Minha mãe estava bastante machucada. Tinha sangue por toda parte. Nem sabia por onde começar. Achei melhor iniciar por um banho. Talvez ela assim se acalma, já que não conseguia parar de chorar. E eu tinha certeza que não era pela dor física. Acho que em algum lugar do coração da minha mãe, pensou que meu pai um dia mudaria. Sempre me disse com nostalgia quanto meu pai era gentil e carinhoso no início, quando se conheceram. Sempre arrumou várias desculpas para justificar o injustificável, por conta dessa esperança. Acreditava que meu pai se tornou amargo por ter sido demitido de um emprego que ele amava muita. Também costumava dizer que era culpa dela, já que meu avô que forçou o casamento por ela está grávida, meu pai, segundo minha mãe, não estava preparado para casar. Já eu, penso que ele é apenas um babaca, sempre foi e sempre será.
— Vem. Toma essa toalha, vamos limpar essas feridas. — Eu queria gritar. Me sentia indignada por ver minha mãe naquele estado.
— Filha, você vai voltar comigo? Não precisa pagar as contas do seu pai. Ele não merece nenhum esforço. Sempre atrapalhou sua vida. Te fez trabalhar no ensino médio, gastou suas economias da faculdade, agora teve a história da venda. Não vou deixar mais que seu pai estrague seu futuro. — Minha mãe falou segurando minha mão. Eu queria ir com ela. Assim poderia a manter segura, mas minha mãe estava enganada, eu estava aqui somente por ela.
— Não posso, mamãe. Me comprometi em cuidar de Magnus por seis meses. Preciso cumprir ou ele ficará sozinho. Não se preocupe, não é tão ruim quanto parece. Eu ficarei bem, mas e você? O que fará? Para onde vai? — Não estava nenhum pouco preocupada comigo, mas sim com a minha mãe. O que ela estava pretendendo?
— Vou passar um tempo na casa dos meus pais. Precisa reorganizar os meus pensamentos e pensar em uma forma de lidar com toda essa bagunça. Tem certeza que não quer vir comigo? Pelo que entendi, ele tem bastante dinheiro, não deve demorar para achar outra funcionária. — Minha mãe estava com medo, mas não sabia se era do meu pai ou de me deixar ali.
— Mamãe, eu estou bem. Realmente quero fazer isso. o senhor Magnus passou por muita coisa difícil, quero ajudar ele a se reerguer. — Expliquei para ela.
— Quando decide algo, nunca consegui fazer você mudar de ideia. Bom, pode me pedir um táxi? A viagem até a casa do seus avós é longa. Se eu demorar para sair, acabarei ficando na estrada tarde da noite e tem medo. — Minha mãe disse me abraçando. Não queria deixar ele ir embora, tinha medo do que poderia acontecer. — Não me olhe assim. Se você acredita mesmo que é seu dever fazer isso, não irei questionar, mas me prometa que se manterá segura e voltará rápido para casa.
— Farei isso, mas mãe... Deveria ir na delegacia fazer uma queixa. Assim você ficará mais segura. — Sugeri para ela.
— Acha mesmo que um B.O vai impedir seu pai? Se ele quiser fazer algo, fará antes que a polícia chegue no lugar. Não há como impedir. — Minha mãe disse segurando minha mão — Eu ficarei bem. Vou te esperar volta e fugiremos desse país. Vamos recomeçar fora. Sempre quis conhecer Portugal, o que acha?
— Obrigada, mãe. Não sabe quanto tempo quis ouvir isso da senhora. Voltarei mais rápido possível para casa. — Era um grande alívio saber que finalmente, minha mãe havia decidido fugir e recomeçar. Sempre sonhei com isso.
O táxi demorou um pouco, minha mãe me deu uma aula rápida sobre comidas, cuidados e limpeza. O que foi ótimo, porque só sabia estudar e limpar mesas. O que atrapalhava muito a meta de ajudar Magnus. Minha mãe partiu acenando, me desejando boa sorte. Mesmo depois da saída do carro, eu continuei sentada no batente da casa. No fundo, queria ter ido com minha mãe, mas agora que decidiu sair do inferno, eu não poderia colocar ela em risco novamente.
— O drama já acabou? Ao menos a paz voltou a reinar. Aliás, como você vai pagar o dinheiro que o lixo do seu pai levou? — Magnus apareceu falando da porta.
— Quê? Você quer que eu pague? Mas eu não lembro de ter te pedido nada. Como pode vir me cobrar? Você que entregou para ele — Respondi irritada. Enquanto mais problemas aquele maldito do meu pai vai meter.
— Você queria que eu permitisse que seu pai matasse sua mãe na minha casa? Você tinha que cuidar de mim, mas só me arrumou problema. E ainda não quer pagar o valor que seu próprio pai pegou. Deveria ter deixado ele matar sua mãe mesmo. Agora quer me deixar no prejuízo, depois de todo problema causado — Magnus parecia sem nenhuma emoção. Eu não fazia a mínima ideia do que ela realmente estava pensando.
— Eu sei, você fez para manter minha mãe viva, mas eu não tenho todo esse dinheiro. Posso pagar depois? — Não podia negar que ele fez a coisa certa, mas como eu poderia pagar a ele.
— Se você não me devolver o dinheiro, não deixarei que entre na minha casa. Vou ligar para polícia e denunciar você por roubo. — Magnus gritou antes de fechar a porta.
— Idiota! Acha que se eu tivesse a merda desse dinheiro, eu estaria aqui, ouvindo você falar absurdos e me tratando como lixo? EU NÃO VOU SAIR DAQUI DA PORTA ENQUANTO VOCÊ NÃO ABRIR. — Gritei chutando a porta Como ele pode ser tão cruel? Não viu o quando de problemas eu estou tendo? Não podia ser mais empático. Onde foi parar a empatia dele?
— Vai chover muito. Você não deve passar mais de trinta minutos no frio e na chuva. Pode gritar e chutar essa porta a vontade. Eu só abro quando devolver meu dinheiro — Magnus disse antes de me deixar gritando sozinha.
A noite logo caiu, acompanhada de muita chuva . Os ventos estavam tão forte, que mesmo em um lugar coberto, eu ainda conseguia me molhar. Ao poucos, todo o lugar estava inundados. Eu estava sentando no chão, abraçada em meus joelhos chorando. Mesmo que eu quisesse, não podia ir embora, tenho que ficar.
Acho que acabei adormecendo, mesmo naquela situação horrível. Sonhei que estava quente, alguém me pegava no colo com cuidado, acho fui deixada em uma cama, era tão confortável, uma toalha enxugava todo meu corpo e por fim, me deu um chá quente. Que sonho gostoso. Penso que apenas em um sonho haveria um travesseiro tão quentinho e confortável.
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Atualizado até capítulo 108
Comments
Erlete Rodrigues
ele deve tá se recuperando escondido ele pode andar
2024-09-16
0
Isabel Esteves Lima
O Magnus pode andar.
2024-07-12
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Nil
Estou maravilhada com a estória 👏👏👏👏👏
2024-05-31
1