Eduardo chega à fazenda, estaciona debaixo de uma árvore e nota um carro em frente ao casarão. Fica olhando por um instante e entra na casa. As luzes estavam aparentemente apagadas, somente a do abajur da sala estava iluminando um pouco aquele espaço.
Escuta as vozes dos filhos e sobe as escadas a passos largos. Ambos estavam de pijamas confortáveis, pulando em cima da cama, enquanto Emília tentava a todo custo pentear os cabelos deles.
Sofia - Papai...
A menina foi a primeira a perceber, saltou da cama e pulou nos braços do pai, que a encheu de beijos no rosto. Já Pedro, sentou-se na cama e ficou olhando a cena sorrindo de lábios fechados.
Eduardo - Estava morrendo de saudades de vocês! Não vai falar comigo, meu filho?
Perguntou enquanto colocava a pequena no chão. Pedro se aproximou e abraçou o pai, que retribuiu com um beijo no topo da cabeça dele.
Eduardo - Como se comportaram?
Sofia - Papai, o Pedro me bateu.
Eduardo - Calma, falaremos sobre isso depois.
Pedro - Novidade!
Eduardo - O que disse?
Pedro - Nada, não!
Emília - Senhor?
Eduardo - Fale!
Emília - A senhorita Júlia está aqui!
Eduardo - Ah, então aquele carro que está parado lá fora é dela.
Falou com desdém.
Emília - Ela parece que vai ficar uns dias aqui!
Retrucou surpresa.
Eduardo - Como?
A babá só curvou os ombros, não sabendo explicar.
Sofia - Vou lá!
Ele segurou o braço da filha.
Eduardo - Não!
Pedro - Por quê?
Eduardo - Péssima influência, não quero nenhum de vocês ouvindo as loucuras dela, entenderam?
Os dois olham para o pai confusos, porém não falam nada.
Eduardo - Em qual quarto ela está?
...
Júlia estava deitada na cama, olhando para o teto e pensando na besteira que tinha feito em cumprir o pedido da amiga. Mas ela não poderia recusar, não depois que leu a carta.
Júlia - Aff, vou morrer aqui!
Ela batia as palmas das mãos nos braços, agoniada, tentando afastar os mosquitos que insistiam em picá-la sem dó. Nesse momento, Júlia lembra por que foi embora e não queria voltar mais para tudo o que lembrava o campo; não era seu desejo de vida.
Batidas na porta...
Ela dá outro tapa no braço e bufa, levantando. Abre a porta e se depara com Eduardo, com cara de poucos amigos, a encarando.
Eduardo - Posso entrar?
Júlia - Claro, a casa é sua!
Ela se afasta dando espaço e ele entra.
Júlia - Eu queria ter falado com você antes, mas estava viajando e eu...
Ele a interrompe.
Eduardo - O que você quer aqui, Júlia?
Júlia - Estou de férias, então achei que seria uma boa.
Eduardo - Você detesta fazenda, o que realmente pretende?
Ela fica sem saber o que dizer. Não queria falar da carta, pois foi algo pessoal da Sílvia. Com certeza, ela não queria que contasse.
Júlia - Posso ficar aqui uns meses?
Eduardo - Uns meses? Por quê?
Ele retruca, confuso.
Júlia - Queria ficar um tempo com as crianças, sinto que devo a Sílvia de alguma forma. Então, eu queria ficar um pouco e ajudar.
Eduardo - Ajudar?
Júlia - Sim, cuidando delas.
Ele sorri.
Eduardo - Você bebeu? Desde quando você gosta de crianças?
Júlia - Você continua o mesmo babaca de sempre, realmente não sei por que a Sílvia se casou com você.
Eduardo - Sabe que eu me pergunto a mesma coisa sobre você?
Júlia - O que está querendo dizer?
Eduardo - Como ela considerava tanto uma pessoa que nunca se quer ligou para ela depois que se mandou da cidade.
Júlia - Fala diretamente para mim, estou bem aqui na sua frente.
Desafiou com os olhos cheios de água.
Eduardo - Não seja por isso. Você nunca se importou com ninguém à sua volta, sempre foi uma egoísta.
Júlia - Isso não é verdade!
De repente, lágrimas começam a escorrer pela sua face trêmula de raiva.
Os dois ficam se encarando por um longo tempo até as crianças aparecerem na porta, assustadas e curiosas.
Pedro - Por que você a fez chorar?
Eduardo - Por acaso os dois foram chamados para essa conversa?
A menina estava com os dedos na boca, receosa em responder.
Eduardo - Estou esperando!
Sofia - Dona Beta pediu para avisar que o jantar está pronto, papai!
Ele olha para o Pedro, que o olhava de forma diferente, depois suspira, pegando a filha nos braços.
Eduardo - Então vamos jantar!
Falou, tentando melhorar o clima naquele quarto.
Eduardo - Você vem jantar com a gente?
Perguntou, olhando nos olhos de Júlia, que continuava como um peixe fora d'água. O que ela realmente queria era ir embora imediatamente.
Pedro - Vamos, Júlia!
Ao olhar a expressão no rosto de Pedro, foi o suficiente para ela desmanchar a cara emburrada e dar um largo sorriso.
Eduardo - Estamos esperando na sala de jantar.
Ele falou meio seco, já saindo do quarto com a filha nos braços.
Pedro - Eu odeio ele!
Júlia - Odeia? Você não acha que é uma palavra muito forte?
Pedro - Por culpa dele, minha mãe morreu!
Júlia - Isso não é verdade!
Pedro - Eles brigavam sempre.
Júlia - Mas isso não tem nenhuma ligação com a doença que ela tinha. Você sabe disso!
Pedro - Mesmo assim, ele sempre brigava com ela quando ela estava bem.
Júlia - Não faça isso, Pedro.
Pedro - Eu vi atrás da porta quando tiveram uma discussão e ele pediu o divórcio.
Júlia - Isso é coisa de adulto. Você não sabe os motivos da discussão.
Pedro - Mesmo assim!
Ela dá de ombros e olha para a janela aberta, batendo para tentar espantar os mosquitos. Ele acaba não se aguentando e rindo da cena.
Júlia - O quê?
Ele aponta para a janela.
Pedro - Você tem que fechar a janela. Se não, todos os mosquitos da fazenda vão entrar no seu quarto por conta da luz quente da lâmpada.
Ele agora apontou para a lâmpada e Júlia sorriu para si mesma.
Júlia - Ótimo, um pirralho de oito anos me ensinando como sobreviver numa fazenda. (risos)
Pedro - Você é legal. Gosto de você!
Júlia - Eu, eu também... eu...
Era visível que ela tinha um bloqueio em demonstrar seus próprios sentimentos. Talvez por causa de quando criança, era oprimida por seu pai. Ele nunca demonstrava afeto ou carinho pela filha. Era exageradamente rígido e áspero.
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Atualizado até capítulo 100
Comments
Ilma Dias da Silva
vc esqueceu da cigana lá no início? Era ele o rapaz que queria conhece la e ela não quis
2025-03-07
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Valeria Grossi de Almeida
Eu acho que ele gostava da Julia na adolecencia mas casou com a amiga dela.
2025-01-19
0
mara souza
na verdade ela foi embora e quem ficou magoado foi ele.
2024-12-16
0