Capítulo 8

Não posso deixar de pensar na minha mãe, perto do fim, quando o sofrimento da doença levou embora sua sanidade, supero o pequeno choque nos poucos passos até chegar á ela e me agacho, procurando seus olhos para que não tenha medo de mim. O que corre como o plano, a mulher se segura em meus braços fazendo muita força, o que sinto apenas como um toque leve devido á sua condição. Ela pede por ajuda, em inglês, a voz tão fraca quanto seus dedos.

Bem, estou aqui para isso, passo o braço por baixo dos seus joelhos e e seguro suas costas, o corpo leve e frágil não coloca resistência, uma vez que a coloco na cadeira de rodas, percebo Jack sorrindo ao meu lado, nas mãos dele há um estojo de medicamentos em couro com o zíper aberto.

- Talvez\, eu não precise consultar seus documentos por agora. Fico feliz em manter por perto alguém tão proativo para cuidar de Madelaine.

- Obrigado\, senhor.

Então ele se inclina e cochicha algo no ouvido dela, noto os pelos da enferma se arrepiarem com a proximidade, como se Madelaine quisesse fugir da sus própria pele, um sentimento estranho para alguém que é tão bem amparada por alguém que ama.

- Aqui\, me ajude com isso – Jack estende o estojo para mim – Fentanil.

Eu abro o estojo e lá estão, cinco frasco de remédios diferentes, cada um com sua seringa. Madelaine não parece precisar de uma dose extra de medicação, ela parecia controlada apesar de ter caído da cadeira, só quando Jack a segura é que noto a agitação.

Ela se debate sem sucesso nos braços do marido, mas tudo em seu corpo tem firmeza de gelatina. Pego o remédio indicado, encho a seringa e aproximo do braço dela, há uma marca roxa no lugar da aplicação, do tamanho de uma bola de tênis. Eu localizo a veia sem precisar de tipoia, está inchada o suficiente, assim que aplico, a medicação corre por suas veias e seus membros relaxam.

Ela não está dormindo, mas não está aqui nessa sala. Sua cabeça está caída, revelando um pequeno emaranhado no topo, me distraio com a fantasia de desembaraçar aqueles nós até que Jack volte.

- Madelaine precisa de medicação constante para conter seus delírios e para que não se machuque – ele dá um beijo na cabeça da esposa antes de virar a cadeira dela para a lareira – mas vou deixar os remédios que ela toma diariamente junto com os horários\, no escritório\, pela manhã.

- A próxima manhã?

- Sim\, eu preciso trabalhar\, Madelaine não pode ficar sozinha nem por um minuto\, só no tempo que atendi você no escritório foi suficiente para ela se machucar. Preciso de você amanhã ás sete.

- Sim\, claro.

Automaticamente estou calculando na minha cabeça quanto tempo levaria de manhã cedo para chegar até a casa. Claro que eu não viria pela cidade, através da montanha é mais rápido e mais econômico, só não sei se eu levaria um tiro dos seguranças por tentar me aproximar assim.

- Também vai precisar alimentá-la e limpá-la periodicamente. Mas não banho\, deixe isso comigo.

- Como preferir.

Jack dá mais algumas instruções que não tenho certeza se serão necessárias. Olhando para Madelaine, ela parece tão pacata, quieta e fácil lidar. O calor da lareira começa a se espalhar e quero me sentar ao lado dela, mas estou sendo dispensado.

Volto pelo mesmo caminho que entrei, atravesso a estrada, mas quando chego ao portão aceno com um “Até amanhã” e entro na floresta.

Existe uma pequena trilha logo depois que percorre o caminho do ponto de ônibus até a minha casa, uma cabana de madeira, velha e abandonada. Não era assim quando eu era criança, mas agora, o lugar foi atingido com força pelo tempo.

Empurro a porta com força para desprendê-la do chão. Está tudo aqui, móveis, geladeira, micro-ondas.  Abro cada uma das gavetas da cômoda da minha irmã, como se alguma coisa fosse aparecer ali magicamente.

Está vazio, assim como o guarda-roupas e a escrivaninha.

- Eu vou achar você\, Prya. Por favor\, esteja bem.

Então me vem um estalo, de repente, estou pensando em Madelaine e mais precisamente em Fentanil. Pode se aprender muita coisa andando nas ruas e mais ainda na prisão, uma delas é a aplicação de cada opioide e entorpecente, Fentanil só tem duas, você pode tratar uma dor ferrada, tipo cinquenta por cento do corpo queimado ou algo relativo, ou você usa para se drogar. Madelaine não parecia estar com dor.

Era difícil pensar que Jack alimenta o vicio da esposa com Fentanil, mas vai saber, esses ricos são doidos.

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