madelaine não parece sentir dor alguma.

- Droga\, Astra – repreendo a mim mesmo.

Eu não devia mexer com esse assunto, a vida é deles, eu só tenho que sacar o pagamento no final da semana.

Volto para as redes sociais de Prya e clico no perfil de outro amigo dela, um cara da Suiça, abro a conversa entre os dois, mas não tem informação alguma.

É como de ela nunca tivesse existido.

Escuto um choro baixo de cachorro vindo da porta, meu coração aperta, está frio demais para um cãozinho ficar do lado de fora. É um choro baixo e agudo, me faz pensar em um lindo filhotinho indefeso, não levo mais de trinta segundos para decidir abrir a porta, mas quando o faço, sou surpreendido por um cão negro gigantesco, recuo e empurro a porta, não posso fechar totalmente porque seu focinho está para o lado de dentro.

- Eu vou abrir\, mas não me morde\, está bem?

Puxo um pouco a porta, o cão entra e como se conhecesse a casa, abocanha a manta do sofá e a arrasta para o chão onde se enrola.

Me lembro de quando cheguei em casa depois de sair da cadeira e encontrar aquela manta no mesmo lugar, observo o cachorro no chão, está visivelmente desnutrido, seu corpo alto e longo cheio de ossos cobertos apenas por pele, também está sujo.

Coloco um bife na frigideira, apenas o suficiente para que esquente e sele dos dois lados, então coloco em um prato, quando me viro, o cão está com a cabeça erguida, me aproximo com cuidado, sento no sofá e coloco o prato no chão, ele devora em pouco tempo e busca por mais.

- Vamos com calma\, eu também preciso comer.

Ele cheira meus sapatos e calça, noto a coleira que um dia foi vermelha, e uma plaquinha que foi arrastada para o lado, era dourada e tinha o nome “Freya”.

- Então você é uma garota – eu brinco\, aquele tamanho de cachorro\, preto como carvão parecia ter saído direto dos portões do inferno e era fêmea.

Viro a placa na esperança de achar um telefone para contato, quem sabe a família colocou uma recompensa para ela.

O choque veio com as palavras gravadas, fazendo cada pelo no meu corpo se arrepiar.

“Se me encontrar ligue para 5846 22 00 965 Prya Winkler”

Faz sentido, minha irmã vivia aqui sozinha, sem vizinhos ou alguém para protegê-la, ter um cão de guarda era o mais indicado. A julgar pela forma que a cadela se sentia confortável dentro de casa, percebi que Prya cuidava muito bem dela.

Mais uma prova de que minha irmã não foi embora simplesmente, não abandonaria a cadela a própria sorte. Meus olhos se enchem d’agua e afago o topo da cabeça de Freya.

- Você voltou para casa porque percebeu que havia alguém aqui. Achou que fosse ela?

Não, Freya não procurou pela dona nos cômodos da casa, nem ficou agitada em não encontrar Prya, só havia uma explicação. A cadela sabia que não encontraria minha irmã aqui. Me aproximo do rosto dela e seus olhos desviam do meu, resiliente.

- O que você sabe? – as palavras somem no ar.

Faço o outro bife e entrego a cadela, parece precisar mais que eu e quero que ela fique comigo.

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Comments

Valcicleia Ribeiro

Valcicleia Ribeiro

será que a irmã dele foi morta pela louco do Deck?

2023-08-05

1

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