Sonho

Eu estava sentada em uma grama tão verde que parecia artificial. Usando vestido e batom, ambos vermelhos. Ao meu redor haviam diversas flores também na cor vermelha e ao meu lado estava Pietra que me entregava uma flor, curiosamente branca. Eu sorrio corando, como se já não tivesse vermelho o suficiente ali. Ela coloca uma mecha de cabelo atrás de minha orelha e em seguida aproxima seu rosto do meu. Eu podia sentir meu coração saltando no peito, ansiando aquele possível beijo, mas antes que nossos lábios se toquem escuto a voz de minha mãe ao longe.

...*** ...

— ... Chegue cedo, pois teremos visita para o jantar aqui. — Foram as últimas palavras de minha mãe antes de sair do quarto.

Geralmente após a aula eu ia para o cais ou para a casa de Natasha, mamãe não havia me impedido de sair depois do episódio da cadeia, afinal bastava perguntar a algum fofoqueiro na rua e alguém com certeza teria visto para qual lado fui. Apenas festas era algo que eu não poderia nem pensar.

Durante o dia evitei ao máximo dar de cara com Pietra, mas foi impossível não vê-la na hora do almoço quando passou com Mel, indo senta em uma mesa próxima a que eu estava. Tentei me controlar para não olhar uma vez sequer naquela direção, mas era quase impossível, afinal todos olhavam sem nem disfarçar.

Como se não bastasse nossa conversa na noite anterior, ainda teve o sonho que ao lembrar me fazia sentir vontade de bater a cabeça na mesa, mas o máximo que eu fazia era suspirar impaciente, desejando sair do mesmo ambiente que ela.

— Emmy você não acha? — Eric me tirou de meus devaneios e assim que olhei para ele, consequentemente vi o porquê de todos estarem tão alarmados olhando para a mesa da tomboy conselheira metida. Mel estava sentada com a perna encima das pernas da garota, tentando fazê-la comer uma batata frita. Revirei os olhos antes de ficar de pé segurando minha bandeja.

— Vocês não tem outro lugar para namorar? Isso é feio e nojento, ninguém merece ficar vendo. Você devia se dar ao respeito — falei encarando Mel.

— Não estamos fazendo nada, Emily. Qual seu problema? — disse ela, mas apenas dri as costas a todos, joguei toda comida no lixo e sai do refeitório.

Procurei um lugar escondido e encontrei um pequeno beco entre algumas salas. Me encostei na parede, retirando os cigarros do bolso e acendi um.

Não tenho costume de fumar no colégio, mas minha noite de sono foi péssima e meu estresse era bem evidente. Fumar me acalma.

Com a cabeça encostada a parede fechei os olhos, tragando o cigarro enquanto penso no porquê de ter falado aquela bobagem no refeitório, afinal aquilo não era da minha conta.

Mas a Mel, deveria sim se dar ao respeito já que sabe como as pessoas são. Também ninguém merece ficar olhando duas garotas quase se beijando, afinal até outro dia a maioria das pessoas aqui nem lembravam que existem lesbicas no mundo.

Soprando a fumaça, abri os olhos e quando virei o rosto levei um susto ao ver Pietra caminhando em minha direção.

— O que deu em você? — Observei a confusão que estavam seus cabelos, enquanto pensava se devia ou não responder.

— Não é da sua conta! — Voltei a encostar a cabeça na parede, desviando o olhar.

— Não tenho nada com a Mel. A propósito, ela é hétero, caso você não saiba. Não é porquê agora seja minha amiga que isso tenha mudado. — Apenas encolhi os ombros. — O que você falou no refeitório foi maldoso, não devia tratá-la daquela forma. Comigo já até acostumei, mas a Mel é tão gente boa.

— Não preciso de seus conselhos, lembra? — Olhei novamente para ela. — Conheço a Mel a bem mais tempo que você. E a propósito, eu também sou hétero, então sai do meu pé!

Ela sorriu de canto, me deixando com raiva e ao mesmo tempo fascinada por tamanha beleza.

— Eu não estava te cantando ontem, foi apenas um… desabafo.

Joguei o cigarro no chão e pisei encima.

— Vou me atrasar — falei na intenção de sair daquele local, mas ela estava no meio da passagem. — Com licença.

— Só mais uma coisa… — disse me fazendo-parar e cruzei braços a encarando. — Como pode ter certeza de que é hétero sem ter experimentado o beijo de uma garota?

Frazi o cenho, encarando-a enquanto tentava raciocinar.

— Isso é absurdo! Você beijou a Mel? — Se ela dizia com tanta certeza de que Mel é hétero e agora vinha com aquele papo, só podia ser por que havia experimentado. — Está ficando com ela e dando encima de mim? Quer pegar toda a escola para fazer o teste?

— Claro que não, do estava brincando com você. — Ela sorriu daquela forma que me irritava ainda mais, como se estivesse se divertindo com minha raiva. — Mas te garanto que se experimentar não vai querer saber de outra coisa. — Piscou para mim antes de virar e sair.

Se antes o sonho tinha mexido comigo, naquele momento eu estava completamente revirada por dentro. Havíamos conversado duas míseras vezes e a garota já me tirou o sono. Ela conseguia me causar raiva sem sequer fazer algo, apenas a presença dela me irritava. No entanto, eu me sentia seduzida quando deu uma piscadela idiota. Eu devia estar muito carente mesmo.

Ela não é um garoto, Emily. Eu repetia aquilo milhares de vezes em minha mente.

— Você está estranha — dizia Natasha que corria na esteira em sua academia particular.

Os pais dela eram obsecados por esportes e malhação, por isso tinham sua própria academia, com todos os aparelhos possíveis e também impossíveis. Eu achava impossível sequer tentar usar alguns, por isso apenas ficava observando-a.

— E o George está melhor? — mudei de assunto.

— Sim, recebeu alta e eu vou mais tarde até a casa dele. Vi ela sorrirtoda boba.

— Não me diga que tiveram um avanço? — Ela parou a esteira e me olhou.

— Sim, ele está demonstrando interesse! — Seus olhos brilharam e percebi o quanto ela realmente gostava daquele cara.

— Acho que nunca senti algo assim. — Olhei em direção a piscina, através do vidro enquanto falava.

— Você vai encontrar alguém que deixe suas pernas bambas e o coração acelere, suas mãos fiquem frias e suadas, seu estômago revire... — Acabei rindo e ela e me olhou confusa — Quê?

— Parece que está falando de uma doença e não romance.

— É a doença amor! Seu pensamento está nele a todo momento e o mais lindo na sua vida vai ser o sorriso dele ao te olhar… — Imediatamente lembrei que o único sorriso que não saia do meu pensamento nos últimos dias era o de Pietra.

Balancei a cabeça afastando o pensamento.

— Não sei se quero me apaixonar depois daquilo.

— Esquece o idiota, não era paixão e muito menos amor. — Ela estalou os dedos.

Olhei no relógio do celular em minha mãe e percebi que precisava ir.

— Hoje teremos visita para o jantar, preciso chegar mais cedo.

— Tudo bem, bom jantar.

— Boa sorte com o George mais tarde. — Sai vendo ela sorrir feito boba.

Quando chegueu fui direto até a cozinha onde mamãe estava empolgada dando ordens a Genevive, nossa cozinheira. Peguei algumas uvas na geladeira e fui para meu quarto esperar a hora do jantar.

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Comments

Cleidiane Oliveira

Cleidiane Oliveira

Esse jantar promete em autora kkkkkk

2023-01-27

4

daniele cleffs da silva

daniele cleffs da silva

Ai Emmy você vai fica cadelinha da Pyetra ai continua continua autora ta muito muito top 🙏🙏🙏pfv

2023-01-27

8

Nataly Lopes

Nataly Lopes

O amor já está no ar!!!

2023-01-27

1

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