Capítulo 20

Passei um dia em casa e já parecia que eu tinha voltado a aqueles meses que fiquei estudando trancada.

Voltar a colocar os pés na escola foi bom, tirando a parte de que ficou todo mundo gritando que não morri. Eu estava criando uma péssima reputação de acidentada durante os jogos.

Geralmente era difícil encontrar Charlie antes do intervalo, mas enquanto seguia para minha sala, lá estava ela vindo em minha direção, totalmente na contra mão do corredor lotado.

Parecia que eu tinha passado uma semana sem vê-la, minha vontade era me jogar em seus braços e enche-la de beijos ali mesmo, mas tive que me conter.

— Antes ou depois do intervalo? — perguntei diretamente, não esperando ela parar em minha frente, por isso até demorou a raciocinar antes entender ao quê me referia.

— Melhor antes, senão corremos o risco de perder uma aula.

E sorri confirmando, depois segui meu caminho até a sala.

Ainda me atrevi a olhar para trás e ela estava lá me observando, então fiz sinal com a mão para que fosse embora. Ela era tão óbvia. Por isso no começo eu achava que era uma psicopata me espionando.

O problema em assumir que estava rolando algo era que Marcela não fazia idéia que existia sequer a possibilidade, por isso não dava para só chegar um belo dia pegando ela e todo mundo de surpresa. Além do mais que, as pessoas iam voltar suas atenções para nós duas eisso ia acabar atrapalhando as coisas na escola, então eu via o total de zero necessidade de contar naquele momento.

Com excessão de Laura, a quem falei durante a aula mesmo e ela gritou chamando atenção de todos, logo depois tapou a própria boca para se conter.

— Eu sabia! Era questão de tempo — afirmou. — Só não demora a contar pra Marcela, tá? Não vai ser nada bom se ela adotar a postura da Lorena ao saber que você ficou com o Fred.

...(...)...

Na hora do intervalo segui até a quadra onde marquei com Charlie, mas ela ainda não estava. Fiquei esperando por um tempo, mas como não apareceu decidi ir para o refeitório comer alguma coisa.

— Demorou — disse Marcela me vendo chegar.

— Cadê a Charlie? — perguntei enquanto sentava.

— A professora Lara chamou ela — explicou minha amiga. — Acho que vai rolar alguma apresentação fora da escola e querem que ela participe.

No fim das aulas minhas amigas me chamaram para passar na sorveteria e fofocar sobre alguma coisa, mas Charlie me mandou mensagem dizendo que estava me esperando no campo de atrás da escola, então inventei uma desculpa para correr até lá, onde a encontrei sentada na arquibancada, parecendo concentrada no que escrevia no caderno.

Me aproximei devagar, subindo os degraus com cautela, tentando não ser vista, mas quando estava prestes a dar o bote e assusta-la:

— Eu te amo, mas não faça isso — alertou, sem tirar os olhos do que escrevia. E eu paralisei no mesmo lugar.

Foi preciso alguns segundos até ela perceber o que havia acabado de dizer, então virou levantando a cabeça para me olhar, parecendo tão sem surpresa quanto eu.

— Er... Você demorou — mudou de assunto.

Eu ainda estava em choque. Primeiro porque nunca tinha ouvido aquilo de ninguém além de meus pais. Mas principalmente pela forma natural com que falou aquilo, quando nos conhecíamos a somente algumas semanas.

— As... — Eu até demorei a raciocinar. — As meninas me chamaram pra ir tomar sorvete — falei sentando ao lado dela que fechava o caderno.

— E porquê não foi? — perguntou guardando o objeto na mochila que estava no chão, entre as próprias pernas.

— Ainda pergunta?

Ela sorriu antes de inclinar trazendo a mão ao meu rosto e selar nossos lábios.

Meu coração definitivamente ainda não era capaz de se acostumar com aquela proximidade.

Eu sorri antes de impedir que se afastasse e de fato a beijei, sem pressa pra acabar, aproveitando cada segundo em que tinha sua boca junto a minha.

— Por que não apareceu no intervalo? — perguntei enroscando meu braço ao dela para poder segurar sua mão direita antes de deitar a cabeça em seu ombro. — Marcela disse que vai ter uma apresentação.

— Sim, a professora me escolheu. É algo grande e eu não sei se estou preparada.

— Tá brincando? — Levantei a cabeça rapidamente para olha-la. — Vive me lembrando que sou capaz e agora está esquecendo que também é? Você é uma ótima bailarina. É realmente incrível a forma com que dança. É linda, entregue, leve... são tantas coisas que eu nem sei enumerar. Você é uma bailarina completa!

Ela apenas sorriu, aparentemente sem jeito.

— Não pode deixar isso passar — concluí voltando a deitar a cabeça no ombro dela, observando a grama verdinha do campo a nossa frente.

— Obrigada. — Ela apertou minha mão.

— Por que tá agradecendo? Eu só falei verdades.

— Por estar aqui, agora.

— Por que não estaria? Eu gosto de você. E ao mínimo sinal da possibilidade para ficarmos sozinhas, venho correndo!

Nós duas rimos.

— Eu te chamei aqui porque não vamos nos encontrar mais tarde — explicou e eu levantei a cabeça novamente. — Vou estar ocupada com algumas coisas, por isso temos que deixar o treino para amanhã. Desculpa.

— Tudo bem. — Sorri dando um beijinho rápido no canto de sua boca.

Por um lado eu estava aliviada por não encontrar a mãe dela, mas por outro sabia que precisava ser corajosa o suficiente para confronta-la. Afinal precisava saber o motivo de ter entregue a mim aquelas cartas.

— Sua mãe... Você acha que ela gosta de mim? — perguntei de repente e ela franziu o cenho, parecendo pensar antes.

— Por que não gostaria?

— Ah... Sei lá, talvez por ter te levado bêbada pra casa. — Nós duas sorrimos, mas por dentro eu estava realmente preocupada em relação aquela mulher.

— Ela não tem nada contra você. — Charlie levantou nossas mãos e beijou as costas da minha. — Mas falando nela, preciso me apressar.

Nós levantamos e descemos juntas a arquibancada. Chegando lá embaixo parei puxando ela para mais um beijo antes de voltamos a sair.

Em momento algum soltei sua mão, não queria me preocupar em sermos vistas, até porque não havia sinal de alunos por perto, então seguimos assim até sairmos da escola, onde ao colocarmos os pés fora avistei minha mãe, que parecia estar à minha espera. Pelo horário devia estar ali a muito tempo.

Imaginei que em meu celular dentro da bolsa havia algumas várias mensagens.

— Acho melhor a gente se despedir aqui — falei sem tirar os olhos do carro diante de nós e Charlie seguiu meu olhar, logo entendendo e soltando minha mão.

Eu entrei no veículo com um certo medo. Não sabia o que esperar, afinal nunca fui a pessoa mais aberta com a família. O silêncio dentro do carro foi sufocante. Eu sabia que ela tinha algo a dizer, mas parecia estar direcionando a própria concentração a direção, então temi o que diria quando aquele não fosse mais o foco. Mesmo assim seguimos sem nada dizer até entrarmos em casa e eu estar prestes a seguir para meu quarto.

— Do quê... — disse ela me fazendo parar e virar para olha-la no meio da sala. — Do quê sua amiga gosta? — Eu franzi o cenho, não entendendo. — Para comer — explicou. — Traga ela para jantar um dia desses.

Eu fiquei sem saber como reagir e ela claramente não sabia como lidar com aquela situação inesperada, afinal até dias antes nem eu mesma sabia que um dia me envolveria com uma garota.

— Eu vou perguntar — falei e ela confirmou.

Segui para meu quarto me perguntando o quão estranho foi aquilo, mas logo depois sorri me jogando na cama.

— Amiga? — murmurei pensativa, olhando o teto até bater o braço na caixa que mais uma vez deixei sobre a cama, mas dessa vez eu não queria voltar a abri-la.

Independente do que aquelas cartas significaram algum dia para alguém, não era da minha conta. Eu estava vivendo minha própria vida e nada tinha a ver com aquilo.

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Comments

PaauLa DiisttaakQiiy

PaauLa DiisttaakQiiy

continua Pfv...

2022-11-30

1

Nataly Lopes

Nataly Lopes

amando esse casal

2022-11-30

1

Isabela Ramona

Isabela Ramona

CONTINUA

2022-11-29

0

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