CAPÍTULO 14

Astin havia percebido que tinha exagerado. Não que fosse algo pensado. Muito longe disso. Mas ela não pôde evitar a atração que sentia pelo filho do Conde. Sempre foi assim desde quando leu a história a primeira vez.

Um amor platônico o qual pela primeira vez, poderia colocar em prática e o tornar real. Tudo caminhava para isso exceto pelo fato que ela era sua futura madrasta.

Pensar nisso era algo tão absurdo que Astin se negava a vê-lo como seu enteado. Seus desejos e intenções eram muito mais íntimos e lascívos do que qualquer um poderia imaginar. Durante o almoço todo, Drianne ficou observando e Astin podia jurar que a todo momento a mulher olhava diretamente em seus olhos. O seu olhar era tão profundo que parecia atingir sua alma e apesar de ter conseguido disfarçar bem na mesa farta de comida, Astin sentia que Drianne havia descoberto seu amor secreto pelo filho do Conde.

Não era algo que preocupava muito, Astin. Ela sabia que caso isso lhe trouxesse problemas era só demitir Drianne.

"Ela que não se meta a esperta comigo. Sou boazinha, mas nem tanto."

As ameaças nulas de Astin não conseguiam convencer nem a ela mesma, então só restava a ela fingir estar no controle. Enquanto isso, Ewan tentava ao máximo confrontar o olhar da senhorita Boulevard.

O que ele menos queria era criar a mesma situação de minutos antes na biblioteca. Se qualquer funcionário interpretasse errado, poderia chegar no ouvido de seu pai. Boatos voavam muito mais rápido do que um falcão e a última coisa que ele queria, era criar uma saia justa com seu pai.

Depois de evitar ao máximo a jovem Astin, Ewan sentiu um pequeno alívio. Mas o que ele não contava era com mais um convite de passeio, dessa vez ao jardim da propriedade. Pensando que assim poderia ser mais fácil ir embora, Ewan acabou aceitando caminhar pelo jardim.

— Você está bem?

— Estou.

— Você me parece tenso. Tem certeza que está tudo bem?

— Estou. Acho que comi mais do que poderia. Mas a comida estava maravilhosa.

— Obrigada. Quero dizer, irei agradecer as cozinheiras por você.

— Então… você realmente veio de tão longe só para me trazer a carta do seu pai?

— Sim. Qual outra razão eu poderia ter?

Por alguns Astin jurou ter sido uma pergunta recíproca. Por alguns milésimos de segundos, a jovem achou ter visto um brilho diferente nos olhos do filho do Conde.

— Você tem razão. Qual outro motivo teria, não é?

O sorriso sem graça da garota foi o suficiente para disfarçar o clima chato. Astin nunca soube lidar com situações assim e não seria agora que conseguiria se sair bem.

Apesar da calma e de parecer no controle, Ewan estava um pouco confuso. Se houvesse algum druida ou até mesmo um mago que pudesse ler sua mente, naquele instante conseguiria ver emoções ímpares que o jovem nunca pensou que poderia ter.

Sem conseguir conter o nervosismo, Ewan achou que falando o que guardava em sua cabeça aliviaria a tensão da situação.

— Você sabe… é minha futura madrasta.

— E por que você falou isso? Acho que não há dúvidas quanto a isso…

— Pois é. Você tem razão. Me desculpe. Só estou um pouco nervoso.

— Eu não sei! — Falou involuntariamente, Astin.

— O que?

— A resposta para a sua pergunta.

— Mas não te fiz nenhuma pergunta.

— Não agora, mas aquele dia. No almoço. Não se lembra que me perguntou por que aceitei casar com seu pai? Eu não sei. Juro para você. Eu não sei.

Astin queria ser totalmente sincera, mas ela não podia. Não sabia ao certo se poderia confiar a verdade, mesmo desejando novamente contar.

— Muitas coisas têm acontecido. Virou um turbilhão de problemas. Eu juro que estou dando o meu melhor.

— É difícil acreditar. Não estou lhe chamando de mentirosa. Por favor, não me entenda mal. Mas quando soube pelo meu pai que partiu de você… consegue entender? Partiu de você. Então quando você me fala uma coisa dessas, é difícil acreditar.

— Eu sei. Não te culpo. A única culpada sou eu.

— Você falando desse jeito, me dá a impressão que você está arrependida de casar com meu pai.

— Não estou falando isso. Sinceramente, não sei o que dizer.

— Você não fez isso pelo dinheiro? Em breve você será a Condessa de Wisdow, não era isso o que queria?

— Você está me insultando, senhor Gold.

Ewan ficou olhando surpreso para Astin, pois poucos sabiam sobre seu verdadeiro sobrenome. Ninguém fora da família sabia sobre isso, nem os empregados mais fiéis.

— Como soube disso?

— Soube do que?

— Esse sobrenome. Quem te falou? Foi meu pai?

A calma do rapaz deu lugar a uma raiva. Seus olhos ficaram arregalados e a mudança repentina de humor fez Astin sentir medo.

— A-acho que sim. Mas isso não importa.

— Importa e muito. Quem lhe contou?

A jovem tinha se esquecido do segredo que a família Gold escondia a séculos, ela se lembrou da surpresa que teve quando leu o livro pela primeira vez. A casa Gold por muito tempo foi acusada de ser uma família de gananciosos e traidores. Mesmo que o patriarca e seus filhos realmente merecessem tal alcunha, muitos descendentes sofreram com tal preconceito e lutaram para que isso mudasse. No entanto, a solução encontrada foi dar um fim ao sobrenome e deixá-lo à mercê das sombras e do esquecimento.

— Agora eu me lembrei. Seu pai comentou algo a respeito.

— Tenho que ir. — Ewan fechou a cara.

— Mas já? Não quer descansar um pouco mais?

— Não. Tenho que ir. Vou ajudar Brunn com o cavalo.

— Drianne. — Gritou Astin, para a empregada. — Peça para Assif ajudar o Cocheiro do Senhor Ewan, ele já está de partida.

— Entendido, senhorita Boulevard

— Pronto. Agora não precisa se preocupar.

— Obrigado.

Ewan ficou calado até o momento que seu cocheiro apareceu com a carruagem preparada, Astin se sentia mal por seu deslize, um pequeno deslize que poucos dariam importância, e infelizmente para ela um dos poucos que ela não poderia cometer esse deslize estava ali à sua frente, um dos membros do clã Gold.

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