Capítulo 2

O jantar dessa noite é cordeiro com batatas assadas. A cozinheira nos serve em silêncio e se retira. É assim com todos os funcionários da casa, das faxineiras até o segurança. O jardineiro, por sua vez, fala o tempo todo, o que não adianta nada já que não entendo uma palavra de alemão.

- Posso chamá-la de vadia se eu quiser e ela nunca saberá – resmungo.

- Não seja má\, Maddy.

- Tenho ficado entediada com frequência nos últimos meses. Eu queria sair com mais frequência e fazer amigos.

- Eu sei. Mas o ar da montanha faz bem para o seu pulmão.

Jack não perdia a oportunidade de me lembra como eu quase morri com uma pneumonia há dois anos.

- Meu pulmão já está muito bem – rebato.

Odeio estar sendo tão chata e mimada quando Jack está fazendo tudo o que pode para me manter segura e feliz.

- Maddy – ele solta os talheres sobre o prato e me olha de um jeito que me mata\, vejo a dor em seus olhos e me culpo por isso – essa casa\, seu guarda-roupa\, suas joias. Todo esse padrão de vida que temos\, depende do meu trabalho\, mas a minha vida depende de você. Não quero viver longe outra vez\, voltar para casa e encontrá-la vazia porque você está nos Estados Unidos.

- Eu sei\, odiava te ver uma vez por mês e não quero voltar para Los Angeles\, não é a mesma coisa sem meus pais.

- Pode aprender a falar a língua local. Alemão não é tão difícil quanto parece ainda mais o que é falado aqui na Áustria.

- Preciso de uma professora.

- Posso arranjar – ele me olha por um longo tempo\, os cantos da boca levantados em um sorriso discreto – eu sou tão feliz em ter você.

- Eu também.

O relógio antigo na sala badala oito vezes, é hora de me preparar para ir para a cama.

Subo as escadas e anoto tudo o que fiz no diário antes de devolvê-lo á gaveta e dou uma atenção especial ao banho com o Jack, quando me levanto da cadeira, estou novamente molhada e odeio a sensação, porque sei que não vou poder saciar meu desejo outra vez.

Ás nove em ponto, Jack entra no quarto. Me habituei ao costume dele de dormir muito cedo, mas eu entendia, estávamos muito afastados da cidade, a propriedade não era só a aquela mansão antiga que eu odiava, tinham os jardins que ocupavam cerca de um quilometro quadrado e boa parte do bosque também.

Jack me disse uma vez, que no passado, os homens da sua família se distribuíam em cabanas no bosque e por dias, caçavam o maior animal que conseguissem rastrear, quem pegasse o mais feroz vencia e podia escolher o que quisesse dos outros.

Eu achava mórbido em muitos níveis, tanto pela caça por esporte quanto pelo prêmio, homens ricos são bens excêntricos com seus desejos.

- Já tomou seu remédio?

- Vou fazer isso agora.

Abro uma das gavetas do gabinete e tiro a cartela de clonazepam, ainda estou molhada, ainda pensando na pequena discussão que tive com Jack e me sentindo péssima por pressioná-lo. Preciso recompensar meu marido por tudo o que tem feito por mim.

Então tomo uma decisão, tiro um comprimido da cartela já que Jack sempre confere, mas ao invés de tomar, deixo ele cair no ralo da pia.

Vou para a cama como se não tivesse cometido uma pequena transgressão.

- Boa noite\, meu bem – eu o beijo e me deito de costas para ele.

- Está me tentando – ele suspira\, juntando seu corpo no meu\, sua mão explora por baixo do meu pijama até encontrar meu seio\, ele segura sem malícia\, é apenas o seu ursinho de dormir – boa noite\, Maddy.

Logo o quarto está silencioso e escuro, sei que não vou dormir sem o remédio, mas espero por um tempo, assim que Jack pegar no sono, vou me virar e fazer um boquete nele. Ele nem vai perceber que o estou chupando até acordar totalmente e conhecendo meu esposo, pode levar vários minutos.

Aguardo pacientemente, ansiosa para perceber a mudança em sua respiração.

- Maddy? Está acordada?

Não respondo, quero que ele pense que é seguro dormir que não tem que se preocupar. Mas ao invés de se virar, Jack se levanta da cama, ele anda até o banheiro e confere a cartela do meu remédio, então não se preocupa em mijar com a porta aberta e fazer muito barulho.

Eu espero, afinal, não quero estragar meus planos. Jack anda pelo quarto, é estranho como ele se comporta diferente quando acha que não estou olhando, gingando mais o corpo como um gangster. Ouço a porta do quarto abrir e a luz do corredor invade, fecho os olhos. Jack mexe no closet por um tempo, então abro um pouquinho os olhos, bem a tempo de vê-lo sair, totalmente vestido e de botas.

Ele nem se incomodou em fechar a porta e acho isso muito desrespeitoso.

Me sento na cama, não sei ao certo o que pensar disso, será que nos dois anos que eu estive naquela casa com ele, Jack saia todas as noites quando achava que eu estava dormindo? E se ele tem outra?

Ele com certeza está me traindo.

Não me levanto de imediato, espero por longos minutos, mas não ouço a porta da frente sendo aberta. Estico o braço e abro a cortina atrás de mim, a minúscula luz verde ainda está ali, ele precisa desligar o alarme se quiser sair.

Confiro mais duas vezes nos próximos de minutos, quando decido que já chega, me levanto , visto o roupão, mas continuo descalça. Não quero assustá-lo, seja o que for que ele está fazendo eu vou pegar no pulo.

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Comments

Noemia Santos

Noemia Santos

Gente o que é isso???🧐🧐🧐😱😱

2023-06-21

1

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