Capítulo 16

Sofia acordou e procurou o pai. Não o encontrando, desceu para o primeiro andar. A sala estava somente com uma luz baixa da lareira.

Sofia - Papai?

Ela olha para os lados e se aproxima da lareira. Ela gostava muito, pois lembrava o Natal. Abre as mãos sentindo a fuligem. Sofia sorri e amassa com os dedos, que se deterioram e somem no ar.

Ela ajeita a manta no pescoço e adentra o corredor dos quartos de visitas. Gira a maçaneta e dá de cara com Júlia chorosa deitada na cama, com um braço para fora batendo os dedos no piso gelado.

Sofia - Tá chorando?

Júlia - Não!

Responde, limpando o rosto e sentando-se na cama.

Sofia - Mas tem lágrimas nos seus olhos e estão tão vermelhos!

Júlia - Talvez tenha chorado um pouquinho! (risos)

Sofia - Está dodói?

Júlia - Não, amor! Senta aqui!

Ela bate a mão no colchão, chamando Sofia, que entende e sobe na cama.

Júlia - Você realmente gosta dessa mantinha rosa, né?

Sofia - Muito, foi a vovó quem me deu!

A pequena se ajoelha na cama para ficar ao alcance de Júlia e passa a manta no rosto dela, limpando as lágrimas.

Sofia - Não chora, Júlia!

Júlia - Não vou mais chorar!

Ela se levanta da cama e entra no banheiro, lava o rosto no lavatório e retorna para o meio do quarto já sorrindo.

Júlia - Não estou mais chorando, viu?

A menina sorriu e só assim teve coragem de pedir o que realmente veio fazer no quarto.

Sofia - Queria leite na mamadeira!

Júlia relaxa os braços e assopra, sorrindo com uma expressão serena.

- Venha comigo, pequena!

Ela se aproxima da cama fazendo Sofia pular nos braços dela.

Júlia - Vamos tomar leite, então!

Ela sai do quarto levando a menina nos braços até a cozinha e a coloca sentada em cima do balcão.

Júlia - Já sei, mamadeira, né? Tô ligada já!

Sofia - Sim, mamadeira!

Júlia abre o armário, pega a mamadeira e lava. Depois, pega o leite na geladeira e enche até a metade.

- Prontinho, pode mamar à vontade!

As duas sorriem. Emília logo se junta a elas, de pijama e touca na cabeça.

Sofia - Olha a cabeça da Milia! (risos)

Emília - O que tem a minha touca, gente? (risos)

Júlia - Quer leite?

Emília - Hum... Sim!

A babá coloca um pouco de leite fresco no copo e puxa a banqueta, sentando-se próxima ao balcão junto com elas.

Emília - Você sabe que seu pai não quer que você tome mais na mamadeira, né, Sofia?

A menina dá de ombros.

Emília - Você é muito espertinha em ir pedir à dona Júlia! (risos)

Sofia - Gosto de leite!

Júlia - Tome seu leite tranquilamente! Então, Milia, me conte sobre sua vida. Trabalha há muito tempo aqui na fazenda?

Emília - Dois anos!

Júlia - Qual é a sua idade?

Emília - Vinte e dois anos!

Elas iniciam uma conversa sobre Emília. Sofia se aconchega no colo de Júlia e acaba adormecendo com a mamadeira na mão.

Emília - Dormiu!

Júlia - Eu a levo para o quarto!

Emília - Tudo bem!

Júlia - Boa noite!

Emília - Boa noite, senhora!

A babá se recolhe para os seus aposentos e Júlia sobe com Sofia, a coloca na cama e a cobre com os lençóis. Ao sair do quarto da menina, ela abre a porta para ver se Pedro estava dormindo. Constatando que as crianças se encontravam bem, ela desce e retorna para sua suíte.

Fica impaciente olhando pela janela imaginando o que Eduardo estaria fazendo agora com Carina. Balança a cabeça tentando afastar esses pensamentos que insistem em sabotá-la.

Júlia - Aff, para com isso Júlia, você vai pirar assim!

Ela se auto punia.

Júlia - Preciso fumar!

Ela pega um cigarro na bolsa e acende com o isqueiro, sai do quarto e da casa, sentando-se na varanda do alpendre. Olha fixamente a fina chuva se chocando nos degraus. Fecha os olhos, conseguindo sentir o vento soprando frio em seu rosto. Podia ouvir o barulho dos grilos em conflito. A vida no campo era tão calma, ao mesmo tempo vazia e misteriosa. Uma mistura de vários sentimentos que se funde perfeitamente com o oposto, que era basicamente a Júlia.

Ela traga o cigarro com os olhos fechados e solta a fumaça no ar de satisfação. Aquele método tristemente tinha o poder de deixá-la mais calma.

Para surpresa de Júlia, Eduardo retorna para a casa. Ele estaciona mais à frente, embaixo de uma árvore, e desce da caminhonete. Caminha devagar, sem medo dos pingos da chuva, apenas seguindo e sentindo o frio em contato com a pele.

Sobe as escadas dando de cara com Júlia sentada na cadeira de balanço fumando. Eduardo fica parado alguns segundos olhando para ela. Júlia apenas vira o rosto para o lado fitando o nada.

Então ela se surpreende com a aproximação dele, que pegou o cigarro na boca dela e amassou com a mão.

Júlia - Por que fez isso?

Eduardo - Porque essa merda não presta!

Júlia - Eu gosto, me acalma!

Eduardo - Não fume perto dos meus filhos, Júlia!

Nesse momento, ela olha nos olhos dele.

Júlia - Claro, eu nunca faria isso!

Mais uma vez fica um espaço longo entre as falas.

Eduardo - Não só por eles, mas por você também.

Júlia - Por mim?

Eduardo - Sim! Isso faz mal, não quero que fique doente!

Por essa, Júlia não esperava. A tensão estava aumentando, então ela desviou o olhar dele e levantou-se.

Júlia - Vou dormir!

Ela, meio sem jeito, errou até a porta, tentando entrar em uma que estava fechada há anos. Ele balançou a cabeça e Júlia parou, virando para Eduardo que, de repente, ficou sério.

Eduardo - Vamos entrar, está tarde!

Júlia - Sim, vamos!

Ele abriu a porta principal e entraram. Júlia se aproximou da lareira e ajoelhou, abrindo as mãos para esquentá-las bem perto.

Eduardo - Tenha uma boa noite!

Júlia - Você também!

Ela respondeu sem virar para ele, que logo escutou as pisadas de Eduardo subindo os degraus de madeira que rangia. Júlia fecha os olhos sentindo uma descarga de adrenalina, pois a tensão sexual entre os dois estava no nível demasiadamente alta.

Júlia - Ai meu Deus!

Ela levanta-se rápido indo para seu quarto. Já Eduardo, entrou direto no banheiro e tomou um banho gelado para acalmar os ânimos do seu corpo que se encontrava em brasa. Estica os braços e apoia as mãos na cerâmica enquanto deixava o jato forte da água do chuveiro bater fortemente no seu rosto e escorrer para o resto do corpo.

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