CAPÍTULO 4

— O que essa bruxa está fazendo aqui?!

Exclamou em seus pensamentos assim que ouviu o nome da rival. Astin tantas e tantas vezes teve vontade de bater na personagem mais detestável da história que tanto amava, ironicamente agora estaria prestes a conhecê-la pessoalmente.

Tomada de raiva, abruptamente se levantou da cama, se esquecendo que na verdade ela era a convidada e não a dona da casa.

— Senhorita Boulevard. Não se levante tão rápido. Se esqueceu que desmaiou há poucos minutos?

— Eu já estou bem. Aliás, estou me sentindo ótima. — O sorriso dela era tão falso que causou estranheza até na empregada que continuava calada, esperando alguma ordem do homem.

— Tem certeza?

— Absoluta.

— Lys, diga para a senhorita Le Louvre que já estou indo.

— Sim, senhor.

— Que ótimo que esteja melhor. Assim poderá conhecer a senhorita Le Louvre. Ela é uma ótima pessoa. Tenho certeza que vocês duas se darão muito bem. Você a conhece?

Enquanto segurava a raiva e a língua para não dizer nada indecoroso, Astin mantinha seu sorriso falso de orelha a orelha. Sua única dúvida era se calava a boca de seu futuro enteado ou se lhe beijava os lábios que atraiam os seus.

— Você a conhece? Senhorita Boulevard?

Astin mantinha sua cara embasbacada olhando para a boca do rapaz e enquanto viajava em seus pensamentos não estava prestando atenção no que ele dizia.

— Não está me ouvindo? — Ela voltou à realidade após sentir o toque das mãos do rapaz em seu ombro.

— O que? Desculpe. Estava pensando e acabei me perdendo nos pensamentos.

— Eu estava dizendo se você a conhece?

— Quem?

— A senhorita Le Louvre.

— Bom. Digamos que eu pouco.

— Ela é uma mulher muito boa. Vive ajudando muitas pessoas. — Ewan mudou sua feição, como se tivesse acabado de dizer algo que não devia. — Desculpe, não quis ofender.

— E por que me ofenderia falando isso?

— Bem… você sabe. É o que todos dizem. — Seu rosto começou a ficar vermelho de vergonha.

— E o que dizem?

— Sobre sua malevolência…

— Eu não sabia que tinham essa visão de mim… — Astin ficou pensativa.

— Mas quero dizer que não acredito em boatos. A mulher que conheci hoje não parece ser a mesma que comentam por aí.

— Vou te dizer uma coisa. Vou provar a todos desse reino. Eu não sou essa mulher má que dizem por aí.

— Acredito. Meu pai terá uma esposa digna.

As palavras de Ewan pareciam centenas de pedras sendo atiradas em seu coração.

— Vamos ir? Estou ansiosa para ver a Senhorita Le Louvre.

— Vamos, claro.

Enquanto caminhava ao lado de Ewan, Astin começou a colocar a cabeça no lugar. Ela sabia que Cleavens era capaz de tudo, e não era coincidência sua visita. Certamente estava tramando algo.

Assim que chegaram na sala, os dois viram uma mulher que usava um longo vestido bufante amarelo e com detalhes em tons pastéis. Ela usava luvas amarelas em suas mãos que delicadamente pareciam se mover no ar igual ao de um maestro, enquanto conversava.

Astin viu que Cleavens estava conversando com Murdoc e percebeu quando a rival ligeiramente desviou o olhar em sua direção e depois virou-se completamente para Ewan.

— Que coincidência! Estava falando de você para seu pai, agora. — Falou sorrindo e oferecendo para ele a mão com luvas, para ser beijada. — E você deve ser a futura esposa. Vocês formam um casal perfeito. — Astin percebeu o sarcasmo por trás do elogio. — Eu falei para ele como vocês dois não aparentam a idade que tem. Isso é tão difícil hoje em dia. Conde, essa sua aparência jovial me assombra.

— Obrigado, senhorita Le Louvre. Elogios me deixam acanhado.

O Conde de Wisdow tinha corado as robustas bochechas. E coçava seu grosso bigode olhando para Astin, que sentia seu corpo tremer de horror.

— Acredita que por coincidência ela veio trazer presentes de casamento antecipados bem quando você estava aqui, Senhorita Boulevard? Falei que presentes só depois do casamento, mas ela insistiu.

— Contrário de outras pessoas, — Astin sentiu o olhar direcionado para si. — Eu gosto de presentear, tratar bem as pessoas. Tenho um bom coração.

— O reino todo sabe disso. Filho, por que não aproveita que a senhorita Le Louvre veio e não a leva para caminhar um pouco. Conhecer o belo jardim da propriedade.

— Se a senhorita aceitar…

— Aceito. Pelo reino todo é cantado e falado sobre seu magnífico jardim.

— Perfeito. Enquanto isso eu e minha futura esposa podemos ficar um tempo juntos e debater os detalhes do casamento.

— Não! — Gritou repentinamente, Astin. Fazendo todos olharem para ela sem entender. — Quero dizer. Meu futuro marido, não acha melhor eu e a senhorita Le Louvre irmos juntas. Sabe, assuntos de mulheres, sempre é bom pôr em dia. Além de que temos muito tempo para conversar sobre os detalhes do casamento. Não acha? — Astin lançou um olhar apaixonado proposital para convencer o Conde.

— Você tem razão. Ewan, deixe as duas irem. Vamos conversar sobre os negócios da família. É bom as duas fazerem amizades, sou muito amigo do seu pai, senhorita Le Louvre, e você é muito quista por mim.

— Obrigada.

Cleavens sorria gentilmente, mas por dentro queimava em ódio. E seu ódio tinha nome e sobrenome, Astin Boulevard.

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