Capítulo 17

O dia amanheceu e trouxe consigo o sol. Seus raios atravessavam o vidro e as frestas de madeira da janela do quarto de Júlia, invadindo metade de sua cama. Ela começou a sentir um pequeno ardor nas pernas e no rosto, que se encontravam sem o lençol.

Incomodada com a claridade, Júlia franziu a testa e os olhos. Passou a mão nos olhos e acordou, dando de cara com a janela. Pegou o celular que estava em cima da mesinha do criado-mudo para verificar a hora: 7:00 da manhã. Ela nunca acordava tão cedo, mas não queria continuar dormindo, o sono se dissipou.

...

Eduardo também acordou cedo. Estava tomando café da manhã na enorme mesa de madeira rústica, como sempre com uma variedade de alimentos: frutas, pães, bolos, sucos e café. Júlia se aproximou um pouco sem jeito, pois não esperava que ele estivesse sentado à mesa. Cogitou até em voltar, mas não seria nada bonito agir como uma adolescente nessas alturas do campeonato.

Júlia - Bom dia!

Pela expressão que ele fez, Eduardo também não esperava que ela acordasse tão cedo.

Eduardo - Bom dia!

Ele pegou um tablet que estava ao seu lado na mesa e abriu para ler as notícias atualizadas do dia. De vez em quando, se concentrava em seu café. Júlia percebeu que ele não comia pela manhã, somente tomava café preto.

Júlia - Não come nada? Somente café?

Perguntou ao mesmo tempo em que tirava um pedaço de bolo de milho.

Eduardo - Somente café mesmo. Não costumo comer carboidratos pela manhã.

Respondeu sem tirar os olhos do tablet. Ela sorriu.

Júlia - Entendi, quer manter o corpo em forma!

Eduardo - É!

Fica um silêncio no ambiente. Dava para escutar as funcionárias mexendo em panelas na cozinha e o som dos pássaros lá fora, especialmente de um bem-te-vi que cantava repetidamente.

Júlia - As crianças foram para a escola?

Eduardo - Sim, cedinho!

Ela coloca um pouco mais de café na xícara e toma.

Júlia - Vou à cidade comprar algumas coisas que estou precisando, principalmente repelente. Os mosquitos estão me matando. Já estou toda marcada.

Nesse momento, ele a olha de relance e constata que a pele dela está vermelha com alguns calombos no braço e rosto.

Eduardo - Será que você tem alergia?

Júlia - Creio que não. Vai passar!

O celular dele começa a tocar, ele apenas visualiza quem era e deixa sobre a mesa virado. Chama mais algumas vezes, mas Eduardo não quis atender.

Júlia - Como estou indo para a cidade e provavelmente irei demorar, posso te fazer um pedido?

Ele a olha.

Eduardo - Qual?

Júlia - Posso pegar as crianças na escola hoje?

Ele continua olhando para ela e demora um pouco a responder, parecendo que está pensando se essa seria uma boa ideia ou não.

Júlia - Prometo que terei cuidado, eu juro! Palavra de escoteira!

Ela cruza dois dedos das mãos e os beija prometendo. Ele faz uma menção de sorrir, mas se contém e amassa os lábios de leve.

Eduardo - Tudo bem!

Júlia - Aff, eu sabia que não iria deixar!

Ela acaba respondendo por impulso, sem prestar atenção que ele tinha concordado.

Eduardo - Eu disse sim. Pode ir pegá-los na escola.

Júlia - Sério?

Até ela estava surpresa que Eduardo havia concordado.

Eduardo - Só antes de ir, me envie uma foto sua para o meu celular. Por questão de segurança, a escola exige a identificação do responsável que vai buscar as crianças.

Júlia - Claro, qual seu número?

Ela tira o celular do bolso e digita o número dele salvando. Logo em seguida tira uma selfie ali mesmo e envia para o Eduardo que recebeu no mesmo segundo com o bipe no aparelho, mas ele não abriu para ver.

Júlia - Perfeito, já vou indo!

Animada e sorridente, pega a bolsa e coloca no ombro, levanta-se e sai do cômodo, passando pela a sala de visitas abrindo a porta e saindo para o alpendre. Olhou para o céu percebendo que as nuvens estavam escondendo o sol, de repente o tempo esfriou, com certeza iria chover.

Júlia - Bom dia!

Cumprimentou animada alguns peões que passavam em frente ao casarão, desceu os degraus rapidamente, uns pingos de chuva chocou em seu rosto, que a fez correr e entrar no seu carro, depois saiu.

Eduardo que continuava sentado à mesa pegou o celular e abriu na foto dela, ficou olhando fixamente durante um longo tempo. Emília se aproximou e ficou parada ao lado dele.

Emília - Senhor! Seu Eduardo?

Ela tocou no ombro dele de leve, que se assustou e derrubou o celular na mesa.

Eduardo - QUE SUSTO GAROTA! O QUE VOCÊ QUER?

Perguntou quase que gritando todo desconcertado e com raiva ao mesmo tempo por ter sido pego de surpresa e desprevenido.

Emília - Os veterinários já chegaram, senhor!

Eduardo - E precisa você me assustar assim, menina?

Indagou ele se levantando e guardando o celular no bolso da calça jeans.

Emília - Mas eu...

Eduardo - Tá, tá! Me deixe ir antes que você invente de aparecer debaixo da mesa e me pregar outro susto!

Ele pegou uma capa de chuva transparente e vestiu, saindo com os veterinários para ver os animais. Emília deu de ombros e pegou um pedaço de bolo, correu para a cozinha.

Cozinheira - As meninas já vão limpar o casarão, ainda tem alguém na casa, nos quartos?

Emília - Não, não tem mais ninguém! Eles podem ir limpar!

Respondeu sentando-se em cima da mesa para comer o bolo e ficar observando a mulher depenar, limpar e cortar dois frangos caipiras.

Mulher - Escuta, Emília! Que rolo tem a dona Júlia com o seu Eduardo? Tá todo mundo comentando na fazenda que ela era uma antiga namorada dele.

Emília - Eu não sei ainda, mas quando eu souber não se preocupe que não irei contar a nenhuma de vocês bando de fofoqueiras. (risos)

Mulher - Você deveria! Depois fica pedindo para eu fazer biscoitos de polvilho, né sua danadinha!

Emília - Morram de curiosidade, então! Não direi nunca!  (risos)

A garota dá um pulo da mesa para o chão e sai correndo deixando a mulher rindo.  Emília entra no seu quarto, senta-se na cama de pernas cruzadas. Pega as revistas que Júlia tinha emprestado e começa a folhear com interesse e curiosidade.

Emília - Nossa que legal!

A garota coloca a mão no queixo e fica pensativa como se estivesse sonhando acordada. Pisca os olhos saindo de seus pensamentos e volta a folhear até chegar nas páginas que Júlia aparece.

Emília - Queria saber francês para conseguir ler a entrevista dela!

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