Quando abro meus olhos novamente, estou na minha cama e posso ver Astra no quarto, ele está abaixado no chão enquanto esfrega um pano branco na minha cadeira.
- Bom dia – minha voz sai rouca.
- Bom dia\, Maddy. Teve um dia agitado ontem? – ele mostra o pano sujo de terra.
- Jack?
- Ele já saiu\, você dormiu um pouco mais hoje\, deve ter ficado cansada ontem\, então hoje vamos pegar leve.
Astra se aproxima e me senta, então trás os remédios e a garrafa d’agua, ele aproxima os comprimidos da minha boca, eu a mantenho fechada e nego com a cabeça.
- Madelaine\, por favor – ele recua e se senta na cama.
- Eu nunca tomo e acho que você sabe. Podíamos continuar fingindo\, mas eu quero que saiba que se você contar ao Jack\, ele vai saber que você foi conivente.
- Você é muito esperta para uma esquizofrênica – ele ri e joga os comprimidos na água – então\, vou te arrumar e podemos tomar sol depois.
Eu sorrio para ele, conviver com Astra é fácil, seu senso de responsabilidade deturpado o faz esquecer das coisas que Jack diz sobre mim.
O sol está mais quente aquela manhã, parece realmente verão, mesmo sendo úmido e com um vento insistentemente gelado que vem da montanha. Sou colocada no gramado por longos minutos antes de Astra aparecer.
- Está queimando\, quer entrar?
- É mais fresco na floresta\, podemos andar por ali.
- Vai sujar sua cadeira de novo – ele se ajoelha na minha frente\, desde que ele beijou minha testa no dia em que ficamos sem luz\, tenho desejado sua boca na minha pele cada vez com mais força.
- Você limpou muito bem – ele nega com a cabeça\, mas sei que está pensativo e posso usar a meu favor – por favor Astra\, podemos ir pela trilha.
- Certo\, um quilometro apenas e depois voltamos.
Eu concordo. Ele dá a volta e para atrás da cadeira, então se inclina e suas mãos agarram os braços da cadeira, deixando seu rosto bem ao lado do meu.
- Sabe\, Maddy. Acho que você está se sentindo um pouco rebelde hoje – ele começa a andar\, me empurrando lentamente pelo gramado.
- Desculpe.
- Tudo bem\, eu gosto. Faz eu me sentir assim também.
- Vai me sequestrar? – eu torço fortemente para que aa resposta seja sim.
- Não\, eu sou um cara bonzinho – ele se endireita e quero chorar quando isso acontece\, Astra pega uma estreita trilha de frente para casa e começamos a subir – você gosta de cães?
- Eu gosto\, mas Jack não me deixa ter animais.
- Ele devia\, pode ser uma terapia.
O caminho continua por longos minutos, a trilha é nova, sei disso porque não está bem marcada como a que Jack me levou, eu gosto como as folhas cheias de orvalho tocam as minhas pernas e umedecem a calça. Então vejo, entre as árvores, uma casa simples de madeira com uma linda sacada na frente. Embora velha, a cabana tem seu charme único.
- O que é aqui?
- Vamos combinar de manter segredo?
- Sim\, claro.
- Eu moro aqui e quero te apresentar alguém.
Ele me deixa na frente dos degraus, então corre para a casa. Eu olho em volta, aqui deve ser afastado o suficiente da casa. Embora eu acredite que Jack não tenha câmeras ou microfones na casa, ou saberia sobre minhas conversas com Astra, mas eu me sentia vigiada, não poderia conversar livremente com meu cuidador.
Aquela casa, seria perfeita.
Fui surpreendida por grandes patas sobre mim e uma língua áspera me lambendo, acho que gritei, mas também estava rindo.
- Freya\, não. Deixe ela olhar para você primeiro – Astra puxa o cão para trás e o prende-o entre suas pernas\, o sorriso de Astra é a coisa mais linda que já vi em dias – essa é Freya – ele se abaixa mais e sussurra para a cachorra – e essa é minha amiga\, Maddy.
Gosto da forma como ele fala de mim, amiga ao invés de paciente, meu nome parece doce em sua boca.
- Ela é bonita.
- Sim\, era da minha irmã.
- Era?
Astra assente, eu sei que família é um assunto complicado pra ele, sempre que fala da mãe ou irmã o assunto acaba morrendo em poucas palavras.
Sinto uma gota no meu braço, olho para cima a fim de ver de onde caiu, não há tantas nuvens no céu, então deduzo que foi apenas das árvores.
- O que houve?
- Acho que vai chover – minto – é melhor me levar para dentro\, se olhar a cadeira\, Jack vai saber.
- Ah droga – ele corre e abre a porta\, Freya se agita\, ela quer segui-lo\, mas também quer ficar ali fora\, então enquanto ele me carrega nos braços ela pula ao nosso redor.
O cheio dele é tão reconfortante e amo quando me carrega no colo, posso sentir seu coração batendo e os músculos trabalhando, mesmo que dure pouco.
Sou colocada no sofá e ele sai para buscar a cadeira, a casa é escura e o teto baixo a faz parecer menor por dentro, está limpa e perfumada, não que eu tivesse dúvidas de que Astra era cuidadoso. Só não parecia a casa de um homem que vive sozinho, procurei por todo lado que meus olhos alcançavam até encontrar a única coisa masculina no ambiente, uma toalha de rosto sendo usada como pano de prato.
- Não parece que vai chover\, vamos esperar alguns minutos.
Meus olhos param novamente, na parede na minha frente. Eu reconheço a pintura sobre a escrivaninha, é minha.
- Eu espero que não se importe\, é apenas emprestada\, eu prometo.
- Você pode ficar com ela\, mas devo informar que não vale muito.
Astra se senta na poltrona ao lado do sofá e precisa afastar Freya algumas vezes para que ela não suba nele ou em mim. Eu não me importo, minha mente está longe, estou escolhendo as minhas palavras e quando tudo fica quieto finalmente, eu tenho que falar.
- Astra? Precisamos conversar.
***Faça o download do NovelToon para desfrutar de uma experiência de leitura melhor!***
Atualizado até capítulo 63
Comments
Gislene Alves
Posta mais autora,tá muito interessante!
2023-06-18
0