Capítulo 17

Tudo bem não encontrar Charlotte no treino, mas ela não aparecer na escola no dia seguinte? Aí já era demais.

Passei o dia inteiro esperando que surgisse de repente, mas no fim das aulas Marcela disse que ela faltou.

O lado positivo era que eu podia mandar mensagem perguntando se nos encontraríamos para treinar, mas quando fiz isso, não tive resposta. Ela sequer visualizou minha mensagem. Me perguntei se a mãe a deixou de castigo devido a bebedeira e temi que a mulher quisesse afasta-la das más influências daquela escola.

No outro dia eu já nem sabia o que esperar, porque temia me frustrar esperando uma coisa que não ia acontecer, por isso decidi tentar me desligar da possibilidade de encontra-la naquele dia.

Brinquei com os meninos, assisti minhas aulas, fiz trabalho na biblioteca e só quando já estava no fim do intervalo fui para o refeitório onde assim que entrei avistei em nossa mesa, Charlie, conversando e rindo com as meninas. Eu não sei porquê, mas parei e enquanto observava sorri, antes de cair na real e voltar a caminhar até lá.

— Pensei que ia passar o resto do dia enfiada na biblioteca — disse Laura ao me ver chegando.

— Estávamos falando sobre o Fred que levou um fora da Lorena — contou Marcela.

— Ele estava correndo atrás de mim há poucos dias — lembrei.

— Largou ela pra ficar com você, mas parece que o jogo virou. — Marcela riu.

— Talvez ele notou que a Ali já está em outra — disse Laura me olhando de maneira sugestiva e eu franzi o cenho.

— Quem? — perguntou Marcela.

— Continuem fofocando sobre a Lorena e me deixem, ok?

Eu me encostei na cadeira, pegando meu refrigerante. Por minha visão periférica notei Charlotte, que até então estava quieta ao meu lado.

O sinal tocou e Laura praticamente pulou da cadeira.

— Tenho que passar no banheiro. — Ela correu.

— Vou com você! — gritou Marcela. — Vem Charlie?

— Nos vemos na sala — disse ela levantando.

Quando notei que Marcela estava longe o suficiente, antes de Charlie se afastar, levantei também.

— Você sumiu — falei vendo ela terminar de recolher o próprio lixo. — Te mandei mensagem ontem. Algum problema?

— Não, eu só... Estive ocupada.

Juntas seguimos até o lixo onde nos livramos de tudo e eu virei para olhar ela, percebendo que tinha algo errado, mas claramente não queria dizer.

— Vem comigo! — Segurei em sua mão e praticamente arrastei ela saindo do refeitório.

— Onde estamos indo? — perguntou, mas não respondi.

Subimos até o terceiro andar. Eu sabia que o laboratório estava vazio, por isso levei ela até lá.

Confirmando que não havia ninguém, acendi apenas metade das luzes enquanto entrava e segui até o fundo, entre a última mesa e a parede sentei e Charlie parou me olhando, então bati no chão ao meu lado, mas ela sentou na minha frente, apoiando as costas na mesa.

— Por que me trouxe aqui?

— Porque você parece estar fugindo de mim.

— E você decidiu faltar aula por causa disso?

— Ah então estou certa, você tá mesmo me evitando. — Ela abriu a boca pra falar, mas mesmo assim nada disse. — O que eu fiz de errado? É por causa da Marcela?

— O que tem a Marcela?

— Sei lá, vocês estão sempre juntas, pensei que... Estivesse tentando determinar um limite porque tá rolando algo entre vocês.

— Se fosse o caso eu diria.

— Então o quê é pior que isso? — perguntei de repente, mas me arrependi em seguida. — Quero dizer... Por que? É por causa do que você ia me dizer? Você achou que eu ia perguntar? Eu ia mesmo.

Ela sorriu e consequentemente eu também.

— Não tem nada a ver com você...

— Ah tá, não é você, sou eu. — Revirei os olhos. — Essa frase é tão antiga.

Charlie riu, dessa vez de maneira mais descontraída e eu arqueei as sobrancelhas.

— Está chateada assim porque não respondi sua mensagem?

— Qualquer pessoa ficaria.

— Não ao ponto de faltar aula só para ficar sentada no chão de uma sala, ainda chateada.

— Então o quê?

— Você se importa.

— É claro que me importo! — confessei de uma vez. — Você ia gostar se eu te evitasse? — Ela apenas negou com a cabeça. — Então...

Já não aguentava mais aquela situação indefinida. Tinha algo acontecendo entre nós. No início não parecia, mas naquela altura eu já tinha consciência de que estava rolando alguma coisa.

Mesmo que não quisesse, por causa de Marcela, já era inevitável. Os sentimentos estavam revirando em meu estômago até mesmo quando eu simplesmente pensava nela

Nós duas nos encaravamos sem nada dizer, até ela afastar as costas da mesa e se aproximar um pouco mais de mim.

— Eu não fiz de propósito, só foi mais forte que eu — disse. — Precisei me dar esse tempo pra pensar.

— Sobre o quê?

— Você. — Ela levantou uma mão trazendo até meu rosto, que segurou.

Eu precisei respirar fundo para tentar normalizar minha respiração.

— E tudo o que me faz sentir — falou fechando os olhos.

— O-o que eu te faço sentir?

— Eu acho que palavras não são capazes de descrever. — Ela voltou a me olhar, dessa vez com intensidade.

— Então... Me mostra — pedi, quase em um fio de voz.

Charlie ainda hesitou um pouco, mas ao mínimo movimento de seu corpo eu logo fechei os olhos.

Não sabia que desejava tanto, até estar prestes a ser beijada. Eu até mesmo trouxe a mão ao peito, tentando controlar o batimento descontrolado do meu coração, pra ela não notar, mas um barulho nos assustou. Eu arregalei os olhos, assim como ela que levou um dedo aos lábios, pedindo que eu ficasse em silêncio.

Quem quer que fosse, demorou o suficiente para que minhas pernas ficassem dormentes. Eu já estava a ponto de pedir pra sair, depois de tanto tempo parada, assustada olhando Charlie que também me olhava da mesma forma, sem mover um músculo enquanto a pessoa usava o laboratório.

Apenas quando o sinal tocou indicando o fim de uma aula, que a abençoada finalmente saiu.

— Não acredito que faltei biologia e tenho aula de geometria agora — lamentei enquanto finalmente conseguia mover minhas pernas, levantando.

— Falta geometria — sugeriu.

— Só se eu quiser reprovar. — Segui na frente, em direção a porta.

Quando coloquei a mão na maçaneta e abri um pouco, Charlieme obrigou a fechar, me assustando. Virei um pouco o rosto e ela estava tão perto que seu cheiro me embriagou.

— Mais tarde vamos treinar — avisou, mantendo a mão sobre a minha na maçaneta e tudo o que consegui fazer foi confirmar.

Eu não estava me reconhecendo. Sempre fui a furacão, que quando estava afim de alguém, dizia sem problema algum. E para tomar a iniciativa então, eu era a mais desinibida. Provavelmente tirei o BV de uns dois meninos do primeiro ano. Sim, eu era terrível, principalmente em dia de jogos, quando minha adrenalina estava lá encima.

Mas ali, com Charlie, eu parecia aquela brisa leve e as coisas estavam indo com uma calma que nunca imaginei viver antes.

— Alice? — chamou Laura, me tirando de meus pensamentos enquanto observava as meninas treinando.  — Você nem viu o espacate lateral incrível que eu acabei de fazer!

— Ela diz que vai monitorar, mas sequer está prestando atenção — falou Lorena.

— Ah, mas é chata pra cacete — reclamou Marcela.

— Tudo bem meninas, vamos finalizar por hoje — falei já indo até a arquibancada pegar minha mochila. — Não esqueçam de estar aqui mais cedo amanhã, temos ensaio antes do jogo.

— Você vai sentar na arquibancada ou vai usar uniforme? — perguntou Lorena tentando tirar minha paciência. — Parece até que virou a professora de Educação física.

— Se você não calar essa boca agora eu juro que te dou um soco! — Ouvi Marcela ameaçar, mas eu já estava a caminho da saída.

Me sentia ansiosa demais para o treino da tarde, não tinha tempo para ficar ligando pras bobagens da Lorena.

...(...)...

— Alice? — chamou minha mãe assim que fechei a porta de casa. — Chegou uma encomenda pra você, deixei lá no seu quarto.

— Tudo bem, obrigada mãe.

Segui para o quarto onde assim que entrei avistei uma caixa pequena sobre minha cama. Joguei a mochila no chão e me aproximei enquanto fazia um coque nos cabelos, observando o objeto.

Sentei na cama diante daquela caixa aparentemente velha e fiquei tentando entender como abria, até finalmente conseguir e me deparar com várias cartas antigas, sem remetente ou destinatário.

Peguei uma delas e abri, passando os olhos pela letra pequena.

...Ainda não sei como posso fazer isso chegar até você, mas preciso guardar nessas cartas, as memórias e a história de um amor que foi tão forte e bonito quanto qualquer outro que vivi ou vi nascer....

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Cleidiane Oliveira

Cleidiane Oliveira

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2022-11-26

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