Precisou de alguns dias, mas Emília conseguiu o passaporte, e tudo que necessitava para viajar. Sem avisar os vizinhos, os patrões, fechando a conta bancária, pagou o aluguel, se livrou do chip do celular, e apenas com uma mala, partiu para Portugal com a sua tia. Deixando tudo para trás, sem aviso prévio.
Emília poderia dizer com toda certeza, que apesar das dores que carregava consigo, a vida em Portugal estava fluindo, e graças a Deus e sua tia, conseguiu o emprego de camareira em um dos hotéis mais luxuosos de Lisboa, "Grand Hotel Coimbra". Com quase um mês de trabalho, Emília já estava familiarizada com o serviço, e até havia feito amizade com algumas colegas de trabalho.
Ela tinha boa amizade com a tia, um trabalho relativamente tranquilo, bom salário em relação ao que fazia, mas sabia do fundo de seu coração, que nunca conseguiria pagar as dívidas de seu pai, com aqueles juros. E o que mais lhe atormentava, era pensar que o prazo de pagamento havia expirado, e mesmo tendo saído em secreto do Brasil, carregava um pressentimento de que a qualquer momento aqueles homens terríveis a encontrariam. Por esse motivo, Emília vivia mais retraída, não falava sobre sua vida pessoal, e procurava não se aprofundar demais com as novas amizades.
Já no final de abril, um mês de primavera, Emília já se sentia mais adaptada com o clima dessa parte da Europa, embora a temperatura não ultrapassasse os 20°, já era um frio mais ameno.
Nesse dia em especial, já passava das 14h, Emília andava pelo longo corredor do andar mais luxuoso do hotel, com apartamentos tão grandes quanto casas, e uma vista incrível do terraço. Com seu carrinho de trabalho, deixava toalhas limpas nos quartos indicados por sua encarregada.
Saindo de um dos quartos, no início do corredor, Emília notou um pequeno grupo de homens vindo em sua direção, mas o que chamou sua atenção foi um dos homens. Que se destacava por ser mais alto e forte, além de ter parte do rosto coberto por uma máscara branca. Sua vestimenta fina, terno alinhado, sapatos brilhando, denunciava ser um rico importante.
Emília posicionou o carrinho no canto do corredor e baixou a cabeça, mas quando o grupo passou, a curiosidade a fez olhar novamente, e por alguns segundos ela encarou um par de olhos verdes intensos, que a observavam com a mesma curiosidade. Emília desviou o olhar e continuou seu caminho, um tanto impressionada com o momento. Voltou para ala das camareiras, e ouviu alguma das meninas falando sobre um tal de "Fantasma da Ópera". Ela quis perguntar, mas não se achou íntima o suficiente para tal. A campainha (que toca para servir os hóspedes) nessas horas da tarde é tranquila, mas em um certo momento, a encarregada falou sobre levar um travesseiro especial de "pena de ganso", á um dos quartos mais caros do hotel. As meninas fizeram cara feia e de nojo, e cochichavam entre si, deixando Emília confusa.
— Emília vai levar o travesseiro.— uma das camareiras afirmou.
Ela não via problema algum nisso, então de bom grado aceitou, foi ao quarto dos travesseiros, pegou o indicado, colocou a fronha, plastificou, subiu ao último andar, e nem notou os olhares maliciosos e risinhos das colegas. Diante da porta com o número indicado, ela bateu. Ao abrirem, reconheceu um dos homens do grupo que passou por ela, deu espaço e pediu para ela entrar.
— Com licença, vim entregar o travesseiro de penas de ganso.— Emília falou entrando no quarto.
— Coloque sobre a cama, por favor.— uma voz grave e calma respondeu.
Emília olhou na direção do sofá, de onde vinha a voz, e reconheceu o homem de olhos verdes que a encarou, agora sem máscara, mas como estava de perfil, Emília não pode olhar o lado direito do seu rosto. Ela caminhou até a cama e deixou o travesseiro. Educadamente, Emília se posicionou de frente ao homem, que virou o rosto rapidamente, a impedindo de olhá-lo. Ela estranhou a atitude, mas respeitou.
— Deseja mais alguma coisa, senhor?— Emília perguntou.
— Não. Pode se retirar.— um dos homens que parecia parceiros de negócios, ou até segurança, respondeu no lugar do homem de olhos verdes.
— Claro. Com licença.— Emília respondeu, se encurvando suavemente e saiu.
Intrigada com aquele homem, que mesmo ela não o vendo por completo, achou tão bonito, e de uma presença impactante, ela passou o restante da tarde. Já no final do expediente, a encarregada voltou a chamá-la, dizendo para ir trocar os lençóis de algodão do quarto do homem misterioso, por lençóis de seda.
Com sinceridade, Emília gostou de ter que voltar ao quarto, pois tinha algo naquele homem que despertou sua curiosidade. Bateu na porta, e dessa vez o homem a atendeu, com a máscara que usava mais cedo. Ele parecia lhe esperar, e quando Emília notou que o homem estava só, estremeceu, sentiu medo. Mas o homem foi tão gentil e respeitoso, que mantinha uma distância confortável. Ela podia sentir que os olhos daquele homem a fitavam, embora curiosa sobre a máscara, se manteve calada, trocando os lençóis daquela cama enorme.
— É nova nesse hotel? Não me lembro de tê-la visto aqui antes.— o homem perguntou.
— Sim, senhor. Trabalho aqui há quase um mês.— Emília respondeu sem tirar sua atenção do serviço.
— Não quero parecer indelicado, mas posso saber seu nome?— ele perguntou curioso.
— Emília.
— Tem um sotaque diferente, é brasileira?
— Sim.
Emília se sentia estranhamente bem conversando com o homem, mas ainda assim, se limitou apenas em respostas simples e curtas.
Assim que terminou de arrumar a cama, se posicionou na frente do homem e sorriu educada.
— Espero que esteja do seu agrado, senhor. Deseja mais alguma coisa?— Emília perguntou.
— Não. Muito obrigado.— o homem respondeu colocando a mão no bolso.
Emília se encurvou, e quando deu o primeiro passo, recebeu uma generosa gorjeta do homem.
— Obrigada, senhor! Deus te abençoe!— Emília agradeceu radiante.
O homem apenas assentiu com um meio sorriso, e Emília saiu do quarto sem acreditar na bondade daquele homem misterioso.
Trezentos euros?!
Quem dá uma gorjeta tão polpuda assim?
Pela primeira vez, em muitos dias, Emília sentiu uma pequena alegria brotar em seu coração, e chegou na casa de sua tia, com um sorriso novo nos lábios, que fez sua tia ficar feliz e aliviada. Ainda tinha chances daquele coração quebrado, daquela alma angustiada, voltar a ser feliz.
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Atualizado até capítulo 91
Comments
Tânia Principe Dos Santos
tudo leva seu tempo. Emília não merecia o que os monstros lhe fizeram
2025-02-26
2
Joana Darc Souza
tó gostando da estória, não gostei do estrupo foi cruel.
2025-03-03
0
Wandely Fatima
Muito bom mesmo tá dando prazer em ler❤❤❤❤❤❤❤❤❤❤❤❤❤❤
2025-01-18
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