^^^I S A D O R A^^^
O carro avançava pelas ruas iluminadas, e o vidro lateral refletia a sequência de postes e vitrines que passavam como flashes. Eu mantinha as mãos unidas sobre o colo, tentando não borrar a maquiagem com o calor que se acumulava dentro de mim. Não era só ansiedade pelo jantar — era aquele sentimento estranho que me perseguia sempre que precisava entrar no mundo corporativo dele.
Henrique sempre pareceu confortável nesses eventos: roupas caras, conversa fácil, a capacidade de transformar qualquer frase em uma oportunidade de autopromoção. Eu, por outro lado, tinha que me lembrar de respirar, sorrir no momento certo, manter os ombros retos. Ser “a noiva de Henrique” parecia ter um manual invisível que eu ainda não tinha aprendido de cor.
— Não esquece de sorrir — ele falou, sem tirar os olhos da pista.
Olhei de lado. — Sorrir?
— É um jantar para celebrar e assinar novos acordos. E você está com essa expressão fechada.
— Só estou concentrada — respondi, tentando manter o tom neutro.
Ele não respondeu, e o resto do caminho foi feito em silêncio.
O restaurante escolhido para o jantar tinha fachada de vidro, iluminação quente e discreta, e um porteiro de terno que abriu a porta assim que o carro parou. O ar estava carregado com o aroma de carne grelhada e temperos refinados.
Henrique me ofereceu o braço, e eu aceitei, ajustando o vestido azul-marinho que caía até a altura das minhas canelas. As tiras da sandália nude faziam um desenho delicado no tornozelo, e cada passo soava como um lembrete de que eu precisava manter o equilíbrio.
O maître nos cumprimentou com um sorriso profissional e nos conduziu até uma mesa próxima à parede de vidro, de onde era possível ver parte da cidade. Dois lugares já estavam ocupados por executivos que Henrique conhecia, e o clima era de negócios disfarçados de celebração.
Sentei ao lado dele, escutando-o falar sobre contratos e projeções. Meu papel ali era ouvir, sorrir e parecer interessada — ainda que minha mente vagasse de vez em quando para a lista mental de tarefas do casamento.
Foi no meio de uma dessas conversas técnicas que percebi a mudança no ambiente. As vozes diminuíram ligeiramente, como quando alguém importante entra em uma sala. Vi o maître caminhar até a porta e cumprimentar um homem que, à primeira vista, parecia apenas mais um executivo. Mas havia algo diferente nele.
Ele entrou com passos firmes, um terno azul-escuro perfeitamente ajustado ao corpo e um olhar que varreu o ambiente antes de fixar em um ponto específico. Não precisava falar nada; a presença dele já ocupava o espaço.
Henrique se levantou rapidamente, com um sorriso mais genuíno do que o habitual.
— Lorenzo! — cumprimentou, como quem recebe alguém cujo nome carrega peso.
O tal Lorenzo estendeu a mão e Henrique a apertou com firmeza. Depois que ele apresentou os executivos, ele voltou-se para mim.
— Essa é minha noiva, Isadora.
Levantei-me e estendi a mão, esperando um cumprimento rápido, formal. Mas quando nossos dedos se tocaram, ele segurou um pouco mais, o suficiente para que eu sentisse o calor da pele dele e o peso do olhar que me acompanhava.
— Um prazer conhecê-la — disse com uma voz baixa e segura, que parecia medir cada palavra antes de soltá-la.
— O prazer é meu — respondi, tentando manter a compostura.
Ele se sentou ao lado de Henrique, de frente para mim. Um garçom trouxe vinho, e eles começaram a falar sobre o contrato que estavam celebrando e outro que iriam assinar, caso o Lorenzo aceitasse propostas.
Enquanto a conversa fluía, eu o observava discretamente. Ele não gesticulava muito, mas cada movimento parecia calculado. Bebia o vinho devagar, como se tivesse todo o tempo do mundo. Quando Henrique falava, Lorenzo o ouvia com atenção, mas havia algo nos olhos dele — uma espécie de análise silenciosa, como se estivesse registrando cada detalhe para usar depois. Henrique deu atenção a um dos homens, e por fim ousei falar alguma coisa.
— E o que está achando da cidade?
Ele me olhou por um segundo antes de responder.
— Belo Horizonte é interessante. Diferente do que estou acostumado. Mas gosto de observar lugares novos.
— E já conhecia o Brasil?
— Já, mas não dessa forma — sorriu de leve, como se houvesse um significado escondido.
Henrique retomou a palavra, falando sobre futuros investimentos e eventos empresariais. Eu voltei a observar Lorenzo, tentando entender por que sua presença me causava essa estranha mistura de curiosidade e cautela.
Os pratos principais chegaram. Eu comi devagar, mais concentrada nas expressões à minha volta do que no sabor da comida. Henrique estava no seu elemento, falando sobre cifras e projeções como se fossem histórias fascinantes. Lorenzo, por outro lado, parecia mais interessado em absorver o ambiente do que em falar.
De vez em quando, eu percebia seu olhar voltado para mim — não de forma invasiva, mas como se estivesse tentando descobrir algo que eu mesma não sabia.
No final da noite, Henrique pediu a conta e levantou-se para falar com um conhecido que estava em outra mesa. Fiquei sozinha por alguns minutos, mexendo no guardanapo. Lorenzo, então, inclinou-se levemente na minha direção.
— Você não parece gostar muito desse tipo de evento — comentou, sem rodeios.
Levantei os olhos para ele.
— É tão óbvio assim?
— Para quem sabe observar, sim.
Sorri de canto, meio sem graça.
— E você sabe observar?
Ele apenas arqueou a sobrancelha, como se a resposta fosse óbvia, e recostou-se na cadeira.
Foi nesse instante que ouvi o primeiro grito.
Alguém próximo à entrada deixou cair uma taça, que se espatifou no chão, seguida pelo som seco de madeira arrastando — cadeiras sendo derrubadas.
Virei a cabeça e vi três homens entrando, todos encapuzados, armados e gritando para que ninguém se movesse.
— Todo mundo quieto! Mãos na cabeça! — um deles ordenou, apontando a arma para o alto.
O restaurante, que segundos antes parecia um retrato de tranquilidade, mergulhou no caos. Pessoas se levantaram de repente, tentando correr para qualquer lado. Garçons derrubavam bandejas, o som de pratos quebrando se misturava aos gritos desesperados.
Eu congelei, meu corpo recusando-se a reagir. Mas Lorenzo se levantou, passou uma mão firme pelo meu braço e falou baixo, quase no meu ouvido:
— Fica perto de mim.
A firmeza no tom não deixava espaço para discussão. Senti sua mão me guiando com precisão, desviando de pessoas e mesas viradas, enquanto, discretamente, ele fazia um movimento quase imperceptível com a outra mão — um gesto para dois homens de terno que surgiram do nada. Seguranças dele, percebi depois.
Enquanto os ladrões gritavam e exigiam carteiras e joias, Lorenzo me conduziu por um corredor estreito até uma porta lateral. Empurrou-a, revelando um espaço pequeno, talvez uma sala de serviço ou depósito.
— Fica aqui e não tente abrir a porta por nada — disse, olhando diretamente para mim. Sua voz era baixa, havia autoridade nela.
— Mas… e o Henrique? — minha voz tremeu, mais alta do que eu queria.
— Ele sabe se cuidar — respondeu seco, como se não houvesse espaço para discussão.
Antes que eu pudesse retrucar, ele entrou junto e fechou a porta por dentro, girando a tranca. Ficamos frente a frente naquele espaço apertado, tão próximo que eu podia sentir o calor que emanava do corpo dele e seu perfume masculino.
Meu peito começou a subir e descer rápido demais. Não era só pelo tiroteio lá fora, era o maldito pavor que eu sempre tive de lugares fechados. O ar parecia variar, e minhas mãos começaram a suar.
— Eu… preciso sair… — murmurei, encostando-me na parede fria.
— Não — ele se aproximou ainda mais, com o olhar fixo no meu rosto. — Lá fora é pior. Em questão de minutos, estaremos seguros.
O som abafado de passos apressados ecoou do outro lado da porta. Meu coração disparou. Pela fresta da madeira, uma sombra se moveu. Alguém estava passando pelo corredor e diminuía o passo.
Meu instinto gritou para correr, mas a mão dele pousou firme na minha cintura.
— Eu ... Eu não consigo respirar direito.
— Olha para mim — ordenou, a voz grave e baixa, quase em um fio de voz. — Me desculpe pelo que vou fazer. Só confia em mim.
Antes que eu pudesse perguntar qualquer coisa, os lábios dele tocaram os meus. No início, o choque me fez prender a respiração, depois, a sensação se espalhou por mim como fogo. O beijo não era apressado, mas intenso, seguro, como se ele quisesse me prender ali para que eu esquecesse todo o resto.
O barulho dos passos ficou mais distante, mas ele não se afastou. Uma de suas mãos subiu pela lateral do meu corpo, parando na curva do meu pescoço, enquanto a outra mantinha minha cintura contra a dele. Eu podia sentir o batimento forte do seu coração, ou talvez fosse o meu.
Quando finalmente se afastou, seus olhos ainda me seguravam.
— Respirando melhor agora? — perguntou, como se soubesse exatamente o que tinha feito.
Assenti, incapaz de formar qualquer resposta coerente. Lá fora, o som de gritos se misturava a ordens secas. Ele encostou o ouvido na porta por alguns segundos, avaliando.
— Acabou. — A voz saiu firme, mas baixa. — Vamos sair daqui.
Abriu a porta, e a luz do corredor invadiu o pequeno espaço. O salão ainda estava uma bagunça: mesas viradas, vidros quebrados, pessoas chorando. Henrique não estava à vista.
Lorenzo me guiou com a mão na minha lombar, como se quisesse garantir que ninguém mais se aproximasse.
Estou do lado de fora, observando os policiais prenderem aqueles delinquentes.
— Graças a Deus você está bem. Procurei por você em cada canto dessa bagunça, não imagina o pavor que me fez passar. — senti o abraço de Henrique.
Olhei para Lorenzo que estava um pouco distante de mim. Ele limpou a garganta e olhou para o outro lado.
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Atualizado até capítulo 56
Comments
Juliana S Andrade
aí aí viu beijou a boca q mamou o Jean e o restante da máfia e acha q o pau precioso de mais pra meter nela estando grávida de outro kkkkkkkkkk
2025-07-24
3
Joselma Trajano
ja vejo , Vitor vai ficar candelando muito na Helena .
2025-07-31
1
Luana Alves
Nossa 🤣
2025-07-06
1