Capítulo 12

Madelaine não tem necessidade de ser medicada nos outros dias, então aplico apenas o Clozapina, pesquisei esse também, o único antipsicótico na lista de medicação.

Sei que ela está fingindo engolir os comprimidos de manhã, mas quando Jack me pergunta, eu digo que ela dormiu a manhã toda.

Não é verdade, nós passamos horas no Sol, ás vezes até suas bochechas ficarem coradas e eu sentir calor. Gosto as sensação. Depois a coloco na frente da lareira, já que a casa está sempre fria e leio para ela.

Os livros da biblioteca estão todos em alemão, então ela precisa ter paciência para que eu traduza frase por frase, ás vezes ela não me entende, imagino que o sotaque ainda seja um problema, mas tudo bem, sua voz arrastada pelo excesso de medicação também atrapalha o entendimento, mas temos melhorado nisso.

- Que tal um pouco de poesia?

Maddy torce o nariz, ela acha que eu não noto suas expressões.

- Não sei o que você quer que eu leia.

Ela fixa o olhar do lado de fora e na chuva que começou a cair, não é fraca nem bonita, uma tempestade com raios e trovões tão intensa que nem mesmo as árvores eu consigo enxergar.

- Quer conversar?

- Como conheceu o Jack?

- Ele anunciou a vaga de cuidador no centro comunitário\, é perto de um escritório que eu costumo ir.

- Advogado? – eu olho para ela\, não sei se quero mentir e enquanto penso ela completa – agente da condicional? – aperto os lábios e desvio o olhar\, não esperava ser pego em uma cama de gato – A.A.?

- Não\, eu não sou viciado.

- Então é a condicional.

- Madelaine\, você é uma coisinha muito astuta.

- É o primeiro ex presidiário que eu conheço e você é uma decepção – ela sorri e me olha de lado.

Espero até que o som de um trovão pare.

- Esperava que eu fosse mau?

- Seria útil – ela dá de ombros.

- Seu marido sabe?

- Não sei. Ele sabe? – agora ela não está sorrindo\, está me encarando\, como se esperasse uma confissão\, conheci esse olhar há muitos anos\, mas dessa vez\, eu não sei o que tenho que confessar.

- É o que estou te perguntando.

Ela ainda está me olhando, tornando a conversa muito mais incomoda. Sou salvo por outro trovão e um clarão intenso de relâmpago que vai embora junto com todas as luzes da casa. Não fica completamente escuro, mas é o suficiente para assustar Maddy.

- Astra?

- Tá tudo bem\, deve ter sido uma carga de energia\, os fusíveis devem ter queimado ou a chave de força caiu\, eu vou dar uma olhada.

- Não me deixa aqui sozinha.

- Não dá pra descer a cadeira\, mas eu volto logo – dou um breve beijo na sua testa e não sei por que fiz isso\, ela estava com medo e eu apenas agi.

Droga.

Eu a deixo na biblioteca, atravesso o salão de entrada e busco a porta que dá para o porão, não está trancada, mas quando a abro o breu completo me assusta. Não é do escuro que tenho medo, só não quero cair da escada e quebrar a perna, tateio a parede até encontrar o corrimão, o aperto e desço um degrau por vez.

- Como vou achar a caixa de força aqui?

Continuo explorando a parede com as mãos apertas, uma depois a outra, sei que está levando muito tempo, mas eu não tenho como encontrar a caixa de outra maneira. Respiro aliviado quando encontro o metal frio.

Meus olhos se acostumaram um pouco com a escuridão, abro a caixa e passo os dedos de leve, o disjuntor realmente está desarmado. Eu levanto todos os três que estavam para baixo e a luz acende.

Isso é estranho.

Olho para trás e vejo uma infinidade de telas pintadas, uma sobre o cavalete, tintas expostas. Me aproximo um pouco, é assinado com o nome de Maddy, são pinturas lindas, mas me passam uma tristeza enorme.

Uma delas chama mais a minha atenção, parece uma praia, está escuro e chovendo, ao longe sombras de uma cidade e um parque de diversões, o único ponto de cor sendo a roda gigante. Em primeiro plano, uma mulher de costas com um casaco vermelho de chuva. Parece saudade.

Não é uma tela grande então a pego e levo para cima.

- Olha o que eu achei lá embaixo\, você quem pintou?

Maddy olha para a tela em minha mão e estende a sua até tocar as pinceladas sutis.

- Eu... – uma respirada profunda.

- Você é muito boa\, talvez Jack me deixe subir algumas coisas\, vai te ajudar a melhorar.

- Não acho que ele concordaria com isso.

- Vamos tentar quando ele chegar. Quando os dias de sol acabarem\, vou ter que te distrair de alguma forma.

Maddy não responde, ela está com o olhar distante outra vez, eu não consigo entender como alguém capaz de pintar algo tão preciso e expressivo, se torna a apatia em pessoa.

Me lembro de ter beijado a sua testa e quero me desculpar por isso, mas não parece o certo. Na verdade, o certo pode ser abraçá-la apertado e dizer que ela vai ficar boa, que esquizofrenia é crônica, mas tem muitas terapias para isso, talvez Jack não saiba, eu posso dizer isso a ele.

O momento passa e é quase hora da medicação.

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Comments

Valcicleia Ribeiro

Valcicleia Ribeiro

se ele insistir em ajudar ela, Deck vai matar ele, ou prejudica-lo

2023-08-05

1

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