Jantar

Era um pouco mais de sete da noite quando o porteiro anunciou a chegada de quem mamãe chamava de Lizzie. Ela tinha caprichado na escolha do menu, pois essa visita além de cortesia também seria sobre negócios. Eu tentei não me arrumar muito, imaginava que seria um saco, por isso na primeira oportunidade sairia correndo para meu quarto.

— Ela vem com a filha, seja educada e receptiva. — Dona Rachelandava de um lado para o outro enquanto falava, antes de ir abrir a porta.

— São novas aqui, não é? — perguntei enquanto caminhava até o sofá e sentei.

— Sim, seja amiga da filha dela, pois pretendo fazer sociedade com Lizzie e seremos muito próximas. Assim espero. — Eu podia notar o quanto ela estava animada por aquele possível negócio, como a muito tempo não via.

Revirei os olhos imaginando como seria essa filha que eu teria que ser amiga. Não faço amizades sobre pressão.

Ela abriu a porta e quando chamou minha atenção para cumprimenta-las quase tive um troço ao ver Pietra ao lado da mulher de aparência jovial. Mamãe nem disfarçou a surpresa ao olhar Pietra.

Mesmo sem jeito, enquanto ela nos apresentava tentei usar meu melhor sorriso, mas se nem minha mãe estava conseguindo disfarçar bem, imagine eu diante daquelas circunstâncias.

Após todas acomodadas nos sofás, eu não conseguia olhar para outro lugar que não fossem minhas mãos ou as paredes. O tempo parecia estar se arrastando enquanto eu ficava parada, não querendo ouvir o que elas falavam e nem olhar Pietra. Até o momento em que minha mãe decidiu ir até o escritório com Lizzie e nos deixou sozinhas na sala.

Ficamos ambas em silêncio. Eu só conseguia me perguntar o que fiz para merecer aquilo. Pietra estava em todos os lugares, agora até mesmo em minha casa.

— Quem diria — disse ela de repente, quebrando o silêncio, sentada no sofá a minha frente, se inclinando, apoiando os cotovelos nos joelhos. Mais uma pose de sua sessão garota sexy. Penso. — Então aqui é o seu castelo, princesa?

Tentei conter o riso.

— Idiota. — Cruzei os braços, olhando em outra direção.

— Sabe que eu não me importo com essas suas palavras rudes, não é? — Pelo canto do olho notei ela sentar-se mais a vontade.

— Muito menos eu com as suas, então melhor ficar calada.

— Por que sempre fica tão irritadinha?

Percebi ela sorrir

— Essa sua ousadia ao falar comigo quando claramente eu não gosto sequer do som da suas voz, obviamente me irrita! — Mantenho meu olhar no dela enquanto penso que na verdade o som da voz dela é até agradável e seus olhos me tiravam do sério, junto ao sorriso que naquele momento sumiu de seus lábios. Mas eu morreria negando.

— Deveria agir de forma um pouco mais madura, pois eu não estou aqui em sua casa, de frente para você, porque quero. Também não falo para irritá-la. Não sempre. As vezes… tenho necessidade de saber o quê se passa nessa sua cabeça de patricinha idiota.

— Por que diabos o que passa pela cabeça de alguém que você julga idiota, possa te interessar? — Movi a cabeça negativamente — Você deve gostar mesmo é de ser insuportável!

— Porque infelizmente… — Ela fez uma pausa e notei seu tom de voz mudar. — Eu até gosto dessa patricinha idiota.

Fico sem reação, expressão e até mesmo sem saber o que pensar ao ouvir suas palavras.

— Vamos jantar meninas. — Mamãe surgiu do nada, caminhando direto para a sala de jantar.

O jantar foi tenso e desconfortável, claro. Eu havia esquecido até mesmo como mastigar. Por sorte passou rapido. Nossas mães não paravam de tagarelar e logo estavamos de volta na sala, onde elas começaram a falar sobre nós, as filhas. Mamãe, de forma disfarçada, comentou sobre não conseguir imaginar como Lizzie permitia sua filha vestir-se daquele jeito.

Nesse momento eu pude notar um pequeno sorriso nos lábios de Pietra. Era incrível como tudo o que deveria irritá-la, parecia ter efeito contrario.

Quando o assunto chegou a nosso gosto musical, foi ai que mamãe falou sobre eu ser apaixonada pelas músicas de Bruno Mars e claro, Lizzie comentou sobre Pietra também adorar e já ter ido a alguns shows. O que me deixou com uma super ponta de inveja.

— Por que não mostra sua coleção a ela, filha? — Mamãe me olhou, quase dizendo um "vai logo".

Respirei fundo, dando meu melhor sorriso enquanto levantava. Pietra também levantou e me seguiu até o quarto. Assim que abri a porta senti meu coração batendo mais acelerado que nunca. Andar, pensar e até mesmo respirar estava difícil, eu queria mandar ela embora, tanto de meu precioso quarto quanto de meus pensamentos.

— Você gosta de vermelho, hein? — comentou ao olhar cada canto de meu quarto inteiramente decorado em vermelho e branco.

Eu estava me sentindo muito desconfortável, pois entrar em meu refúgio era intimidade demais.

Não respondi, indo direto até o closet, onde peguei uma imensa e pesada caixa que quando Pietra me viu carregando, veio para ajudar e juntas colocamos encima da cama. Sentamos frente a frente, abri a caixa onde estavam CDs, camisas, pôsteres e várias outras coisas.

— Você gosta mesmo — disse ela pegando um CD. — Tenho um desse autógrafado.

Eu diria que meus olhos brilham só de imaginar.

— Sério? como conseguiu?

— Fui a um Meet and Greet e ele autografou. — falou como se aquilo fosse uma bobagem.

— Você foi a shows viu ele de perto, pôde abraçar e conseguiu autógrafo. Como pode falar assim, como se isso fosse bobagem? Tem noção da quantidade de pessoas que queriam essa chance? E que depois disso sempre que contassem a alguém seus olhos iam lacrimejar e sentiriam o coração saltar apenas por lembrar… — me calei ao prrcebet cara dela ao me olhar. — O que foi?

— Essa sua paixão. — Sorri baixando a cabeça. — Você merecia bem mais que eu, com certeza. Mas sabe, também poderia ir a shows, acredito que sua condição financeira não é das piores, o problema é que você precisa conhecer o mundo lá fora. Essa cidade pequena não vai te trazer nada de bom.

— Gosto daqui. Meu pai mora em Londres e eu poderia estar lá, mas prefiro aqui onde conheço todos. Me respeitam e sou adorada. Ou pelo menos era — murmuro a última parte.

— Respeito? Adoração? Apenas quando você faz algo bom aos olhos dos outros. O que ganha com isso? Caso contrário é mal falada, mesmo que tenha feito algo que você julga legal.

Baixei a cabeça fechando a caixa.

— Talvez eu não queira ganhar nada mais que sorrisos e olhares de admiração, as vezes.

— Como não? — Ela segurou minha mão e fiquei estática. — Você gostaria de ir conhecer seu ídolo. Também deve ter outros sonhos que estando aqui não conseguirá realizar. Existem coisas mais legais e importantes do que ajudar a primeira dama a organizar uma festa. — Ela soltou minha mão e só então relaxei um pouco — Lá fora existe muito mais oportunidades.

— Por que está me dizendo isso? — Franzi o cenho.

— Porque eu já ouvi o suficiente sobre você por aqui, então acredito que não mereça viver em função do que os outros pensam. Terminar os estudos, fazer uma faculdade aqui e passar o resto da vida trabalhando sem ter realizado sonhos, convivendo com as mesmas pessoas hipócritas ao redor. — Ela moveu a cabeça negativamente. — Eu mesma quero dar o fora daqui em breve.

— As vezes vale a pena ser eu, sabia? — Levantei da cama enquanto tinha uma ideia. — Você acha que ajudar em uma festa beneficente e ter a admiração de algumas pessoas não é suficiente? Esteja amanhã aqui às sete. — Ela me olhou confusa enquanto eu caminhava para a porta e quando abri a mesma escutei minha mãe chamar.

Nos despedimos sem dizer mais nada, suas palavras estavam girando em minha cabeça e talvez a minha proposta estivesse também ocupando a mente dela naquele momento.

Assim que as duas saíram minha mãe fechou a porta e me olhou de boca aberta.

— Viu aquela garota? — Ela sentou no sofá. — Que absurdo! Como Lizzie permite? Não quero você em público com ela. Entendeu?

— Ela estuda na mesma escola que eu…— Dei alguns passos em direção ao meu quarto, pois não queria iniciar uma conversa sobre o fato de Pietra parecer um belo rapaz. — Boa noite mãe.

Fui para o quarto e fechei a porta, suspirando ao me encostar a ela, em seguida fui até a cama onde retirei a caixa colocando-a no chão. Retirei os sapatos e deitei fechanfo os olhos. Vi um filme de tudo que aconteceu no dia.

Pietra dizendo que gostava de mim era como agulhadas em meu estômago. Eu me sentia estranha, nervosa, sem saber ao certo o motivo.

Quando lembrei que falei a ela para vir no dia seguinte, logo voltei a abrir os olhos e me esquivei para pegar o celular sobre a mesa de cabeceira, no intuito de fazer uma ligação antes de voltar a meus devaneios.

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Comments

mary_🕷️🎧🕸️

mary_🕷️🎧🕸️

quem será que e a filha dela em kkkkkkkk

2023-12-30

1

Cleidiane Oliveira

Cleidiane Oliveira

Aí já começaram a conversar e eu estou amando. tomara que se sertão logo quero ver as duas juntas.

2023-01-27

6

Sammy

Sammy

Autora por acaso você é uma máquina de escrever?

2023-01-27

6

Ver todos

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