Capítulo 10

Júlia estava começando a se adaptar com o campo e, consequentemente, se apegando às crianças. Nos últimos dias, Eduardo viajou novamente a trabalho e hoje retornaria. As crianças chegaram da escola e foram direto tomar banho, depois desceram para almoçar.

Eles colocaram um filme para assistir depois do almoço na sala, e Júlia fez companhia. Já era final de tarde quando Eduardo chegou de viagem, Sofia foi a primeira que saiu correndo e pulou nos braços do pai.

Eduardo - Que saudades, meu amor!

Disse colocando a menina no chão novamente, pegando na mão dela e entrando na sala arrastando a mala.

Pedro - Papai, você voltou?

Disse alegremente ao ver o pai. Eduardo deu um beijo no topo da cabeça do filho e olhou para Júlia que estava assistindo o filme.

Eduardo - Oi!

Júlia - Oi!

Eduardo - Vou tomar um banho, mas depois gostaria de conversar com você. Pode ser?

Júlia - Claro, eu espero!

Ele apenas consentiu com a cabeça e subiu as escadas para o quarto. Pedro e Sofia continuaram vidrados no filme. Vinte minutos depois, Eduardo retornou à sala e acenou com a mão, chamando Júlia para acompanhá-lo até o escritório.

Eduardo - Fique à vontade!

Júlia - Obrigada!

Ela puxou a cadeira perto da mesa e sentou-se. Eduardo abriu a janela e ficou de braços cruzados com os olhos fixos na área verde de inúmeras árvores frutíferas que se reservavam aos fundos do casarão.

Júlia - Acho que sei o que quer falar comigo.

Eduardo - Ótimo, assim evita que o assunto se estenda.

Júlia - Eu...

Eduardo - O que você veio fazer aqui?

Júlia - A Sílvia me pediu para ficar um tempo com as crianças.

Eduardo - Quando foi isso? Você nem estava aqui quando ela faleceu.

Júlia - Só me deixe cumprir o desejo dela, tá? Depois eu vou embora e você nunca mais precisará me ver novamente.

Eduardo - Tudo bem, mas espero que cumpra e dê o fora da vida dos meus filhos. Não quero você por muito tempo com eles.

Júlia - Me acha um monstro, né?

Ele não respondeu, apenas continuou calado, olhando através da janela. Dava para ouvir os cantos dos pássaros sobrevoando e ecoando entre uma árvore e outra. Uma sensação absurda de paz e vida era transmitida pelos últimos raios de sol do dia, refletindo no rosto melancólico de Eduardo.

No fundo, ele queria mesmo era sentir como era estar tão perto dela e sozinhos. Era como um teste rápido para saber se os sentimentos ainda continuavam aflorados. E ele não passou no teste, pois o simples fato da presença de Júlia o incomodava de uma forma absurda.

Todos os sentidos dele estavam aguçados perto dela. Sentia o cheiro e o calor corporal de Júlia de longe. Era como se ela fosse um ímã que tentava a todo custo envolvê-lo nela.

Eduardo - Que droga, eu ainda a amo!

Ele falou em pensamento e fechou os olhos, sentindo o vento frio chocar em seu rosto.

Eduardo - E quanto ao outro assunto...

Ela o interrompe.

Júlia - Não quero falar nesse assunto agora. Na realidade, não quero esclarecer nada.

Eduardo - Por que não? Te machuca lembrar do aborto que fez?

Júlia - O que realmente te disseram?

Eduardo - Isso não importa agora!

Júlia - Talvez não, já que você me odeia, né?

Eduardo - Você foi covarde e egoísta. Por que não me contou? Achou mesmo que eu fugiria das minhas responsabilidades? Nem sequer pediu minha opinião e tirou a criança sem dó. Não atendeu minhas ligações e desapareceu.

Ela se levanta, irritada, e aponta o dedo para ele com uma certa agressividade.

Júlia - Olha aqui, preste atenção no que eu vou dizer! Você é um idiota e só conhece metade da história. Não faz ideia do quão difícil foi para mim enfrentar essa situação sozinha. Você não conhecia meu pai nem um terço para saber do que ele era capaz. Agora, continue acreditando na sua verdade, que todos na cidade contam, que eu tomei um chá abortivo que a cigana me deu. Se isso faz você se sentir melhor, então que seja.

Eduardo - Ah, para com o drama!

Júlia - Drama?

Ela sorri ironicamente, balançando a cabeça.

Eduardo - Eu nunca vou te perdoar por ter matado nosso filho!

Ao ouvir isso, Júlia se aproxima e dá uma bofetada no rosto de Eduardo, que fecha os olhos sentindo a dor.

Júlia - Eu te odeio!

Ela sai do escritório chorando, pega a chave do carro no quarto e passa pela sala, chamando a atenção de Emília, que estava com as crianças assistindo um filme.

Emília - Senhora?

Pedro - O que foi?

Pergunta o menino quase dormindo.

Emília - Nada, continuem assistindo.

Eduardo passa pela sala quase correndo, saindo da casa, mas Júlia já havia partido de carro.

- Droga!

Ele xinga e leva as mãos à cabeça. Nesse mesmo instante, o celular dele começa a tocar.

Eduardo 📱 - Alô! Oi...

Ele se afasta, caminhando em direção aos estábulos, finaliza a ligação e entra para ver a égua prenha na cocheira. Júlia chegou em um bar na cidade e entrou. Algumas pessoas a olharam como se a reconhecessem de algum lugar, mas ela sabia que era pura coincidência. Sua aparência havia mudado drasticamente.

Júlia - Um coquetel de frutas vermelhas com álcool, por favor!

Barman - É pra já!

Ela observa todo o ambiente e nota um homem a encarando. Hoje não queria ninguém. Só queria ficar sozinha, bebendo tranquilamente. Mas pelo visto, a noite tinha grandes chances de acabar de uma maneira totalmente diferente e inesperada.

Isso não era nenhum problema, já que era solteira e dona de si. Não havia motivo para se arrepender de nada.

Júlia - Sou solteira!

Ela acaba falando em voz alta, e o barman escuta e sorri.

Júlia - Outro coquetel!

Ele rapidamente o faz e o serve.

Júlia - Estou metida em um grande erro, sabia?

Barman - Todos estamos!

Júlia - Não, você não entendeu, e eu vou te explicar. Apenas me ouça e serei generosa na gorjeta.

Barman - Estou a todo ouvido, e não é pela gorjeta!

Eles se encaram e sorriem. Depois, Júlia começa a desabafar, colocando tudo o que queria para fora. O rapaz a escuta com interesse, parando algumas vezes para atender outros clientes, mas retornando para perto dela e dando toda a atenção.

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Comments

Ana Maria

Ana Maria

isso não é pai é um monstro

2024-04-04

5

Gedna Feitosa Gedna

Gedna Feitosa Gedna

Acho que ela tá querendo só desabafar.

2024-03-19

0

Zeca Natividade

Zeca Natividade

ninguém merece um pai carrasco desse tipo. coitada, ele destruiu a vida dela

2024-03-12

7

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