Capítulo 7. Papo Sério

Quando fecharam a loja, Mag já tinha ido embora, sabendo que sua mãe não pegaria leve, quando chegasse em casa. Dona Orquideia, a senhora que cuida de Mag, para Lily trabalhar, era uma senhora doce, mas que não conseguia ter pulso firme com a menina, pois não tinha coragem. Orquideia amava Mag como uma avó e como todas as avós, deixava a menina fazer tudo que quisesse 

Lily chegou em casa e foi recebida com um sorriso da matrona, mas Mag fingia que dormia no sofá.

— Que pena que Mag tá dormindo, trouxe uns biscoitos fresquinhos para ela…

— Eu quero, eu quero! — Mag se delatou, pelos biscoitos.

— Ah, sua danadinha! Vamos conversar primeiro. Deia, leva a caixa para a cozinha.

— Posso fazer um chocolate quente? — perguntou Orquideia.

— Obááá — disseram mãe e filha.

Lily sentou-se no sofá ao lado de Mag, puxou a menina para o seu colo e começou sua conversa.

— Você sabe que é minha cerejinha do bolo, não é mesmo?

— Cerejinha e chantilly.

— Sim, mamãe ama muito essa filhinha. Maaassss, essa filhinha, está fazendo muita bagunça no trabalho da mamãe e isso atrapalha todo mundo. Inclusive andou trombando com os clientes e nem pediu desculpas.

— Mas mamãe…a senhora é  dona e diz que eu tamém, então posso fazê o que quisé.

— Muito esperta, mas não é assim que funciona. Os donos do negócio, são os que trabalham mais e você, como dona só tem feito atrapalhar e fazer bagunça ou seja dá mais trabalho do que tudo. 

— Mas eu sou um docinho, mamãe, todo mundo me acha fofa.

— Você pode ser um docinho, pode ser fofa, mas não precisa ser bagunceira e mal educada.

— Mas mamãe, a senhora não mi dá biscoito, então eu fui fazê.

— Nem vem, mocinha. Nada de desculpa, daqui para frente você não vai mais correr dentro da confeitaria, não vai mais mexer nos ingredientes da cozinha e tem que ser educada com os clientes.

— O qui a senhora vai me dá, se eu fizé tudo isso.

— Não existe troca, mocinha. Se você não se comportar, você não vai mais para lá, vou colocar você numa creche de tempo integral.

Mega esperniou e fez beicinho no colo da mãe, mas Lili não deu o braço a torcer e colocando ela no sofá, foi na cozinha buscar os biscoitos e orquídea trouxe a bandeja com as três canecas de chocolate.

— Agora, vamos comemorar o novo comportamento da Meg, ela vai se comportar direitinho e não vai mais mexer em nada na cozinha da confeitaria.

— Puxa, mãe, a senhora trôxe o que mais gosto. Obrigada, mamãe linda!

— Agora, é mamãe linda, mudou muito né? O que não faz um biscoito! — brincou Lili.

As três comeram os biscoitos e beberam o chocolate quente, cantando música de Natal, o que fazia Deia ser feliz com aquelas duas. Foi a ONG que sugeriu que as duas ficassem juntas, na ONG, não trabalhavam só com jovens mães, mas também com senhoras que ficavam sozinhas e não tinham família. A união das duas foi providencial, desde que Meg tinha alguns meses que orquídea cuidava dela e morava com Lili.

Todos os anos, no Natal, elas arrumavam a casa, montavam uma árvore de natal e ensinavam a filha tudo sobre o Natal. Meg esperava o Papai Noel no dia de Natal, mas sabia que era o aniversário de Jesus. Ela dizia que estava recebendo um presente de Jesus porque ele recebia muitos e dividia com as criancinhas. Viviam em paz a medida do possível.

As lutas e perseguições eram grandes, sendo que o fato dela ser mãe solteira, era o que mais causava a rejeição das pessoas. Por isso, Lili não reprimia Mag, para que ela se defendesse quando tentassem diminuí-la com ofensas, por causa da falta de paternidade. As pessoas nunca viam o fato da criança não ter pai, como o pai sendo o que abandonou a mãe e a criança, sem assumir seus atos.

A mulher sempre era a vadia que se entregou fora do casamento e por isso deve ser sacrificada. São inúmeros xingamentos, humilhações e rechaçamentos. Orquideia foi uma grande companheira nos últimos anos e se davam muito bem. Era a que mais insistia em que Lili desse um tempo no trabalho e arrumasse um namorado.

Agora, Lili  estava praticamente namorando o pai de sua filha e já imaginava a batalha que enfrentaria com a família dele. Não tinha tido coragem de contar a ele tudo que passou e que sua família foi a que mais a humilhou. Nunca lhe deram chance de contar que o filho era de Mário e depois de tantas desfeitas e agressões com palavras, ela achou melhor manter sua filha longe dos avós

Depois que Meg dormiu, Lili sentou para conversar com Orquideia.

— Então filha, vai dar uma chance a ele? — perguntou Orquideia.

— Vou pô-lo em uma prova de fogo, Déia.

— Como assim? — franziu a testa, Déia.

— Ele me convidou para ir à festa de Natal, na casa dos pais dele.

— E por que é uma prova de fogo?

— Quero ver como ele se comporta diante da rejeição deles contra mim.

— Nossa, como você é má!

As duas deram risadas e Déia se prontificou em cuidar bem de Meg, para ela se arrumar bem bonita, para enfrentar os sogros e cunhados. Foram dormir felizes, pela amizade e por tudo estar bem. 

No dia seguinte, Lili resolveu comprar os presentes de Natal. Para Meg, eram os patins que ela tanto queria, para Déia, foi um casaco elegante, amarelo mostarda. Ficou pensando na família de Mário e não conhecia bem todos eles e resolveu comprar só para a mãe dele e para as crianças. Depois de olhar joalherias, lojas de roupa e cristais, resolveu comprar uma caixinha de música vintage, em uma loja de antiguidades.

Deu a hora de ir para a confeitaria e achou o presente perfeito para Mário, combinaria com o dia de Natal e seria uma verdadeira surpresa. Ficou feliz com suas aquisições e começou a planejar o Natal com Mário e a filha deles. Sentia esperança no futuro, novamente. 

Entrou na loja cheia de pacotes e sorridente, fazendo Rachel ficar soltando piadinhas sobre a alegria dela ter nome e não ser Natal. Guardou seus pacotes, vestiu o dólmã e colocou mão na massa, literalmente. Faltavam dois dias para o Natal e já tinha produzido a maior parte das encomendas, mas ainda precisava cumprir o cronograma de produção ou não daria tempo.

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