Capítulo 18. Verdades Ocultas

Depois que deixou Lili em casa, no dia anterior, Mário foi direto para casa, esperando encontrar toda a família na mesa de jantar. Sua mãe sempre foi exigente com ele, sobre os horários das refeições. Chegou, deixou o sobretudo com o mordomo e depois de lavar as mãos no lavabo, seguiu para a sala de jantar. Notou que seu irmão ficou desconfortável, mas fingiu não ligar.

— Boa noite, família.

— Boa noite, meu filho, que bom que veio. — disse Elisa.

Os outros também cumprimentaram ele e as crianças perguntaram por Mag.

— Ela está ótima. Hoje levei-as para conhecer nossa casa e assim que estiver pronta e nos mudarmos, vocês irão lá, passar o dia, se sua mãe permitir é claro. — disse Mário, alegre, mas prestando atenção em Mick.

— Alguma coisa te aborrece, Mick? — perguntou Nestor, notando o mal humor do filho.

— Quer saber? Eu não entendo porque vocês estão fingindo aceitar esse casamento com tanta naturalidade. Esqueceram de tudo o que aconteceu? 

— Pois é, Mick, esqueceram, porque você não refresca a memória deles e me conta também. — Cobrou Mário.

— Você é um idiota, Mick, sempre estragando tudo. — reclamou a irmã.

— Foi uma história muito triste, filho, nós não sabíamos que você tinha chegado às vias de fato com Lili e o pai dela acusou ela de andar com vários rapazes e bebeu tanto, de desgosto, que se afogou no rio. — contou Elisa.

— Isso depois de espancar Lili até quase a morte. Tá bom, até aí eu já sei e vocês também já sabem que ela só teve um homem, que fui eu e a filha, que é minha. O que mais tem nessa história, que vocês não me contaram.

— Desculpe me meter, cunhado, mas você tem certeza de que a filha é sua? — perguntou a noiva de Mick

— E você tem provas de que não seja? Acaso sabe de algo ou viu, que denigra a moral de minha noiva. — perguntou o advogado.

— Não trate minha noiva assim, ela só está dando a opinião dela.

— E eu estou dando a minha, se vocês não me contarem o que está acontecendo, eu vou continuar perguntando e considerando vocês sem razão.

A família se entreolhou e o pai, Nestor, tomou a decisão de falar:

— A verdade, filho, é que o pai de Lili, tinha uma família paralela e contava para a outra, que não podia se casar, já que era viúvo, porque Lili dava muito trabalho e vivia correndo atrás de namorados. É isso.

— Pra começar, o namorado de Lili, desde os 14 anos, fui eu. Seu primeiro e único homem, fui eu. Nossa única vez juntos a engravidou de Mag. Ela era virgem e Mag estava me esperando, porque Lili lhe contou que eu iria voltar para elas. Então me desculpem, mas essa história não faz nenhum sentido. — disse Mário, muito desgostoso com a família.

— Você diz isso, porque não foi com você! Fui eu que fui criada como uma bastarda, a preterida, porque papai precisava cuidar da filhinha vadia dele. — enfim a verdade surgiu, pela boca da noiva de Mick, que agora chorava em prantos.

— Não fique assim, querida, você tem a todos nós. — Consolou Mick.

— Agora eu entendi. Vocês estão criando uma cobra, em casa.

— Filho, não fale assim. Laura é uma moça boa, inocente, que teve a infelicidade de ser rejeitada pelo pai. — pediu Elisa.

— Mas ela está fermentando vocês contra minha mulher e minha filha.

— Não é bem assim…— insistiu Elisa.

— Vou dizer uma vez só, prestem atenção. Eu trato diversos casos nos tribunais e tenho um olho clínico para casos assim. Primeiro, se os pais dela não a registraram, foi porque não quiseram, pois a lei garante o nome do pai na certidão. Segundo, eu namorei Lili, muito antes de toda essa tragédia acontecer, ela deveria ser a queridinha da família, vocês sabiam que eu pretendia voltar pra casar com ela e a desprezaram. Terceiro, julgam minha Lili como mentirosa e culpada de algo que ela nem sabia, quando a mentirosa é essa aí.

Os olhos da jovem se esbugalharam e ela empalideceu.

— Eu não menti, ela era vadia, ela foi culpada por meu pai morrer sem me registrar. Ela! Tudo ela! — Esbravejou a noiva.

— Quantos anos você tem? — perguntou Mário.

— Ela tem 23 anos, por quê? — respondeu Mick.

— Por quê a Lili só tem 21 e com tudo que ela passou, se tornou uma mulher forte, lutadora e vitoriosa e não uma menininha recalcada, culpando o mundo por seus problemas e denegrindo a imagem dos outros para se justificar.

— Mário, por favor! — pediu o pai.

— O caso é o seguinte, eu vou casar com a Lili e registrar minha filha. Amo vocês e não gostaria de me afastar, mas é isso que vou fazer, se vocês continuarem apoiando as meninices dessa sonsa. Não estarei com minha família, aqui, no réveillon, se não resolverem essa pendência. Vocês escolham.

Mário olhou bem para cada um e levantou-se, mas antes de sair, preveniu:

— Se algum de vocês cruzarem nosso caminho e ofenderem Lili e Meg, serão processados. Gostam de respeito? Respeitem.

Só então se retirou, sem querer ouvir mais nada.

*

Agora estava levando sua menina/ mulher para casa e percebeu que ela cochilava no banco. Pensou em pedir a certidão de nascimento dela e com o nome e registro dos pais, fazer uma pesquisa. Precisava, também, saber os antecedentes de Laura, quem era sua mãe e verificar se essa história foi bem contada. Ela era mais velha que a irmã, então, seu pai podia não ser casado, quando ela nasceu. Ele pode realmente tê-la rejeitado.

Ajudou Lili a subir até o apartamento e aproveitou para pedir a certidão, que Déia foi buscar. Se despediu de Lili com um beijo e deixou que ela fosse para o quarto tomar um banho e dormir. Aproveitou para conversar com Déia e perguntou se ela sabia de algum parente de Lili, com a desculpa de querer convidar para o casamento.

— Que eu saiba, Dr. Mário, ela não tem ninguém. Um dia apareceu uma louca xingando ela e dizendo que era sua irmã, mas Lili não deu atenção, pois a vida de seu pai sempre foi para o trabalho e para a família, além da bebida, claro.

— Obrigado, Déia. Estou pensando em fugirmos para casar, se ela não se incomodar, é claro.

— Não é uma má ideia, chega desse povo magoando minhas meninas.

— Que bom que temos seu apoio, Déia. Amanhã, falo com ela e de repente, casamos no réveillon.

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