Capítulo 3

Ando vagarosamente pelo corredor, todas as luzes do andar estão apagadas, por sorte conheço aquela casa como a palma da minha mão e não tropeço em nada até chegar na escada. É quando eu ouço ruídos estranhos, parece o som de alguém se engasgando.

A primeira coisa que eu penso é que ele está ganhando um boquete como eu planejei fazer, só que outra pessoa. Paro por um momento na escada.

Calma, Maddy. Ele pode estar vendo tv, não tinha motivos para desconfiar de Jack, ele era um ótimo marido, meu ciúme era fruto de um relacionamento abusivo que tive na adolescência e tinha mais a ver com as minhas próprias inseguranças.

Desço as escadas bem lentamente, deslizando como um fantasma pelo carpete liso. Há algo pinicando minha nuca, uma sensação de que eu devia voltar para a cama, tomar o remédio e dormir, mas eu não podia, não sem saber.

Paro quando desço o último degrau e presto muita atenção, os sons de engasgo pararam, agora ouço coisas metálicas batendo. Levo algum tempo para perceber que vem do jardim de inverno.

Eu odeio aquele lugar, é alto, de vidro e cheio de plantas escuras. Além disso, sempre senti como se o local fosse assombrado, me sentia péssima indo lá e por mais que Jack adorasse ver as estrelas sentado ali no chão, eu jamais entrei sem ele.

Meu coração acelerava uma batida a mais a cada passo eu dava mais perto da porta, eu não queria, mas meus pés me levavam mais para perto. A porta antiga de madeira é toda adornada com vitrais vermelhos em formato de flores e alguns verdes para as folhas, é linda e eu poderia só olhar para ela.

Ouço gemidos inconfundíveis do lado de dentro, muito parecidos aos que Jack faz quando transa comigo, porém, mais raivosos e guturais. Estendo a mão e empurro a porta, ela desliza silenciosa e sou arrebatada com a cena mais grotesca que já vi na vida.

Jack está sobre uma cadeira reclinável, parecida com a de um dentista, ele tem algo na mão, que usa para serrar alguma coisa, mas não está sozinho, na frente dele e presa pelos pulsos na cadeira tem uma mulher.

Estou aterrorizada e uma névoa desce sobre meus olhos, como se eu realmente estivesse sonhando, meus pelos se arrepiam e meus ouvidos entopem. Não é real. Não. É. Real.

- Jack?

Levo alguns segundos para perceber que essa é a minha voz, eu quero correr, mas não posso, não sinto o chão abaixo dos meus pés. Ele vira o rosto para mim lentamente e aperta os lábios, como se tivesse acabado de derrubar um sanduiche que queria muito comer.

- Ah\, Maddy. Por que não está dormindo?

Sua voz é diferente, mais seca do que o normal, quase não a reconheço, meus olhos estão fixos na mulher sobre a cadeira, seu cabelo loiro caindo para trás e adquirindo tons vermelhos, agora percebo o que ele estava fazendo. Escalpelando a pobre moça.

- Quem é ela? – minha voz treme.

Jack dá de ombros e alcança uma pilha de roupas sobre a bancada, ele remexe e puxa um documento de identidade.

- Cecil Balthazar.

- Jack...

Ele suspira, quase não posso ver mais além das minhas lágrimas, então percebo o que está realmente acontecendo. Jack não é quem diz ser, ele mata e certamente não é a primeira vez.

- Você nunca devia ver isso\, Madelaine.

Então, como um estalo, uma voz que diz “corra” na minha cabeça, grita mais alto. Desperto do estupor e estou plenamente alerta.

Corro o mais rápido que posso e tento abrir a porta da frente.

Que burra, Maddy.

O alarme dispara, mas não tem ninguém por perto para ouvir, corro escada acima quando o vejo saindo do jardim de inverno, vou até o quarto e bato a porta, tranco e procuro pelo meu celular. Jack não tem pressa, ele para para fechar a porta com um estrondo e desativa o alarme.

Meu celular está na cabeceira da cama, mas não tem sinal, por mais que eu o levante, nem uma barrinha aparece.

- Droga\, droga\, droga.

Mas o telefone fixo toca, claro, é a companhia de segurança. Minha única saída, abro a porta do quarto, preciso chegar até o escritório antes dele, eu corro o máximo que eu posso sem olhar para os lados e até chego no escritório, mas o ouço no meu encalço.

Antes que eu alcance a mesa sou atingida na cabeça, minha visão fica turva e eu caio. Ainda posso ver as botas dele sujas de sangue, ele se aproxima e ouço o telefone sendo tirado do gancho.

- Alô? Sim\, eu acabei deixando meu cachorro para o lado de fora e fui abrir a porta para ele entrar – ele usa a voz simpática que sempre usou comigo – desculpe\, a senha? É beterraba. Certo\, obrigado pelo bom trabalho.

Ele desliga sem que nem consiga gritar por socorro, tento me virar, mas é impossível. A última coisa que vejo é sua bota descendo sobre minha cabeça.

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Comments

Noemia Santos

Noemia Santos

amo esse tipo de história,,não nos decepcione,,,""Avante"" vc tem o poder da escrita e ""AARRASSEEEE""" mostre a todos o que vc e capaz de mostrar em seus livros 📚 📚...😍😍😍😍🤗🤗🤗😏😏😏

2023-06-21

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