^^^L O R E N Z O^^^
Há coisas que eu aprendi cedo demais na vida.
A primeira é que nada do que parece limpo, realmente é. A segunda é que quem controla o dinheiro, controla as pessoas.
Para alguns sou um nome que ecoa nas sombras, onde o dinheiro troca de mãos sem querer ninguém escreva recibos. Para outros, sou apenas um investidor de negócios promissores — um homem de terno bem cortado, que fala baixo e assina contratos que rendem manchetes no setor empresarial. Principalmente acolhendo pequenas empresas no Brasil.
A linha entre essas duas versões é fina, e eu caminho sobre ela todos os dias.
O mundo que herdei de minha família na Itália não é apenas feito de terras, vinícolas, hotéis de luxo e mundo sujo. É feito de rotas, acordos, dívidas que passam de geração em geração. E foi justamente isso que me trouxe ao Brasil.
Oficialmente, estou aqui como investidor internacional, interessado em expandir meu portfólio no Brasil — e, desta vez, Belo Horizonte é o ponto de partida. Extra oficialmente, vim cuidar de interesses que exigem minha presença.
Não confio em intermediários para decisões que moldam o futuro da família Bianchi.
Saí do banho ainda com o vapor invadindo o ambiente. A água quente tinha levado o cansaço da viagem, mas não a minha atenção constante ao que viria à noite. Enxuguei o rosto devagar, olhando meu reflexo no espelho. A barba curta, o cabelo penteado para trás — cada detalhe calculado. Não se trata de vaidade, mas de linguagem. "Quando se é quem eu sou, cada centímetro do que se mostra ao mundo é parte da negociação.
No closet, meu terno já estava preparado. Um Ermenegildo Zegna azul-escuro, sob medida, alinhado na arara como se me esperasse. A camisa branca impecável, gravata de seda cinza-prata.
Deslizei o paletó pelos ombros e senti o caimento perfeito. O tecido abraçava o corpo de forma discreta, mas imponente.
No bolso interno, coloquei o relógio Patek Philippe — presente do meu avô — e o telefone exclusivo para contatos estratégicos. No punho esquerdo, um Rolex Oyster Perpetual, prateado, simples para quem olha de longe, mas caro o bastante para mandar um recado: eu posso tudo.
Enquanto me vestia, minha mente voltou para a semana anterior, ainda na Itália.
Saí de Nápoles no início da manhã, depois de encerrar uma reunião com representantes de um grupo de exportadores de vinho. O voo para o Brasil foi longo, mas me deu tempo para revisar relatórios, contratos e, principalmente, o perfil de quem estaria no jantar de hoje. Não viajo para conhecer pessoas — viajo para confirmar quem vale o meu tempo.
O destino final foi Belo Horizonte. Uma cidade que, para muitos, é só mais um ponto no mapa. Para mim, é uma porta de entrada para oportunidades, e para problemas que precisam ser resolvidos antes de crescerem.
O jantar desta noite é parte disso.
Um empresário local, Henrique Moreira, fechou um contrato significativo com meu apoio financeiro. Oficialmente, sou o investidor que confiou no potencial da empresa dele. Na prática, estou interessado em ver como ele lida com poder. Dinheiro nas mãos erradas pode ser um problema. Dinheiro nas mãos certas pode ser uma arma.
Terminei de ajustar a gravata e desci para a sala.
Meu motorista, Vittorio, já me esperava com o carro — um Maserati Quattroporte preto, trazido da Itália por capricho meu. Ele abriu a porta e eu entrei, sentindo o couro macio do banco se moldar ao corpo.
— Está tudo preparado no restaurante? — perguntei.
— Sim, senhor. Mesa reservada, segurança discreta posicionada — ele respondeu com a eficiência que espero.
Olhei pela janela enquanto o carro avançava pelas ruas de Belo Horizonte. Prédios modernos se misturavam a construções antigas, e as luzes começavam a acender com o cair da noite.
Não importa onde esteja, toda cidade tem a mesma essência: os que mandam, os que obedecem e os que acreditam estar no controle, mas não estão.
No caminho, repassei mentalmente o perfil de Henrique. Ambicioso, boa imagem no meio empresarial, carismático o suficiente para conquistar investidores — mas com sinais claros de arrogância, e de algo pior. Traição. A traição dele não tem nada a ver com negócios, e sim com a vida pessoal. O homem está noivo, e está se envolvendo com a melhor amiga da própria esposa. Sim, eu sei. Consigo descobrir coisas que nem cheguei a pedir para saber.
Ainda não decidi se ele será útil ou descartável a longo prazo. E é justamente para isso que o jantar serve: para observá-lo de perto, longe das palavras ensaiadas e dos e-mails formais.
Mas não será só ele que vou avaliar hoje.
Havia um detalhe curioso no briefing que recebi: sua noiva.
Não costumo me interessar pela vida pessoal dos meus contatos — a menos que essa vida pessoal possa influenciar decisões de negócio.
E, pelo que li, Isadora Martins parece ser diferente do círculo social dele. Discreta, de origem modesta, carreira própria. Isso é interessante.
Poucos minutos depois, o carro parou diante do restaurante escolhido para o jantar — fachada de vidro, iluminação quente e música baixa.
Desci com calma, ajeitando o paletó enquanto dois seguranças discretos me acompanhavam a poucos passos.
Ao entrar, senti o ambiente se ajustar.
Não é magia, é presença. As conversas diminuem por um instante, os olhares se voltam. Algumas pessoas tentam fingir que não repararam, mas eu conheço esse silêncio rápido demais para ser coincidência.
O maître me cumprimentou com deferência e me conduziu até a mesa principal.
Henrique já estava lá, junto com mais dois executivos. levantando-se com um sorriso treinado. Ao lado dele, a mulher que só podia ser Isadora. Digo que podia, porque não cheguei a ver a foto dela. Então, até o momento, não sei como ela era.
— Lorenzo! — Henrique se aproximou, estendendo a mão com entusiasmo. — É uma honra tê-lo aqui. Seja bem-vindo ao Brasil.
— A honra é minha — apertei sua mão, medindo a firmeza do aperto.
Ele virou-se para os homens, me apresentou e logo depois olhou para a mulher.
— Essa é minha noiva, Isadora.
Ela se levantou. O vestido azul-marinho caía perfeitamente, realçando sua postura elegante.
Estendi a mão e, quando nossos dedos se tocaram, segurei por um segundo a mais do que o protocolo exige. Olhei diretamente em seus olhos.
Havia algo ali — um brilho curioso, mas também cauteloso.
— Um prazer conhecê-la — falei, observando como ela reagia à minha presença.
— O prazer é meu — respondeu com um tom calmo, mas que escondia um leve desconforto.
Henrique indicou para que eu me sentasse, e o garçom se aproximou para anotar as primeiras bebidas. Enquanto Henrique falava sobre o contrato, números e projeções, percebi que Isadora ouvia em silêncio, ocasionalmente sorrindo para manter a aparência. Mas seus olhos, eles vagavam, como se analisassem o ambiente com tanto cuidado quanto eu.
E ali, no meio de um jantar de negócios, percebi que a noite prometia muito mais do que eu havia planejado.
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Atualizado até capítulo 56
Comments
Sobral Joyce Sobral
boea Naira bota pra quebrar gatona mostre oque vc sabe fazer de melhor
2023-06-15
34
Luana Alves
cara eu me identifico com ela skksksks/Ok/
2025-07-06
1
Ivanilda Santos
Ainda bem que ele pensa com a cabeça de cima kkk
2025-06-26
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