Heloísa
O quarto está completamente escuro, e do nada no canto da parede eu vejo uma coisa se clareando aos poucos, e logo mostra ser fogo. Eu Me afasto encostando o meu corpo totalmente na cabeceira da cama.
Vejo o rosto do meu pai entre as chamas.
— olha o que você fez comigo, eu vou fazer o mesmo com você.
Começo a gritar, e desperto do sonho. Olho para o canto onde eu vi ele, mas não há nada lá. Mas mesmo assim com medo, eu corro para o banheiro e me tranco.
A voz dele não sai da minha cabeça eu começo a gritar para ele parar.
Até eu ouvir a voz do chefão perguntando o que está acontecendo eu respondo para ele que só saio daqui com a certeza de que meu pai não está aqui.
Pouco tempo depois ele diz que não tem nada na casa, então eu abro a porta e vejo ele ali como o meu protetor, não sei porque mas eu sinto que com ele estou protegida.
Então eu faço a burrada de abraçá-lo, mas o coração de gelo não sabe o que é um abraço, bom, eu também não sei o que é um abraço de um homem.
Peço para ele sair para me deixar sozinha, e assim que ele sai eu me deito na cama de novo. Basta fechar os meus olhos para ver a imagem dele novamente na minha cabeça.
Resolvo que não dá para dormir, talvez por ter sido recente isso está me assombrando.
Então me sinto na porta da sacada, e fico vendo o dia clarear e eu sem pregar os olhos.
Logo de manhã, escuto o barulho da porta. E nem preciso olhar para trás para saber que é ele.
Aí ele veio com a conversa de alguém para ficar comigo, tudo papo furado, certeza que está arrumando uma babá para mim não fugir.
E eu nem em sei porque eu ainda estou presa, aqui sendo que eu não fiz nada para ele.
Ele sai e eu vou para o banho, termino a minha higiene, me troco e desço para ver quem é a minha guardiã.
Sorte minha que é a Larissa, menina que eu conheci no baile. Assim que ele sai ela me chama para sentar na mesa e tomar café.
— o chefe mandou tomar conta de você, serei sua no tempo que ele não estiver.
— esse cara é um maluco, ele pegou a minha máquina de fotografia, me deixou presa aqui, e eu não posso nem reclamar.
— você não está presa aqui Helô, podemos sair da casa vamos dar uma volta pela comunidade para você conhecer o morro do alemão.
Nossa a felicidade bate na porta, vou até dançar a dança da alegria.
Terminamos o café e ela mexe com a mão mandando a gente ir logo.
Saímos da casa dele e começamos a caminhar por algumas ruas e becos do morro.
Ela vai me mostrando onde tem cada coisa, e me explica as zonas que são mais perigosas do que as outras.
Ela também vai me explicando sobre as leis e as punições que as pessoas levam aqui se não obedecer.
— Então o que o seu chefe estava fazendo no meio da rua, era dando uma punição no garoto?
— exatamente, depois de algumas denúncias que foram feitas para ele, ele resolveu ensinar para o moleque que aqui no morro não se rouba.
— Lá em São Paulo não tem isso não, o ladrão passa pega o celular do ouvido das pessoas e vão embora, ninguém nem vê.
— pode ser que em algum lugar também tenha leis, essa lei se aplica aqui no morro. Cada morro tem o seu chefe, algumas leis são iguais e outras não.
Passamos por um beco onde eu escuto choro de uma criança, e como as janelas estão viradas para esse beco, eu boto a minha cara para olhar, vejo um homem espancando uma criança que parece ter cinco anos.
— ei seu covarde, por que você não bate em alguém do seu tamanho?
— quem você pensa que é? sai dae Zé povinho, isso aqui é só uma lição de pai para o filho tá ligado, você não tem nada a ver com isso não.
A Larissa pega no meu braço e olha pela janela.
—tá batendo no Vitinho de novo? Essa é sua segunda vez, o chefe vai saber disso.
Larissa coloca o braço na minha frente tipo para me proteger, e o cara sai da casa.
— vocês são duas putäs, seu chefe não manda dentro da minha casa, é melhor você ir embora antes que eu dê uma surra de picä nas duas.
— tem certeza que vai afrontar o chefe?
Olho para de trás do homem, e o menino está com o rosto todo vermelho, me abaixo e chamo ele para vim, ele vem correndo.
— oi pequeno, cadê a sua mamãe?
— está trabalhando. — ele fala entre o choro.
O homem faz movimento para vim para cima da gente mais a Larissa saca uma arma e manda ele ficar de boa onde ele está.
— eu vou te pegar vadiä pode se ligar nas ideias, eu vou acabar contigo.
Larissa pega o telefone e liga para o chefão, e diz o que está acontecendo aqui.
Minutos depois duas motos aparecem, e ele desce de uma e o outro cara todo tatuado desce da outra.
Os dois olham para mim, e depois olham para o menino que está grudado na minha perna.
— me explicar direito aí Larissa, o que aconteceu?
— ele estava espancando o menino, eu vi tudo.
— a Helô meteu a cara para dentro da janela e viu ele batendo no Vitinho.
O chefe me olha de um jeito divertido, já o amigo dele falta me comer com os olhos. Esse olhar dele me dá muito medo.
— vamos levar ele para disciplina, liga para a mãe dele e diz que é para ela vim cuidar do filho dela. E você — ele fala apontando para mim. — tenho que conversar contigo.
Só aceno com a cabeça, e o cara é levado por alguns homens que estavam ali. Minha curiosidade bate forte, eu quero ver como é a disciplina deles.
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Atualizado até capítulo 87
Comments
Ivanilde T. Serra
Ele com certeza lembrou que ela é uma maria fifi e como conheceu
2024-12-24
1
Jucileide Gonçalves
Heloísa ainda vai arrumar problemas com essa curiosidade exagerada.
2024-12-16
1
Gilva Vanelli
Cuidado que a curiosidade matou o gato 😝
2024-11-22
0