Fui direto para a sala do conselho estudantil assim que a aula de música acabou. Entrei sem fazer barulho. Ninguém prestou atenção em mim porque todos os olhares estavam voltados ao glorioso Michael Pavlova.
Meu fã clube era dedicado, mas nem se comparava com a legião de pessoas que perseguiam meu priminho. Todos estavam vidrados nele como se o idolatrassem. Apenas me acomodei numa cadeira de plástico qualquer e fingi prestar atenção no que ele dizia.
Os cabelos negros sempre retos e impecáveis tinham uma franjinha sensual que cobria a testa franzida. O porte atlético que me tirava noites de sono estavam cobertos por um uniforme preto bem passado e sem graça que meu tio o obrigava a usar. A echarpe azul escura possuía o mesmo tom de seus olhos profundos e indecifráveis. Ele era o típico mauricinho que me dava sono. Se eu tinha um ego que ia até a lua, Michael conseguia ultrapassar isso ao ponto de soar arrogante e metido.
Costumávamos nos encontrar após as aulas naquela mesma salinha. Era meio desconfortável, admito. Se ele não dividisse seu apartamento com nosso primo Isaac, talvez pudéssemos ir até seu quarto.
Michael dispensou todos com um aceno e um sorriso gentil cheio de falsidade. Eu tinha um pouco de ranço dele porque todos os meus familiares o usavam como exemplo para tudo.
''Ah, mas o Michael é perfeito. Viu como ele passou em Medicina? Ele é um menino de ouro! ''
''Michael saiu na capa de uma revista. Ele nasceu para ser modelo. É o orgulho da família! ''
''Vocês viram que Michael se tornou presidente do conselho estudantil? Não se pode esperar menos de alguém que nasceu para liderar. ''
Só de pensar nesses comentários estúpidos que eu era obrigado a ouvir em todas as datas comemorativas em que nossa família se reunia, eu tinha vontade de berrar e mandar todo mundo ir à merda. Todo mundo cheirava a bunda daquele infeliz otário, mas nenhum se comparava com Isaac Pavlova.
Meu primo era a cadelinha domesticada que beijava os calcanhares do Mick como se ele fosse uma criatura divina que merecia ser idolatrada. Acredito com todas as forças que se Mick pedisse para ele se jogar de um penhasco, Isaac iria sem pestanejar. Chegava a ser assustadora aquela fé cega que ele tinha pelo perfeitinho de meia tigela.
O que ninguém sabia além de mim, era que o orgulho da família nada mais era do que um gay enrustido que interpretava muito bem o seu papel de homem hétero perfeito digno da família tradicional que arrancaria aplausos de Christopher Leal.
Além de ter tirado minha virgindade, Mick continuava se encontrando comigo uma vez na semana para que eu tirasse na marra aquela postura de bom moço.
— Nos vemos amanhã, pessoal — murmurou Mick com a voz sempre calma e gentil.
— Não quer ir com a gente no barzinho? — perguntou uma garota, os olhos brilhando ao mirar no meu primo. — A gente paga para você.
— Sim! — Uma menina surtada se levantou. — Vamos todos juntos.
— Desculpe, mas não posso. — Mick coçou a cabeça e me encarou, mordendo o lábio inferior em seguida. — Tenho algumas coisas para fazer aqui. Focar nos estudos. A Medicina anda me desgastando.
— Ah, entendo. Coitadinho. — Uma delas segurou a mão dele. — Descanse um pouco, meu bem. Você parece mesmo exausto.
— E estou. Podem ir sem mim, ok? Prometo que eu irei compensá-las. — Abriu seu típico sorriso e pude ver até os meninos ficarem vermelhos. Incrível o dom que ele tinha de encantar todo mundo sem nem se esforçar.
— Iremos cobrar — murmurou um rapaz hipnotizado por ele.
Mick apenas riu enquanto todos se retiravam.
— Espere um pouco — disse Mick quando a salinha ficou vazia e apontou para o sofá, onde me sentei. — Isaac costuma vir correndo para cá assim que a aula dele acaba. Ele tem uma cópia da chave. A última coisa que queremos é que ele nos pegue em flagrante, né?
— Mestre! — A voz de Isaac ecoou alta assim que ele passou pela porta feito um furacão. — Ah, eu estava com tanta saudade! — O inseto correu até Mick sem nem me cumprimentar. Parecia que eu era invisível. — Sentiu minha falta? Já sei que não, mas mesmo assim eu... — Isaac se interrompeu assim que notou minha presença.
Abri um sorriso amarelo e cruzei os braços. Era engraçado ver Isaac pendurado no pescoço de Mick e sentado em seu colo de forma íntima. Os cabelos loiros desgrenhados, sua echarpe verde amassada e sua aparência desleixada chegavam a ser engraçados em comparação ao impecável Michael Pavlova. Eles eram duas peças que nunca se encaixariam.
— O que está fazendo aqui? — Ficou sério de repente ao me encarar com indiferença. Seus olhinhos azuis estavam rabugentos demais para o meu gosto — Não sabe que essa é uma sala particular do conselho estudantil?
— Pelo que eu sei, você também não faz parte do conselho estudantil — rebati, detestando o jeito como ele estava falando comigo. Quem esse verme pensava que era? Eu já estava quase pensando na possibilidade de arrastar a cara dele no asfalto. — Veio só para ficar cheirando a bunda do Mick feito um cachorrinho?
— Daniel... — Nem mesmo a advertência no tom de Mick foi capaz de me calar.
— Não vou deixar seu chaveirinho me esculachar — grunhi, já perdendo a paciência.
— Quem aqui é chaveirinho? — Isaac inflou as narinas.
— Parem vocês dois! — Mick praticamente berrou. — Isaac, volte para a casa, te encontro lá.
— Não vou a lugar nenhum sem você — sussurrou, arregalando os olhos com o pedido. — Jamais te deixaria sozinho com o Daniel, ainda mais sabendo a fama que ele tem de ficar com caras. E se ele te assediar? Não vou poder te proteger se não tiver aqui, Mestre.
— Já falei pra parar de me chamar assim na frente dos outros — disse Mick mal movendo os lábios. — É estranho.
Tive vontade de rir. Se Isaac soubesse o que Mick e eu fazíamos a quatro paredes, com certeza ele teria um treco. Não era novidade para mim a paixonite aguda que Isaac tinha pelo meu primo antes mesmo de criminalizarem a homossexualidade. A verdade era que era impossível pensar em Mick sem que houvesse o Isaac para aplaudir qualquer ato dele.
— Tudo bem, Mestre. — Isaac assentiu com a cabeça. — Vou esperar você, aí a gente vai junto pra casa.
— Não. — Percebi que Isaac tremeu com a firmeza do tom dele. — Estou mandando você voltar para a casa sem mim. É uma ordem e sua obrigação é...
— Obedecer — Isaac respondeu a contragosto ao ficar de pé. — Entendi. Não me quer aqui. Vou embora então, Mestre. Deus me livre atrapalhar você! — Se inclinou de novo e plantou um beijo tímido na bochecha esquerda de Mick, que fez uma careta. — Sua barba está crescendo. Quando chegar em casa, vou fazê-la para você. — Acariciou o rosto dele e saiu de ombros curvados, lançando-me um olhar mortal antes de bater a porta com força. Só relaxei quando ouvi o som da chave trancando o recinto.
— Você tem praticamente uma esposa com pau — falei dando risada.
— Isaac é um pouco intenso demais. Parece que gosta de me servir o tempo todo, é meio desgastante porque ele nunca desgruda de mim.
— Você fala como se não fosse assim desde sempre. — Aproximei-me dele, sentando em seu colo e abrindo os botões do seu uniforme, expondo os músculos de sua barriga. Deslizei as pontas dos meus dedos em seu peitoral magnifico e colei minha testa na dele, sentindo sua respiração acelerada contra a minha.
— Temos que ser cuidadosos — disse, sua mão passando por dentro da minha camisa. — Isaac não pode saber da gente.
— Por que não? — Mordisquei o lábio dele, arrancando um gemido em resposta. — Tem medo de que ele não te aceite?
— Só não quero que ele saiba — rebateu sem se alongar muito na explicação. Sua outra mão me agarrou pela nuca e foi inevitável beijá-lo. Sua boca sempre tinha gosto de hortelã e eu adorava isso.
Abri o zíper de sua calça enquanto ele beijava meu pescoço. Eu podia ouvi-lo claramente murmurando o nome de Isaac enquanto me beijava. Era extremamente desconfortável, porém, eu estava excitado demais para voltar atrás. Já tinha me acostumado em ouvir o nome daquele garoto enquanto transávamos.
— Por que você fica chamando o nome dele? — Sempre questionei, mas ele nunca me respondia.
Abaixei suas calças o quanto pude naquela posição esquisita e broxei na hora ao perceber que ele nem tinha ficado duro ainda.
— Acho que está na hora de você começar a usar viagra — soei um pouco mais rude do que planejei. — Já é a quinta vez que isso acontece.
— Calma. — Mick segurou o próprio pau e começou a masturbá-lo. Fiquei animado ao ver aquela coisa finalmente subindo, o que me incomodou foi que ele estava de olhos fechados. O que custava ele olhar para mim? No que ele pensava? Por que não em mim?
No momento em que ele abriu os olhos e me encarou com aquele mesmo sorriso safado que só nós dois dividíamos, ele broxou e palavras não descrevem o quanto isso me irritou.
— E broxou de novo. — Afastei-me com irritação. — Nesse ritmo, vamos sair daqui amanhã.
— Eu não broxei. Michael Pavlova não broxa — rosnou. Ele sabia melhor do que ninguém o quanto eu detestava quando ele falava de si mesmo na terceira pessoa. — Deve ser o estresse, ando bem estressado ultimamente. — Ele me puxou contra seu peito, fundindo os lábios nos meus. Ainda que eu estivesse muito irritado, senti meus músculos relaxarem com seu mero toque.
— Já que está difícil pra você, o que acha de eu ser o ativo hoje, hein? — Retirei lentamente sua echarpe.
Eu odiava ser passivo principalmente com Mick. Na nossa primeira vez, senti tanta dor que chorei. Por mais carinhoso que ele fosse comigo, sempre era bruto na hora do sexo em si, tanto que eu saía com marcas de mordidas no pescoço e chupões cobrindo minha pele.
— Não! — praticamente berrou. Meu pedido soou como um insulto a sua masculinidade frágil. — Sempre sou o ativo.
— Então trate de ficar duro — gemi, inconformado.
Nossa falta de química e compatibilidade também me irritava. Não nos encaixávamos de jeito nenhum. Tudo era desconfortável entre nós. Se ele não fosse tão gostoso, já teria dado no pé. Era o fim trepar com primo, mas nunca considerei ele como Otávio , por exemplo. Caso contrário, com certeza vomitaria as tripas durante o ato.
Michael me puxou pela gola e me beijou de novo. Retribui mais por obrigação do que por querer mesmo ele. Minha vontade de transar se foi no momento em que me dei conta de que ele não me queria também.
A porta da salinha se abriu antes que eu pudesse desgrudar minha boca da dele. Estava preparado para ver Isaac nos pegando em flagrante, só que ao virarmos a cabeça para ver quem era o intruso, empalideci ao ver Fábio Costa de olhos arregalados enquanto parecia entrar em choque.
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Atualizado até capítulo 44
Comments
Vilma Lima
eita porra agora lascou tudo 😂😂😂
2022-11-29
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