Era uma data difícil para Augusto, o marco de uma tragédia. Passou os últimos 15 dias melancólico e retraído. Queria ter dado mais atenção à sua nova hóspede, mas era difícil para ele se desligar do passado, e esse mês de abril, em especial, era doloroso, pois ainda estava profundamente ligado a sua trágica situação passada.
Era uma manhã gostosa, o sol estava com raios lindos, mas não foi capaz de parar e apreciar, tomado por um sentimento forte e uma crise de ansiedade, Augusto correu para seu escritório e pegou o violino, e se entregando ao som do instrumento fechou os olhos e suspirou. Usava a música como um entorpecente para dor que carregava. Não demorou para perceber que Emília o observava de longe, fez isso nos últimos 15 dias, todas as vezes que ele tocou o violino.
Augusto sorriu discretamente, gostava da curiosidade da menina, e depois da primeira vez que ela saiu correndo, fingia que não sabia que ela o observava secretamente, só para sentir a presença dela, pois tinha que confessar, esses momentos juntos, mesmo "secreto" eram confortantes para si. E ter a presença daquele pequeno anjo, tornava tudo mais inspirador, de alguma forma, Emília conseguia extinguir as crises e dores, que sentia naquela casa.
Quando seu coração voltou ao compasso normal, Augusto encerrou a sessão instrumental, e antes que Emília se fosse, virou-se ligeiramente.
— Fique, menina!— pediu a encarando.
Emília abaixou a cabeça envergonhada, e ficou paralisada no lugar.
— Eu não queria invadir a sua privacidade... eu só gosto de ouvi-lo tocar... eu peço perdão...— Emília murmurou cabisbaixa.
Augusto se aproximou e tocou no queixo de Emília, a forçando encarar seus olhos.
— Não precisa se explicar, menina. Eu sempre notei sua presença. Gosto de saber que está por perto.— Augusto confessou com um sorriso, e colocou uma mexa dos cabelos negros de Emília, atrás de sua orelha.
Os olhos dela brilharam, e aquele sorriso doce, que o encantava, desenhou o rosto angelical.
Ela é perfeita!
Augusto a fitava intensamente, a simples aproximação, o perfume que ela exalava, o fazia querer se manter ao lado dela. Quando deu por si, estava a centímetros do rosto dela, sentia de perto a respiração cálida de Emília, os lábios cheios e vermelhos, tão próximo, os olhos de um brilho sem igual, tudo o atraía avalassadoramente.
Se afastou rapidamente. O que estava acontecendo?
Ela era só uma garota, que deveria querer sua liberdade, e não julgava, ela merecia uma vida feliz e livre. Não alguém como ele, cheio de traumas, melancolia, manias irritantes, e uma aparência horripilante.
Se esforçando para manter a postura fria que manteve nos últimos anos, Augusto deu alguns passos para trás, e voltou a olhar Emília.
— Acho que já pode fazer o teste de gravidez. Benedito foi à cidade e trouxe três. Pode fazer a qualquer momento.— Augusto falou entrando no escritório.
Pegou os testes sobre a mesa, e entregou para Emília. Ela estava um tanto apreensiva, passava as mãos pelo tecido da calça e olhava para o chão.
— A hora que estiver pronta, me chame. Geralmente o resultado sai em três, cinco minutos.— Augusto falou.
Ela assentiu, e observou os testes.
— Posso fazer agora?— Emília perguntou ansiosa.
— Claro!— Augusto respondeu.
Ela saiu disparada, chegou a ser difícil acompanhá-la. Quando chegou de frente ao quarto, não ousou entrar, era um homem conservador, e respeitava a privacidade de uma mulher. Mas Emília olhou para trás e estranhou.
— Não vai entrar, senhor?— ela perguntou.
— Não quero incomodá-la, espero aqui.— Augusto respondeu.
Ela assentiu, e foi ao banheiro. Em poucos minutos saiu.
— Então?— ele perguntou curioso.
— Não olhei, não disse que demora três minutos?— Emília respondeu.
— Ah, sim...
— Não me importo que entre. Vamos à sacada enquanto esperamos.— Emília sugeriu.
Ele observou ela caminhar até a porta e se apoiar ao parapeito. Emília revolucionou sua vida, fazia coisas que só quando criança lembrava de fazê-las, enxergava belezas que já não reparava mais, e há anos que não chegava nem perto da sacada, e pela segunda vez se sentiu inclinado a se aproximar. A passos lentos ele foi até a sacada, precisava enfrentar os gatilhos de sua ansiedade. Da porta ele podia ver o cabelos voarem com a brisa da manhã, ela tinha os olhos fechados e um sorriso. Ela inspirava profundamente, sempre fazia isso, como se quisesse fixar a fragrância do mar em seus sentidos.
Ela virou-se para ele, e com um sorriso aberto, mostrando dentes brancos e alinhados, o chamou com a mão. Augusto andou até o parapeito, mas sua respiração começou acelerar, o terror começou a envolvê-lo, e o suor escorrer.
Emília ficou preocupada, e se aproximou.
— Está passando mal, senhor?— Emília perguntou segurando sua mão.
Ele assentiu, e tentou ignorar os sintomas de ansiedade.
— É medo de altura?— ela perguntou.
Não era medo de altura! Seria loucura escolher morar naquele lugar e ter medo. Mas não diria a verdade, isso não! Então resolveu mentir.
— Tenho um pouco de medo, as vezes fico anos sem sair na sacada.— Augusto falou.
— Sempre teve isso?— ela perguntou intrigada.
— Não...— ele confessou.
— Então, venha. Segura a minha mão e feche os olhos. Geralmente o medo é do que vemos, ou lembramos. Se concentre na minha voz, nos sons, no cheiro, na paz...
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Atualizado até capítulo 91
Comments
Tânia Principe Dos Santos
ambos vão se ajudar e curar as feridas mutuamente
2025-02-26
1
Solange Maria Martins
hoje 15 de março de 2025
2025-03-16
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Akassia Pinheiro
Conquistou ele sem esforço
2024-12-11
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