Seu Amor Me Curou
Lembro de uma frase que li faz bastante tempo, dizia assim: "Vão errar contigo, ainda por cima, farão você pensar que o errado na história toda não são eles, mas você". É um bom resumo do que vivi toda minha vida. Aliás, eu me chamo Rafaela Cardoso e esta é a minha história.
— Olha a hora! Estou mega atrasada! — Nem podia acreditar que finalmente aquele dia chegou. Consegui juntar dinheiro na poupança, trabalhando duro no restaurante, para conseguir pagar a matrícula e a primeira parcela da faculdade!
— Bom dia, filha. Não vai tomar café? — Minha mãe perguntou, ela estava usando novamente uma blusa de mangas. Será que meu pai fez de novo?
— Bom dia, mãe. Não está um pouco quente hoje para usar uma blusa de inverno? — Optei por ser um pouco mais sutil.
— Sabe como é, seu pai chegou irritado ontem, acabou exagerando, mas a culpa é minha, eu tirei a paciência dele. Não se preocupe com isso. — Minha mãe sempre tentava encobrir os absurdos do meu pai. Nunca entendi porque aceitava aquela situação. Era ela que arcava com todas as despesas. O babaca do meu pai apenas passava o dia bebendo e gastando o dinheiro que nem dele era.
— Mãe... Mas.. — Tentei falar, mas a minha mãe interrompeu enquanto eu falava.
— Você disse que estava atrasada, né? Não pense nisso. Coma seu café da manhã. Você tem que ir na faculdade se matricular, vai acabar perdendo a hora do trabalho, se continuar nesse ritmo, terá problema no trabalho hoje. Come! Come! — Minha mãe disse entregando umas torradas para mim. Não seria a primeira ou última vez que ela muda de assunto quando se trata da agressão que ela sofria diariamente por conta do meu pai. Queria ajudar, mas o que posso fazer? Minha mãe segue se negando a sair de casa, por mais que eu insista nisso.
— É, você está certa. — Não, não está! Eu vou crescer. Conquistar meus sonhos. Vou mostrar que tem um mundo todo do lado de fora esperando por ela. Vou conseguir soltar minha mãe dessa gaiola que o meu pai a colocou.
Por sorte, não dei de cara com meu pai hoje, deve está de ressaca jogado em algum cômodo da casa. Melhor assim. Hoje inicia mais um capítulo da minha vida. Melhor começar com o pé direito e sem confusão.
— O cartão foi recusado. — A atendente disse com um sorriso desanimado.
— Quê? Não! Impossível. É a minha poupança. Vou ver no aplicativo do banco, para saber se está havendo um erro. — Eu estava tremendo. Será que fui roubada? Mas eu nem usava o cartão. Sempre estava no meu quarto. Não fazia sentido.
Meu coração batia tão rápido, suspeitei que atendente podia ouvir do outro lado do guichê. O aplicativo estava demorando mais do que o normal para abrir, deve está testando minha paciência. Finalmente estava aberto, mas para minha surpresa e tristeza, a conta estava zerada. Olhei o extrato, havia uma retirada na última sexta. Zeraram a conta.
Me desculpei com a atendente, expliquei que houve um imprevisto, que teria que ir no banco resolver, mas na verdade, eu não podia ir para o banco naquele dia, tinha que voltar para o trabalho. Trabalhava em um restaurante pomposo no centro da cidade. Durante o almoço minha mãe me ligou para saber como tinha sido a matrícula. Falei a semana inteira sobre isso, já esperava sua ligação.
* CHAMADA ON *
— Filha, deu certo? — minha mãe parecia nervosa.
— Desculpa, mãe. Não sei o que aconteceu, o dinheiro desapareceu. Tiraram tudo. Fui roubada. E não faço ideia de como isso aconteceu. Eu nem tirei o cartão de dentro de casa. Foi tão difícil juntar. E agora? Meu sonho acabou? Vou no banco e depois na polícia. Tenho que conseguir reaver o valor de alguma forma. — Eu estava chorando. Havia passado boa parte do expediente baixo astral por conta disso, mas falar com minha mãe foi a gota d'água.
— Meu amor, não se preocupe. Vou te ajudar a juntar novamente. Seu pai disse que pegou o cartão achando que era o dele, sacou todo dinheiro, mas não se preocupe. Em menos de seis meses, se eu e você nos esforçamos muito, vamos conseguir juntar tudo. Seu sonho não acabou, apenas atrasou um pouco. Próximo semestre sem falta você começa. Juro que vou te ajudar. Não chora. — Minha mãe tentava me consolar, mas era impossível na situação.
— Obrigada, mãe. Quando eu chegar em casa, a gente conversa sobre isso. Tenho que voltar para o trabalho. Meu gerente vai acabar brigando comigo se me pegar no celular. — Não queria deixar minha mãe ainda mais preocupada. Tenho certeza que a briga de ontem pode ter sido por isso. Quando chegar em casa eu descubro.
— Vou fazer sua comida preferida. Vai te animar. Beijos. Mamãe te ama muito. — Minha mãe gritou do outro lado da minha. Talvez estivesse se sentindo culpada.
— Eu te amo, mãe. Até mais tarde. — Respondi antes de desligar.
* CHAMADA OFF *
No fundo, não posso mentir, a primeira pessoa que desconfiei ter feito isso foi meu pai, mas não queria acreditar,que tipo pai que rouba a filha, o sonho dela, o futuro dela. Não tinha como ele ter apenas confundido o cartão, até mesmo a senha é diferente da dele. Passei o resto do turno inteiro em um misto de tristeza e raiva.
Saí do trabalho, caminhando sem rumo, queria pensar um pouco antes de ir para casa. No meio do caminho, quando estava atravessando a rua, um furgão preto parou na minha frente, dois homens desceram e me pegaram a força, me jogando dentro do veículo, que partiu no mesmo instante.
— Você é mais bonitinha do que imaginei. Aquele velho tem muita sorte — Um dos homens disse passando a mão no meu rosto, por reflexo acabei socando o rosto dele.
— Não se aproximem de mim, seus nojentos! — Gritei, mas acabei levando um tapa que me deixou tonta na mesma hora. Meu ouvido zumbia.
— Que vadia. Vamos ter que te domesticar antes? Seu pai bem disse que você era arisca, mas assim como sua mãe, apenas precisava de umas boas lições para aprender como se deve agir. Eu posso ensinar bem direitinho. — O homem se aproximava de mim novamente com um sorriso no rosto.
— O que você está falando? Eu não estou entendendo absolutamente nada. — Algo estava errado. Preciso sair daqui de alguma forma.
— Você está se fazendo de desentendida ou seu pai amado não te contou? Para quitar a dívida de jogo que ele tinha, seu papai te vendeu para a mafia. Com esse corpinho e alguns boas lições você ficará ótima em um de nossos bordéis chiques. — O homem tinha um sorriso assustador.
Não pode ser. Como um dia que acordei cheia de sonhos terminou em um pesadelo? Fui vendida? Não! Não! Não pode ser. Não posso deixar eles me levarem. Olhei sorrindo para o homem que se aproximava de mim, chutei bem no meio das sua pernas e corri em direção da porta.
— O que você acha que vai fazer? Pular do carro nessa velocidade? Está querendo morrer? — O motorista gritou, enquando o outro homem já estava se recompondo e vindo na minha direção.
— Prefiro morrer a ficar nas mãos de vocês, babacas. — Falei antes de pular.
— Seu idiota! Para o carro! Porque tu não travou as portas, idiota. Para sa merda. O chefe vai acabar com a gente por danificar a mercadoria. — O homem gritou segurando na porta que eu havia pulado.
O mundo girou. Eu ouvia ele gritando, mas parecia tão distante. Tudo aconteceu em segundos, mas pareceram horas na minha percepção, meu corpo foi arremessado com muita força. No primeiro impacto, ao bater no chão, minha consciência já se despedia, senti sangue se espalhando em mim, o cheiro era tão forte. Ao menos eu não sinto dor alguma, nem absolutamente nada. Então... Morrer é assim?
***Faça o download do NovelToon para desfrutar de uma experiência de leitura melhor!***
Atualizado até capítulo 108
Comments
Naizete Bezerra
começando 30 09 24/Rose//Rose/
2024-09-30
0
Erlete Rodrigues
nossa adorei o começo
2024-09-15
0
Adryelle de jesus😍
Deveria ter foto /Pray/
2024-08-22
1