Capítulo 15

Estava na quadra com os meninos, enquanto Thiago tentava me ensinar uns passos básicos de hip hop. No tempo livre ele dava aula para iniciantes e descolava uma grana com isso para pagar o próprio material de estudos. Além de talentoso ele era muito inteligente, afinal não foi atoa que conseguiu uma bolsa para entrar em nossa escola, que era uma das mais caras do país.

— Eu desisto! — falei levantando as mãos em sinal de rendição. — Não tenho o molejo.

Na real, nem mesmo para dançar o que eu já sabia estava sendo fácil.

Sentei na arquibancada ao lado dos outros — incluindo Fred à minha esquerda — e juntos observamos o menino arrasar nos passos, deslizando para o meio da quadra.

— Você vai na festa do Fred esse fim de semana? — perguntou Gustavo, do meu outro lado.

— Eu...

— Você tem que ir, pequena furacão! — gritou Thiago voltando para perto da gente.

— É claro que ela vai — disse Fred levantando de repente e num movimento rápido me jogou sobre o ombro, feito um saco de batatas.

Eu gritei, não sabendo se ria, me desesperava ou enfurecia.

Ainda de cabeça para baixo avistei na arquibancada Charlie e Marcela, que riu acenando, antes de falar algo para a outra e as duas sair.

— Porra Fred me coloca no chão ou eu arranco suas bolas agora mesmo! — gritei e minha mão já ia em direção a elas quando o sinal tocou e ele me largou.

Descabelada, ofegante e furiosa, encarei ele com certa raiva, antes de lhe dar as costas e sair da quadra, assim como todos os outros.

— Desculpa Ali — pediu, correndo atrás de mim. — Mas a gente sempre brincou assim.

— Quando eu quiser brincar você vai saber, ok? — Dobrei no corredor.deixando ele para trás.

Na hora do intervalo não fui para o refeitório porque precisava adiantar um trabalho se quisesse ter tempo livre para treinar para o evento. Fiquei na biblioteca até voltar pra aula. E quando o dia acabou me reuni com as outras da torcida na quadra para comunicar sobre o evento que às inscrevi.

— Quando começamos? — perguntou Marcela.

— Daqui a... Uma semana — respondi.

Com base em meu treino com Charlie, podia ser que daqui pra lá, me sentisse segura o suficiente para fazer aquilo.

— Podíamos começar logo! — disse Lorena tomando a frente das outras que estavam diante de mim. — Desse jeito vamos demorar pra pegar a coreografia e passar vergonha.

— Fale por você, eu sou ótima em pegar coreografia — se gabou Laura, olhando as próprias unhas.

— Eu crio a coreografia, se o problema for esse. — Se ofereceu Lorena.

— Não precisa — falei. — Acredito que todas estão aqui porque são boas o suficiente para pegar os passos antes da apresentação. Eu confio em vocês.

— E se a gente não confiar em você? — Insistiu Lorena, me fazendo revirar os olhos.

— Ai Deus, cadê a Charlie e a sapatilha dela? — comentou Marcela e eu tive que comprimir os lábios para não rir da cara que Lorena fez, mas Laura riu alto, assim como as outras meninas que sabiam do ocorrido.

— Enfim, estejam aqui amanhã para o treino diário, porque logo mais tem jogo!

Caminhei em direção a saída e não demorou até minhas amigas me acompanhar.

— Algum problema, Ali? — perguntou Laura.

— Eu só quero estar bem preparada para passar tudo direitinho pra vocês.

Segui para casa onde fiquei contando os minutos até o horário marcado para encontrar Charlie.

...(...)...

Dessa vez quem abriu a porta não foi ela, mas sim uma moça que informou sobre Charlie estar me esperando na sala de dança.

Carregando minhas próprias sapatilhas, segui até lá, onde ao abri a porta devagar me deparei com ela dançando. Fiquei por um tempo observando, até ela parar de repente e me olhar.

— O quê está esperando?

Eu sorri sem jeito e de fato entrei na sala.

Não demorei a me calçar e quando acabei, Charlie ajoelhou-se a.meu lado.

— Eu te ajudo com o aquecimento.

Mesmo tendo feito aquilo durante tantos anos, parecia minha primeira vez. Ela me auxiliava e aconselhava vez ou outra, até finalmente partirmos para a próxima fase.

Charlotte coordenou os movimentos e eu tentei segui-los. Nada muito complicado, então estava tudo bem. No fim eu estava exausta, por isso apenas me joguei no chão mesmo, olhando o teto, tentando controlar minha respiração enquanto ela desligava a música.

— Nesse ritmo você logo fará até mesmo um Adagio perfeito — disse ela deitando ao meu lado e eu ri.

— Me sinto mais solta — confessei.

— Precisa de ajuda com a coreografia da apresentação? — Virei o rosto para olhar ela que também me olhou naquele momento. — A Marcela comentou comigo que talvez você esteja com dificuldade...

— Você já está me ajudando muito. — Desviei o olhar, voltando minha atenção ao teto.

Ficamos em silêncio. Era confortável.

— Você realmente namora aquele menino? — perguntou de repente.

— Quem? Claro que não!

Eu sabia que todos na escola pensavam e falavam ao contrário, apenas porque eu era amiga dos amigos dele e consequentemente vivíamos ao redor um do outro, mas ficamos poucas vezes.

O silêncio voltou, mas dessa vez não tão confortável assim, até que ela fizesse algo inesperado, que me fez paralisar.

O toque em minha mão começou com a ponta de seus dedos, que deslizaram até alcançar minha palma onde ela segurou. Engoli em seco, tentando me acalmar, mas estava claro o quão desregular estava minha respiração.

Ela nada disse, apenas segurou minha mão e eu não soube o que fazer ou dizer. Fiquei ali, parada, com o coração batendo em minha garganta, até uma batida na porta fazê-la sentar de repente, mas eu permaneci ainda parada, tentando reunir forças.

— Trouxe suco — avisou aquela moça de antes.

Eu finalmente sentei, observando ela caminhar se aproximando com uma bandeja que colocou diante de nós.

— Obrigada Júlia — agradeceu Charlotte, pegando um dos copos que logo me entregou, em seguida pegou o outro e bebeu um pouco.

Eu fiquei observando a cena, como se não houvesse nada mais para fazer naquele momento, até que ela me olhou e sorriu, então lembrei de tomar o meu.

Aquela sensação de Déjà vu estava de volta, nublando minha mente, mas tentei afastar aquele sentimento estranho.

— Acho que está na minha hora — falei colocando o copo de volta na bandeja.

Charlie apenas confirmou e após retirar nossas sapatilhas, juntas seguimos até a porta da frente.

Eu queria ficar um pouco mais e ao mesmo tempo queria ir de uma vez. Era difícil me entender naquele momento.

— Obrigada — falei depois que atravessei a porta, virando para ela. — Você nem me conhece direito, mesmo assim está me ajudando.

Esperei que dissesse alguma coisa, mas ela só ficou me olhando, me deixando sem jeito.

— Er... Vou te pagar um lanche qualquer dia desses — prometi e ela sorriu, se encostando ao batente da porta, cruzando os braços enquanto me olhava. — Fala alguma coisa. — Pedi. — Você tá me deixando sem graça.

— Vou cobrar o lanche — afirmou e eu sorri confirmando.

— Tchau! — Acenei me afastando, ainda de costas, até virar a sair caminhando, sentindo o peso de seu olhar sobre mim.

...(...)...

O fim de semana chegou, e com ele, a festa na casa do Fred que aproveitou a viagem dos pais.

Me jogaram em um grupo no whatsapp, sobre a festa, onde todos estavam animados enviando figurinhas de bebida, deixando claro que seria o que mais ia ter lá, além de muita pegação.

Laura e Marcela já haviam me proibido de não ir, então eu decidi ver no que ia dar.

Geralmente pegava alguém nesse tipo de festa, mas pela primeira vez, quando atravessei a porta da frente vendo aquele bando de adolescente bêbado, a última coisa que queria era me agarrar com um deles.

Desviei de um e de outro a procura de minhas amigas, mas nem sinal delas.

Na área da piscina estava uma loucura, eles tinham jogado algum produto que fez uma espuma crescer e transbordar. Alguns idiotas pulavam lá dentro e outros só riam bebendo e dançando ao redor.

— Pequena furacão! — gritou Thiago, se aproximando com um copo que ele logo me entregou.

Eu queria recusar, mas sendo sincera, para aguentar aquela barulheira só mesmo bebendo alguma coisa, então aceitei e fui com ele até os outros, pelo caminho notando Gustavo pular no meio daquela espuma toda.

— Você veio — disse Fred se aproximando e não sei por qual motivo sua mão veio direto a minha cintura, mas eu virei ficando de costas, não dando a chance dele tentar me beijar.

— Vocês viram a Laura e a Marcela? — perguntei aos outros que indicaram o interior da casa, para onde eu fui logo em seguida, deixando Fred para trás.

Bebi toda aquela cerveja quente, depois joguei o copo de lado, enquanto entrava na casa.

Desviando das pessoas notei que o som que antes tocava uma música agitada, de repente começou a tocar Cigarettes After Sex, uma de minhas bandas favoritas. A música em questão era Apocalypse, que eu conhecia a letra até mesmo de trás pra frente.

A sensação que tinha era de uma nostalgia boa. E tudo o que queria naquele momento, era onde pudesse curtir um pouco, sem ter aquele bando de gente me empurrando. Isso, até sentir uma mão segurar a minha e eu ser praticamente arrastada para as escadas.

Apenas quando já subíamos, notei que a rapitora em questão era Charlie.

Nós duas entramos na última porta no fim do corredor.

— O quê estamos fazendo no banheiro? — perguntei confusa, até ela abrir a pequena janela que havia alí e sentar nela. — Quem coloca janela num cômodo desse? — Ri.

— Vem comigo!

Observei ela se arrastar para fora e simplesmente sumir. Me aproximei da janela e após colocar a cabeça para fora, avistei Charlie na varanda do quarto ao lado.

— Estão todos trancados — explicou apontando para os quartos e eu sorri confirmando.

Sentei na janela e com cuidado passei, até segurar na varanda ao lado e pular a grade.

— E aqui temos uma ótima visão da festa, mas com uma certa paz — concluiu ela.

Me apoiando na grande, observei as luzes lá embaixo, assim como os balões voadores em meio a espuma da piscina e os meninos pulando.

— Toma. — Ela me entregou uma garrafa de gin e eu arqueei as sobrancelhas. — Faz um tempinho desde que cheguei, te vi lá embaixo e decidi te sequestrar.

— Não sei se consigo beber isso — confessei, me apoiando de costas na grade.

Ela pegou a garrafa de volta e tomou um gole.

— Não é tão ruim — sorriu.

— Você tá bêbada, Charlotte? — Ri e ela sorriu mais ainda, claramente um pouco embriagada.

— Charlie — Corrigiu. — Eu tava te esperando — falou ficando séria. — E eu queria te dizer umas coisas, mas... Não sei se consigo estando sóbria.

Dessa vez, eu quem fiquei séria.

— Pode dizer o que quiser — falei, mesmo que de repente tenha sentido um pouco de nervosismo e ansiedade.

— Talvez você me ache uma louca e não acredite em nada, mas...

— Alice? — Ouvi alguém gritar e rapidamente virei avistando Laura e Marcela lá embaixo, acenando.

— O quê tá fazendo aí, sua louca? — perguntou Laira.

Como Charlie estava um pouco atrás, percebi que elas não podiam vê-la.

— Estou descendo! — gritei de volta, me afastando da grade rapidamente. — O que você tava dizendo...

— Esquece — disse ela me jogando um balde de água fria.

Mentalmente amaldiçoei minhas amigas.

— Olha, você pode me dizer depois. Pode ser sóbria mesmo. Eu juro que não vou te achar louca. — Sorri antes de virar, me preparando pra subir na grade e alcançar a janela do banheiro, mas algo me ocorreu e eu virei novamente, ficando de frente para ela que ainda me olhava.

Por um momento desejei ficar, mas um medo desconhecido me dominou, como se eu estivesse prestes a fazer uma coisa errada, por isso apenas segui para a janela e saí.

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Comments

continua por favor

2022-11-24

1

Cleidiane Oliveira

Cleidiane Oliveira

será que acharloty lembra?!

2022-11-24

1

Nataly Lopes

Nataly Lopes

sempre alguém atrapalha elas

2022-11-24

1

Ver todos

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