Chegando no primeiro andar as meninas me arrastaram pra perto da piscina, para dançar e beber com elas. Eu ainda olhei em direção a varanda, mas Charlotte não estava mais lá.
Entre um copo e outro de cerveja, tentando fazer dança coreografada com minhas amigas e os meninos mais engraçados, sem masculinidade frágil, o tempo passou e nem me dei contas do quão tarde estava, ou o quanto a bebida já estava me deixando meio louca.
— Acho melhor eu ir — falei para Laura, antes de olhar ao redor e não ver Marcela.
— Mas já? Você nem pegou ninguém ainda — disse ela rindo, sendo puxada pela cintura por Matheus, que logo lhe tascou um beijão.
Eu apenas ri me afastando, no intuito de ir embora.
— Quer que eu te leve? — perguntou Fred me acompanhando.
— Só se eu quisesse morrer hoje. — Nós entravamos na casa. — Você bebeu litros de álcool.
— Posso pedir ao Fernando, você sabe que ele não bebe. Melhor que chamar um Uber, afinal você bebeu também e não acho seguro.
Eu parei de andar e olhei pra ele, tendo que concordar. Fernando era irmão mais velho do Fred, que tinha uma porcentagem de juízo maior e um senso de responsabilidade um pouco duvidoso, mas as vezes era quem ficava monitorando as festas que o mais novo fazia.
Juntos procuramos Fernando pela casa, mas não o encontramos, então decidimos nos separar.
Passei pelos cômodos até seguir para a frente da casa, onde assim que abri a porta me deparei com Marcela e Charlie que tinha o braço ao redor dos ombros de minha amiga.
— Meu irmão tá vindo me buscar — disse Marcela. — Vem com a gente, Ali?
Como eu não tinha muitas alternativas, confirmei. Charlotte riu, claramente bêbada, por isso estava literalmente sendo sustentada por Marcela.
Quando o irmão de minha amiga chegou, fui na frente enquanto Marcela e Charlotte, que pareciam inseparáveis, foram no banco de trás.
— Se a mãe descobrir que você tá chegando quase ao amanhecer Marcela... — falou Marcos. — Pior que o pai não voltou ainda, por isso ela tá dormindo com um olho aberto e outro fechado.
— Droga! Pior que a casa da Alice fica longe pra caralho — disse ela.
— Tudo bem, me deixa em qualquer lugar, eu chamo um Uber — falei.
— Pode ficar na minha casa — disse Charlie de repente.
— É o melhor, Ali — afirmou Marcela.
Mais uma vez constatei minha falta de alternativas naquela hora da madrugada, então apenas confirmei.
Quando o carro parou na frente do condomínio, foi a minha vez de servir como sustento de Charlotte que apoiou-se em meus ombros e nós seguimos caminhando.
— Posso te contar um segredo? — perguntou ela enquanto dávamos um passo de cada vez, caminhando devagar. — Mudei de escola por sua causa.
— Minha?
Virei o rosto para olhar ela que mantinha o olhar fixo nos próprios pés.
— Eu sei que você me viu naquele dia. — Ela parou, me obrigando a parar também, e se afastou ficando de frente para mim. — E eu também te vi.
— Eu não... Não lembro — falei desviando o olhar e ela segurou minha mão.
— Você esqueceu Alice, esqueceu tudo, mas eu lembro... — Ela pareceu tão triste ao pronunciar aquilo, que mesmo não entendendo a importância , me fez sentir mal por ter esquecido.
— Eu sinto muito.
— Mas quer saber? Não quero que você lembre.
Eu franzi o cenho não entendendo, mas Charlie apenas seguiu caminhando, mesmo que seus pés fossem de um lado para o outro da rua.
— Espera! — corri um pouco me aproximando. E após passar o braço dela ao redor de meus ombros, seguimos juntas até sua casa.
Quando entramos fomos juntas até o quarto dela onde jogou-se de uma vez e se encolheu na cama.
— Deita aí, Alice. — Charlotte bateu ao lado. — Descansa.
Fiquei observando por um segundo, antes de me aproximar e retirar seus sapatos, logo depois retirei os meus e deitei ao lado, ficando de frente pra ela que já parecia estar em um sono profundo. Seus cabelos caiam no rosto, então eu os afastei devagar, para observar cada detalhe.
Fiquei pensando sobre o que me disse e por mais que tentasse, não entendia muito bem.
...(...)...
Quando acordei me assustei, demorando alguns segundos até lembrar estar na casa de Charlotte. Eu estava sozinha na cama, onde me arrastei levantando a procura de meus sapatos e ao encontra-los calcei.
Devagar abri a porta do quarto e observei o corredor vazio, logo depois sai devagar.
— Boa tarde. — Virei rapidamente ouvindo a voz da mãe de Charlotte, que estava logo atrás de mim.
— Boa tarde?
— Charlie está na cozinha. — Ela sorriu. — Talvez você precise também de um café.
Não parecia brava diante da intrusa que trouxe para casa a filha completamente bêbada.
Eu apenas confirmei e segui até a cozinha onde ao entrar avistei ela sentada num banco da ilha. Ao notar minha presença ela levantou rapidamente.
— Tudo bem? — perguntou parecendo preocupada.
— Eu quem pergunto, você bebeu horrores ontem a noite.
— É... — Ela coçou a cabeça e eu observei sua xícara de café. — Aceita?
— Eu tenho que ir.
Ela apenas confirmou e seguiu comigo até a porta da frente.
— Obrigada — disse. — E desculpa se falei alguma coisa sem sentido. Eu não lembro muito bem, mas acho que pessoas bêbadas não são as melhores para uma conversa.
— Pensei ter dito que bebeu para criar coragem de me dizer alguma coisa.
Ela sorriu sem graça.
— Esquece isso — pediu.
— Sinto muito, mas não é sempre que minha memória é ruim viu. — Prendi o riso e ela sorriu abertamente. — Você vai contar?
— Um dia desses...
Seu tom deixou claro que não diria nada naquele momento, então só restou me despedir e ir pra casa.
...(...)...
Na segunda-feira eu estava com meu bom e velho ânimo.
Comprei café para minha professora preferida, que por acaso é a de Biologia. Ajudei o menino tímido do primeiro ano com a porta de seu armário que vive emperrando. Até mesmo ajudei a velha chata do refeitório enquanto ela ia ao banheiro.
Na hora do intervalo, só depois de dar um "oi" para os meninos do time, fui me juntar às minhas amigas que já estavam em nossa mesa de costume, com Charlotte. Sentei entre ela e Laura, que conversava com Marcela sobre a festa de sábado. Pelo que entendi Laura tinha beijado Gustavo, quando estava ficando com Matheus.
— Mas como foi isso? — perguntei, apoiando minhas costas na cadeira enquanto levava o canudo do refrigerante aos lábios.
— Eu não tenho culpa se eles são padrãozinho — disse ela levantando as mãos. — Estava bêbada, não tinha como diferenciar.
Ouvi a risada de Charlie e automaticamente olhei para ela que também me olhou na hora, então acabei sorrindo, mas logo desviei o olhar.
— Nunca passei uma dessas com meninas — falou Marcela.
— Até porque você prefere as diferentonas — comentou Laura com o olhar em Charlotte. — Vocês ficaram? — perguntou ela de repente, pegando nós três de surpresa. — Ué gente, vi as duas agarradas na festa.
Vi Charlie olhar Marcela, que parecia se recusar a responder a pergunta, preferindo deixar o suspense no ar.
— Não ficamos — respondeu Charlotte acabando com os planos de minha amiga.
Depois das aulas fui para o treino com as meninas e até tentei acompanhar, mas como não consegui manter o ritmo inventei uma desculpa para ficar apenas monitorando.
Claro que Lorena estava de olho, a espera de um passo infalso para afirmar que eu não era mais digna daquele posto de capitã.
Ainda na quadra recebi uma mensagem de Charlotte dizendo que não poderíamos nos encontrar para treinar. Isso foi um verdadeiro balde de água fria em meus planos de perguntar e tentar entender o motivo dela preferir que eu não lembre sobre o dia do acidente.
Será que estou esquecendo mais alguma coisa?
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Atualizado até capítulo 34
Comments
Matysui
Kkkkkkkkk apenas
2022-11-25
3
Ju Sato
Esquecendo alguma coisa?! Não é nada demais, só uma historinha sobre as vidas passadas de vocês duas, nada 'significativo' kkkk
2022-11-25
1
MAIS POR FAVOR
2022-11-25
0