Paro no ponto de ônibus e olho no relógio mais uma vez, a cidade era minúscula, mas a região das montanhas era imensa e poucas casas se distanciavam por quilômetros, o que significava que seria uma viagem longa, uma hora e meia circulando a estrada estreita para chegar ao meu destino, uma sinuosa estradinha asfaltada de forma particular entre altos pinheiros que se fechavam no topo e mal deixavam o sol passar.
Abraço meu corpo a fim de espantar o frio, claro que eu já havia me arrependido de sair de casa apenas com uma camisa de flanela, minha altura e meus braços encolhidos no corpo não colaboram para que eu tenha muito equilíbrio enquanto ando apressado.
Se eu soubesse que era tão longe da estrada principal, teria deixado para ir a delegacia depois. Por mais que eu queira encontrar Prya, ainda preciso de um emprego.
A longa estrada estreita termina em um portão alto de ferro maciço, ladeado por altos muros cobertos de trepadeira. Passo um longo tempo olhando ao redor do portão tentando encontrar uma campainha ou algo assim, até que um segurança aparece, desconfiado e de cara amarrada, apenas levanta o queixo.
- Se afasta do portão.
Não reconheço o uniforme dele, o que é estranho já que aprendi sobre o sistema de segurança de cada empresa que atuava na região e não parecia que nos cinco anos que estive na prisão, o lugar tenha aberto mais postos.
- Boa tarde\, eu vim falar com o Senhor Baumgartner. Sou Astra Winkler.
- Se afasta do portão.
Dou um passo atrás como ele pediu, lento e teatral. Eu poderia ser segurança, era só dizer “se afasta do portão” com uma cara de mal, mas esse curso também não estava disponível.
Ele anuncia no rádio e alguns minutos depois vem uma confirmação. O segurança não parece nada feliz em me deixar entrar. Ele aponta para onde a estrada continua, só consigo ver o topo da mansão sobre as árvores, cálculo que vou levar uns dez minutos para chegar.
Levo quase a metade disso, quando estou perto, percebo as arvores darem lugar aos arbustos bem cortados e flores que ainda resistem.
A estrada se divide por um gramado no meio que leva para a entrada, deve caber uns vinte carros em frente a casa, um pequeno espaço de sol, que me decepciona por não estar mais quente o suficiente.
Paro na porta e controlo minha respiração por dois minutos antes de bater com a argola na madeira.
- Parece a porra do castelo do Drácula – rio comigo mesmo.
A porta abre e me deparo com um homem com cara de rico, roupa de rico e até o ar em torno dele parece de rico.
Ele sorri e estende a mão.
- Astra Winkler?
- Sim\, é um prazer conhecê-lo\, Senhor Baumgartner.
- Me chame de Jack\, não há necessidade de ser tão formal – ele abre mais a porta e dá espaço para que eu entre\, o lugar é maior por dentro do que parecia e por alguns segundos me perco na magnitude daquela escada – vamos conversar no escritório.
Eu o sigo de perto por um corredor largo e ele para na terceira porta, entra primeiro, me deixando confuso se fecho a porta ou mantenho aberta, acabo decidindo que mantê-la fechada é o certo já que estava assim antes.
- Sente-se por favor.
- Tem uma casa muito bonita – eu elogio antes de me sentar\, não sei porque estou tão nervoso\, mas preciso apertar as mãos entre as pernas para evitar que elas tremam\, não ajuda a casa ser ainda mais fria que do lado de fora.
- Então\, você está cursando enfermagem?
- Sim\, estou – engulo a confissão de que é um curso online.
- E já trabalhou na área?
- Não – ele assente lentamente e eu posso imaginar o que ele está pensando\, que não sou qualificado – mas eu cuidei da minha mãe por muito tempo.
- E qual era a enfermidade?
- Câncer – minha voz sai esganiçada e preciso limpar a garganta – câncer de estômago\, eu tratei dela em casa no final\, com as medicações e cuidados paliativos.
Ele não diz nada que mostre pena ou intimidade, agradeço por isso.
- Aplicava medicação na veia?
- Sim\, precisamente.
Jack se reclina na cadeira, as duas mãos cruzadas sobre o peito, ele está me avaliando mesmo enquanto estou em silêncio, ele é o tipo de homem para o qual você não pode mentir, exalando poder de todos os seus poros.
- Minha esposa tem um tipo diferente de enfermidade. A esquizofrenia a mantém em estado quase catatônico a maior parte do tempo\, quando ela tem momentos de atividade é comum que se altere. Preciso de um cuidador que seja forte o suficiente para dominá-la e anestesia-la\, mas também precisa ser alguém que não – ele olha para cima enquanto procura a palavra – se impressione fácil.
Eu já vi de tudo na cadeia e depois de cinco anos no inferno, eu podia dizer que não me impressiono fácil.
- Parece o trabalho certo para mim – tento passar alguma confiança nas palavras\, mas não tenho certeza se consigo.
- Vou precisar de alguns documentos.
Suas palavras pairam acima de mim como uma nuvem de tempestade, assim que pesquisar meus certificados verá que sou um ex presidiário e ninguém quer um homem assim em sua casa.
- Sim\, senhor - eu tiro o envelope dobrado do bolso e entrego a ele – tenho as c[opias bem aqui.
Ele assente antes de colocar um peso de papel sobre o envelope e eventualmente, vai dar uma espiada mais tarde. Mas é quando eu saio, acompanhado por ele até a porta que ouço um som de algo pesado caindo, ele chama pela esposa, mas não faz nenhum movimento.
É a minha deixa, eu corro para a sala e a vejo ali, caída no chão como um pedaço de pano velho.
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Atualizado até capítulo 63
Comments
Noemia Santos
Ele encontrou a irmã??
2023-06-21
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