Capítulo 3 Emília

Precisou de alguns dias, mas Emília conseguiu o passaporte, e tudo que necessitava para viajar. Sem avisar os vizinhos, os patrões, fechando a conta bancária, pagou o aluguel, se livrou do chip do celular, e apenas com uma mala, partiu para Portugal com a sua tia. Deixando tudo para trás, sem aviso prévio.

Emília poderia dizer com toda certeza, que apesar das dores que carregava consigo, a vida em Portugal estava fluindo, e graças a Deus e sua tia, conseguiu o emprego de camareira em um dos hotéis mais luxuosos de Lisboa, "Grand Hotel Coimbra". Com quase um mês de trabalho, Emília já estava familiarizada com o serviço, e até havia feito amizade com algumas colegas de trabalho.

Ela tinha boa amizade com a tia, um trabalho relativamente tranquilo, bom salário em relação ao que fazia, mas sabia do fundo de seu coração, que nunca conseguiria pagar as dívidas de seu pai, com aqueles juros. E o que mais lhe atormentava, era pensar que o prazo de pagamento havia expirado, e mesmo tendo saído em secreto do Brasil, carregava um pressentimento de que a qualquer momento aqueles homens terríveis a encontrariam. Por esse motivo, Emília vivia mais retraída, não falava sobre sua vida pessoal, e procurava não se aprofundar demais com as novas amizades.

Já no final de abril, um mês de primavera, Emília já se sentia mais adaptada com o clima dessa parte da Europa, embora a temperatura não ultrapassasse os 20°, já era um frio mais ameno.

Nesse dia em especial, já passava das 14h, Emília andava pelo longo corredor do andar mais luxuoso do hotel, com apartamentos tão grandes quanto casas, e uma vista incrível do terraço. Com seu carrinho de trabalho, deixava toalhas limpas nos quartos indicados por sua encarregada.

Saindo de um dos quartos, no início do corredor, Emília notou um pequeno grupo de homens vindo em sua direção, mas o que chamou sua atenção foi um dos homens. Que se destacava por ser mais alto e forte, além de ter parte do rosto coberto por uma máscara branca. Sua vestimenta fina, terno alinhado, sapatos brilhando, denunciava ser um rico importante.

Emília posicionou o carrinho no canto do corredor e baixou a cabeça, mas quando o grupo passou, a curiosidade a fez olhar novamente, e por alguns segundos ela encarou um par de olhos verdes intensos, que a observavam com a mesma curiosidade. Emília desviou o olhar e continuou seu caminho, um tanto impressionada com o momento. Voltou para ala das camareiras, e ouviu alguma das meninas falando sobre um tal de "Fantasma da Ópera". Ela quis perguntar, mas não se achou íntima o suficiente para tal. A campainha (que toca para servir os hóspedes) nessas horas da tarde é tranquila, mas em um certo momento, a encarregada falou sobre levar um travesseiro especial de "pena de ganso", á um dos quartos mais caros do hotel. As meninas fizeram cara feia e de nojo, e cochichavam entre si, deixando Emília confusa.

— Emília vai levar o travesseiro.— uma das camareiras afirmou.

Ela não via problema algum nisso, então de bom grado aceitou, foi ao quarto dos travesseiros, pegou o indicado, colocou a fronha, plastificou, subiu ao último andar, e nem notou os olhares maliciosos e risinhos das colegas. Diante da porta com o número indicado, ela bateu. Ao abrirem, reconheceu um dos homens do grupo que passou por ela, deu espaço e pediu para ela entrar.

— Com licença, vim entregar o travesseiro de penas de ganso.— Emília falou entrando no quarto.

— Coloque sobre a cama, por favor.— uma voz grave e calma respondeu.

Emília olhou na direção do sofá, de onde vinha a voz, e reconheceu o homem de olhos verdes que a encarou, agora sem máscara, mas como estava de perfil, Emília não pode olhar o lado direito do seu rosto. Ela caminhou até a cama e deixou o travesseiro. Educadamente, Emília se posicionou de frente ao homem, que virou o rosto rapidamente, a impedindo de olhá-lo. Ela estranhou a atitude, mas respeitou.

— Deseja mais alguma coisa, senhor?— Emília perguntou.

— Não. Pode se retirar.— um dos homens que parecia parceiros de negócios, ou até segurança, respondeu no lugar do homem de olhos verdes.

— Claro. Com licença.— Emília respondeu, se encurvando suavemente e saiu.

Intrigada com aquele homem, que mesmo ela não o vendo por completo, achou tão bonito, e de uma presença impactante, ela passou o restante da tarde. Já no final do expediente, a encarregada voltou a chamá-la, dizendo para ir trocar os lençóis de algodão do quarto do homem misterioso, por lençóis de seda.

Com sinceridade, Emília gostou de ter que voltar ao quarto, pois tinha algo naquele homem que despertou sua curiosidade. Bateu na porta, e dessa vez o homem a atendeu, com a máscara que usava mais cedo. Ele parecia lhe esperar, e quando Emília notou que o homem estava só, estremeceu, sentiu medo. Mas o homem foi tão gentil e respeitoso, que mantinha uma distância confortável. Ela podia sentir que os olhos daquele homem a fitavam, embora curiosa sobre a máscara, se manteve calada, trocando os lençóis daquela cama enorme.

— É nova nesse hotel? Não me lembro de tê-la visto aqui antes.— o homem perguntou.

— Sim, senhor. Trabalho aqui há quase um mês.— Emília respondeu sem tirar sua atenção do serviço.

— Não quero parecer indelicado, mas posso saber seu nome?— ele perguntou curioso.

— Emília.

— Tem um sotaque diferente, é brasileira?

— Sim.

Emília se sentia estranhamente bem conversando com o homem, mas ainda assim, se limitou apenas em respostas simples e curtas.

Assim que terminou de arrumar a cama, se posicionou na frente do homem e sorriu educada.

— Espero que esteja do seu agrado, senhor. Deseja mais alguma coisa?— Emília perguntou.

— Não. Muito obrigado.— o homem respondeu colocando a mão no bolso.

Emília se encurvou, e quando deu o primeiro passo, recebeu uma generosa gorjeta do homem.

— Obrigada, senhor! Deus te abençoe!— Emília agradeceu radiante.

O homem apenas assentiu com um meio sorriso, e Emília saiu do quarto sem acreditar na bondade daquele homem misterioso.

Trezentos euros?!

Quem dá uma gorjeta tão polpuda assim?

Pela primeira vez, em muitos dias, Emília sentiu uma pequena alegria brotar em seu coração, e chegou na casa de sua tia, com um sorriso novo nos lábios, que fez sua tia ficar feliz e aliviada. Ainda tinha chances daquele coração quebrado, daquela alma angustiada, voltar a ser feliz.

Mais populares

Comments

Tânia Principe Dos Santos

Tânia Principe Dos Santos

tudo leva seu tempo. Emília não merecia o que os monstros lhe fizeram

2025-02-26

2

Joana Darc Souza

Joana Darc Souza

tó gostando da estória, não gostei do estrupo foi cruel.

2025-03-03

0

Wandely Fatima

Wandely Fatima

Muito bom mesmo tá dando prazer em ler❤❤❤❤❤❤❤❤❤❤❤❤❤❤

2025-01-18

0

Ver todos
Capítulos
1 Capítulo 1 Emília
2 Capítulo 2 Emília
3 Capítulo 3 Emília
4 Capítulo 4 Augusto
5 Capítulo 5 Augusto
6 Capítulo 6 Augusto
7 Capítulo 7 Emília
8 Capítulo 8 Emília
9 Capítulo 9 Augusto
10 Capítulo 10 Augusto
11 Capítulo 11 Emília
12 Capítulo 12 Emília
13 Capítulo 13 Emília
14 Capítulo 14 Augusto
15 Capítulo 15 Augusto
16 Capítulo 16 Emília
17 Capítulo 17 Augusto
18 Capítulo 18 Augusto
19 Capítulo 19 Emília
20 Capítulo 20 Augusto
21 Capítulo 21 Augusto
22 Capítulo 22 Augusto
23 Capítulo 23 Emília
24 Capítulo 24 Emília
25 Capítulo 25 Emília
26 Capítulo 26 Emília
27 Capítulo 27 Augusto
28 Capítulo 28 Augusto
29 Capítulo 29 Augusto
30 Capítulo 30 Emília
31 Capítulo 31 Emília
32 Capítulo 32 Emília
33 Capítulo 33 Emília
34 Capítulo 34 Augusto
35 Capítulo 35 Emília
36 Capítulo 36 Augusto
37 Capítulo 37 Augusto
38 Capítulo 38 Emília
39 Capítulo 39 Emília
40 Capítulo 40 Emília
41 Capítulo 41 Emília
42 Capítulo 42 Augusto
43 Capítulo 43 Augusto
44 Capítulo 44 Augusto
45 Capítulo 45 Emília
46 Capítulo 46 Emília
47 Capítulo 47 Emília
48 Capítulo 48 Augusto
49 Capítulo 49 Augusto
50 Capítulo 50 Augusto
51 Capítulo 51 Emília
52 Capítulo 52 Augusto
53 Capítulo 53 Emília
54 Capítulo 54 Emília
55 Capítulo 55 Augusto
56 Capítulo 56 Emília
57 Capítulo 57 Augusto
58 Capítulo 58 Augusto
59 Capítulo 59 Emília
60 Capítulo 60 Emília
61 Capítulo 61 Augusto
62 Capítulo 62 Emília
63 Capítulo 63 Augusto
64 Capítulo 64 Augusto
65 Capítulo 65 Augusto
66 Capítulo 66 Emília
67 Capítulo 67 Augusto
68 Capítulo 68 Emília
69 Capítulo 69 Emília
70 Capítulo 70 Emília
71 Capítulo 71 Augusto
72 Capítulo 72 Augusto
73 Capítulo 73 Emília
74 Capítulo 74 Emília
75 Capítulo 75 Emília
76 Capítulo 76 Augusto
77 Capítulo 77 Augusto
78 Capítulo 78 Emília
79 Capítulo 78 Emília
80 Capítulo 80 Augusto
81 Capítulo 81 Emília
82 Capítulo 82 Augusto
83 Capítulo 83 Augusto
84 Capítulo 84 Augusto
85 Capítulo 85 Emília
86 Capítulo 86 Emília
87 Capítulo 87 Augusto
88 Capítulo 88 Final
89 Agradecimentos
90 Sinopse de todos livros
91 Nota da Autora
Capítulos

Atualizado até capítulo 91

1
Capítulo 1 Emília
2
Capítulo 2 Emília
3
Capítulo 3 Emília
4
Capítulo 4 Augusto
5
Capítulo 5 Augusto
6
Capítulo 6 Augusto
7
Capítulo 7 Emília
8
Capítulo 8 Emília
9
Capítulo 9 Augusto
10
Capítulo 10 Augusto
11
Capítulo 11 Emília
12
Capítulo 12 Emília
13
Capítulo 13 Emília
14
Capítulo 14 Augusto
15
Capítulo 15 Augusto
16
Capítulo 16 Emília
17
Capítulo 17 Augusto
18
Capítulo 18 Augusto
19
Capítulo 19 Emília
20
Capítulo 20 Augusto
21
Capítulo 21 Augusto
22
Capítulo 22 Augusto
23
Capítulo 23 Emília
24
Capítulo 24 Emília
25
Capítulo 25 Emília
26
Capítulo 26 Emília
27
Capítulo 27 Augusto
28
Capítulo 28 Augusto
29
Capítulo 29 Augusto
30
Capítulo 30 Emília
31
Capítulo 31 Emília
32
Capítulo 32 Emília
33
Capítulo 33 Emília
34
Capítulo 34 Augusto
35
Capítulo 35 Emília
36
Capítulo 36 Augusto
37
Capítulo 37 Augusto
38
Capítulo 38 Emília
39
Capítulo 39 Emília
40
Capítulo 40 Emília
41
Capítulo 41 Emília
42
Capítulo 42 Augusto
43
Capítulo 43 Augusto
44
Capítulo 44 Augusto
45
Capítulo 45 Emília
46
Capítulo 46 Emília
47
Capítulo 47 Emília
48
Capítulo 48 Augusto
49
Capítulo 49 Augusto
50
Capítulo 50 Augusto
51
Capítulo 51 Emília
52
Capítulo 52 Augusto
53
Capítulo 53 Emília
54
Capítulo 54 Emília
55
Capítulo 55 Augusto
56
Capítulo 56 Emília
57
Capítulo 57 Augusto
58
Capítulo 58 Augusto
59
Capítulo 59 Emília
60
Capítulo 60 Emília
61
Capítulo 61 Augusto
62
Capítulo 62 Emília
63
Capítulo 63 Augusto
64
Capítulo 64 Augusto
65
Capítulo 65 Augusto
66
Capítulo 66 Emília
67
Capítulo 67 Augusto
68
Capítulo 68 Emília
69
Capítulo 69 Emília
70
Capítulo 70 Emília
71
Capítulo 71 Augusto
72
Capítulo 72 Augusto
73
Capítulo 73 Emília
74
Capítulo 74 Emília
75
Capítulo 75 Emília
76
Capítulo 76 Augusto
77
Capítulo 77 Augusto
78
Capítulo 78 Emília
79
Capítulo 78 Emília
80
Capítulo 80 Augusto
81
Capítulo 81 Emília
82
Capítulo 82 Augusto
83
Capítulo 83 Augusto
84
Capítulo 84 Augusto
85
Capítulo 85 Emília
86
Capítulo 86 Emília
87
Capítulo 87 Augusto
88
Capítulo 88 Final
89
Agradecimentos
90
Sinopse de todos livros
91
Nota da Autora

Baixar agora

Gostou dessa história? Baixe o APP para manter seu histórico de leitura
Baixar agora

Benefícios

Novos usuários que baixam o APP podem ler 10 capítulos gratuitamente

Receber
NovelToon
Um passo para um novo mundo!
Para mais, baixe o APP de MangaToon!