Nos Braços Dela

Nos Braços Dela

Inconsequente

A casa era grande, dois andares, com piscina onde se concentrava grande parte das pessoas bebendo e fumando. Eu segurava um copo que estava sempre cheio desde que sentei no braço do sofá, tentando não ouvir a conversa chata entre homens. Haviam três rapazes, além de James ao meu lado, cada um tinha uma garota que, assim como eu, apenas olhava as paredes e pessoas que dançavam ou quase transaram ali mesmo na sala.

Já passava das 2 horas da madrugada quando uma das meninas que eu desconhecia me chamou para dançar lá fora, na área da piscina, James incentivou que eu fosse e assim fiz. Já alterada pelo álcool dancei bastante entre os desconhecidos, aceitando suas bebidas e me embriagando cada vez mais.

Não sei que horas voltei a encontrar James, ou se isso chegou a acontecer naquela noite. As últimas coisas que lembro é de estar cansada e perdida, sem saber onde e com quem tinha ido parar naquele lugar.

Caminhando sem praticamente sentir as pernas, fui até o sofá onde me joguei e ao fechar os olhos ouvi barulho de sirenes, mas logo apaguei.

Ouvi ao longe os gritos de minha mãe falando de forma rude, ordenando que me tirassem dalí, me fazendo despertar. Ao abrir os olhos me deparei com algumas mulheres descabeladas e sujas, me encarando. Levantei rapidamente, mas bati a cabeça na cama de cima. Sentindo uma pontada absurda, fiz uma careta de dor, em dúvida se era pela pancada ou a ressaca.

— Alguém aqui me deu uma tijolada? — murmurei massageando as têmporas e dando um fraco sorriso ao perceber a situação em que estava.

Mamãe surgiu em minha frente já me abraçando forte, chamando de bebê. Fechei os olhos, me preparando mentalmente para o que viria a seguir. E não demorou para ela afastar-se e começar a bater em meu braço.

— Onde estava com a cabeça, sua inconsequente?

— Ai mãe, para! — Tentei me defender, percebendo as outras presas rindo de minha desgraça.

Aquele, sem dúvidas estava sendo o pior dia de minha vida.

Justo eu, que sempre prezei e mantive a boa imagem. Pensei quando minha mãe parava de me bater e finalmente pude sair da cela.

O caminho para casa foi bem tenso, pois dona Rachel não parava de falar. E quando chegamos mal tive tempo para tomar banho, já fui obrigada a ir para a sala ouvir mais sermão.

Suspirei entediada desejando um cigarro para relaxar. Tinha tomado um remédio que me fez sentir melhor em relação a dor de cabeça, também aproveitei para tomar uma das pílulas de minha mãe, tão forte que em poucos minutos já me sentia um pouco sonolenta.

— Mãe era uma festa, aparentemente normal. Eu não podia imaginar que estavam com drogas — menti descaradamente enquanto bocejava.

— Como não saberia? Emily, são seus amigos da escola — disse ela com uma mão na cintura enquanto com a outra gesticula nervosa.

Eu estava um pouco mais relaxada por ela ainda acreditar que tinham pessoas de minha escola, quando na verdade todos alí eram de outras cidades.

— Alguns eram penetras. Mãe eu não tinha nada a ver com aquilo, juro que nem sequer tinha visto.

Ela suspirou fechando os olhos, exatamente como fazia sempre que tentava se acalmar. Geralmente era um sinal de que finalmente ia parar de falar, mas dessa vez foi alarme falso.

— Emily, você foi encontrada desmaiada — disse me encarando e desviei o olhar tombando a cabeça para trás, olhando o teto. — Desde que me separei de seu pai eu tento dar o meu melhor. Onde estou errando? Você sempre foi nossa filha perfeita de comportamento exemplar.

Revirei os olhos achando tudo muito exagerado.

— Mãe, eu sou a mesma, apenas fui me divertir e aconteceu esse pequeno problema. — Não esperei que voltasse a falar, levantei do sofá e caminhei para o quarto com a visão meio turva devido ao efeito do comprimido, mal ouvindo o que ela ainda dizia.

Ao chegar em meu quarto joguei-me na cama e dormi por quase 24 horas. Sem dúvidas eu não devia ter tomado o remédio de minha mãe, mas dormir era melhor que lembrar do acontecido e lembrar que eu estava terminando os estudos, prestes a ir para a faculdade, namorando um cara que não gostava e que tinha me metido naquela roubada.

Durante todo fim de semana estive trancada no quarto, ignorei as ligações de meus amigos e principalmente as de James. O episódio da cadeia foi a gota d'água, todos iam comentar e eu seria notícia por toda escola durante dias.

Manter distância seria o certo a fazer, mas na segunda m, após encarar todos no corredor, assim que abri meu armário ele encostou ao meu lado.

— O que você quer? Oferecer cocaína? — falei de forma ríspida sem olhar para ele, enquanto tirava alguns livros e fechei o armário novamente.

— Qual é Emmy? — disse ele com um sorriso cínico, pegando uma mecha de meu cabelo.

— Não me chama assim! — Bati em sua mão. — Tem noção do que você fez? — Tentei falar o mais baixo possível. — Me deixou lá para que fosse presa.

— Eu não te encontrei em lugar nenhum. Essas coisas acontecem. Mas quer saber, Emily? Estou cheio dessas suas frescuras de menininha rica. — Ele alterou a voz e baixei a cabeça notando que as pessoas ao redor não tiravam os olhos de nós. Meu desejo era arrancar as bolas daquele cretino, alí mesmo.

— Escuta aqui seu troglodita, quem você pensa que é para falar assim com a minha amiga? — Natasha chegou o empurrando, com a vantagem de ser bem mais alta que James.

Com aquela altura ela jogava basquete muito bem no meio dos garotos do time. Minha amiga era uma das poucas negras que estudavam na escola, é claro que chamava atenção em meio a aquela gente cheia de preconceitos. Não era fácil. Nos aproximamos desde criança, quando ela fez exatamente aquilo que fez com James, me defendeu.

Ele deu apenas seu típico sorriso cínico e após lançar um olhar desde ela a mim, nos deu as costas e saiu.

Natasha me olhou, com as mãos na cintura e um certo "eu te avisei" escrito na testa.

— Uma coisa é você gostar de beber, fumar baseado, essas coisas nojentas que desaprovo, outra bem diferente é namorar um traficante que te mete em roubada. Esse bolsista não vale nada, amiga!

— No começo ele era legal. — Suspirei — Obrigada. — Ainda com vergonha por estar sendo observada por todos no corredor, caminhei para minha sala.

No fim do dia eu estava sentada no cais como de costume, com meus amigos ao redor, ouvindo o som do violão que George afinava, observando o sol que estava prestes a se por.

Éramos em cinco; Eu, obviamente, Nath, Eric, Mel e por fim, George.

— O nosso melhor músico, o melhor de todos — dizia Nath em sua sessão de elogios para George que nunca se tocava que minha amiga era caidinha por ele.

Ela acha que ele já tinha se tocado, mas devido ao preconceito por sua cor, preferia fingir ser lesado, mas eu o conhecia a tempo suficiente para não crer que era um babaca racista.

Acendi um cigarro e Nath me olhou com cara de nojo, ela tinha horror a cigarros, não suportava a fumaça e sempre desejava me bater quando eu fazia aquilo. O que era constantemente.

— Vou te jogar no mar, menina! — Todos riram observando sua cara de brava, como de costume.

— Não é maconha, okay? — Tentei tranquiliza-lá — Preciso relaxar, mas prometo que vou tentar largar os maus hábitos.

— Quatro meses com James e começou a fumar maconha, mais tempo e você seria a rainha do contrabando.

— Nada a ver. — Revirei os olhos.

— Ok, chega de papo, vamos cantar! — disse Mel, tentando mudar o rumo da conversa.

George começou a tocar e ela seguiu cantando com sua voz melódica enquanto os outros acompanhavam com palmas e eu apenas observava em silêncio, tragando meu cigarro.

...(…)...

— Na verdade, desde que James entrou em minha vida eu não sinto mais que pertenço a aquele grupo. Está tudo muito diferente… — falei sem olhar diretamente para Marta, minha psicóloga há exatamente duas semanas. Tempo em que mamãe tinha me obrigado a visitá-la devido o episódio da cadeia.

A mulher mantinha sua postura a minha frente, permanecendo em silêncio à espera que eu continuasse. Olhei o visor do celular que estava em minha mão e sorri aliviada.

— Deu minha hora, tchau! —Peguei a mochila no chão e levantei da cadeira, saindo em seguida.

Era quase meio dia.

Assim que sai do prédio me deparei com o lindo mar à minha frente. Atravessei a rua e caminhei pelo calçadão. O dia estava agradável. Parei em um quiosque e comprei um refrigerante, segui tentando abrir a lata, sem perceber que já estava na ciclovia, onde levei um baita susto. Dei um pulo repentino para o lado, mas ainda senti o guidão da bicicleta, que surgiu na minha frente, bater em meu braço.

— Você tá cego? — gritei alto alisando meu braço.

— Sai da frente, sua louca! — A pessoa gritou, ainda pedalando enquanto me olhava, em seguida virou para frente, mas depois me olhou novamente e seguiu seu caminho.

Fiquei intrigada pelo fato de ver aparentemente um garoto, mas a voz, mesmo rouca, pareceu de mulher. Bufei de raiva alisando meu braço novamente, prevendo que ficaria roxo.

No dia seguinte, assim que entrei na sala de aula retirei o casaco que usava e quando sentei notei Natasha me olhar aterrorizada.

— James bateu em você? — Praticamente gritou para a sala inteira ouvir e todos me olharam. Baixei a cabeça completamente sem jeito vestindo novamente o casaco.

— Claro que não, está louca? — falei baixo sentindo uma certa raiva por ela ter alarmado toda a sala. — Ontem estava distraída e um ciclista quase me atropelou.

Será que minha reputação não está manchada o suficiente? Me perguntava mentalmente enquanto rabiscava no caderno durante a aula, pensando sobre os últimos acontecimentos desastrosos.

As pessoas cochichavam e outras nem disfarçavam estarem falando sobre mim, onde quer que eu estivesse.

...Foi aí que percebi, preciso de um plano para me livrar daquele encosto chamado James....

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Comments

Euh_silva

Euh_silva

minha mãe

2023-06-24

2

Sammy

Sammy

tô gostando!!😌

2023-01-26

4

Cleidiane Oliveira

Cleidiane Oliveira

já gostei da história.

2023-01-26

4

Ver todos

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