Fui correndo para o grupo de música assim que ouvi o sinal tocar.
O desespero bateu na minha porta quando entrei na sala e percebi que a reuniãozinha já tinha começado. As cadeiras estavam postas numa roda improvisada.
— Desculpe pelo atraso — murmurei, dirigindo-me a uma das cadeiras vagas sem ter coragem de olhar para ninguém.
Os gritinhos das garotas que esperavam por mim quase me deixaram surdo e me acomodei um pouco mais longe delas a fim de manter meus tímpanos intactos.
— Não se preocupe, acabamos de começar — disse uma voz aveludada e levantei a cabeça para ver de quem era àquela voz de anjo.
A cor sumiu do meu rosto assim que vi um cara sentado na mesa do professor com um violão repousado no colo. Sua pele era escura e pelas suas feições, tive a impressão de que ele era descendente de índio ou algo assim. Os cabelos negros num topete desalinhado chamaram minha atenção na mesma hora. Havia um piercing de spike em sua sobrancelha e seu sorriso interrompeu os batimentos do meu coração de imediato.
— Sou Fábio Costa e serei o professor do grupo de música — disse para a turma inteira e não me atrevi a tirar os olhos dele em momento nenhum.
— Você não é cupido, mas flechou meu coração — murmurei sem pensar.
— O que disse? — Fábio estreitou os olhos e fiquei rígido ao perceber que eu tinha falado aquilo em voz alta.
— Nada. — Cocei a cabeça e dei um sorriso amarelo que não convenceu ninguém.
Mesmo depois daquela gafe absurda, não consegui parar de olhar para ele. Sua beleza parecia ter algum tipo de magnetismo bizarro que me atraía.
Notei que ele me encarava de forma esquisita, fitando alguma coisa nos meus pés. Só depois que me dei conta de que ele estava estranhando minhas botas nada discretas. Isso só me deu ainda mais vontade de mostrá-las, então cruzei as pernas e balancei o pé cujo salto reluzia.
— Escolham um instrumento e voltem para os seus lugares — disse Fábio e corri para pegar o velho violão abandonado no canto da sala.
Apoiei o instrumento na minha perna e arrisquei tocar uma nota grave.
— Está errado — pontuou Fábio parando bem na minha frente de modo crítico.
Inflei as narinas e tentei de novo. Minhas pobres unhas de porcelana iriam quebrar muito feio. Já estava dando adeus ao meu esmalte.
— Errou de novo — disse sem remorso. Parecia que ele estava curtindo com a minha cara.
Ninguém tirava sarro de Daniel Pavlova, então rezei para todas as divas pop existentes para que conservassem minhas unhas ao contato com aquelas cordas demoníacas.
— Está fora do tom. — O que ele tinha de bonito, também tinha de arrogante e isso me tirou do sério.
Tudo bem que ele era professor e teoricamente a autoridade máxima da sala, só que meu ego era incapaz de permanecer ferido por muito tempo. Meu lado barraqueiro era indomável demais para que eu ficasse calado.
— Você é fora do tom! — rosnei, querendo chorar de tanta dor nas unhas ao continuar tocando.
— Isso nem sequer é um acorde — disse, ignorando completamente meu comentário e parecendo concentrado no som tenebroso que eu emitia.
— Então por que você não pega esse violão e enfia no... — calei-me assim que sala inteira ficou em silêncio. Encolhi meus ombros, querendo cavar um buraco ali mesmo e nunca mais sair dali.
— Continue. — A forma como ele não se abalou só serviu para me irritar ainda mais.
— Desculpe. — Eu odiava essa palavra porque significava que eu estava errado e não havia nada mais desesperador para mim do que não ter razão. — É que você não ajuda em nada me criticando desse jeito. — Suavizei minha expressão, jogando a franja para o lado com um charme que ninguém conseguiria imitar. — Pode me ensinar então?
— Claro. — Meu encanto não pareceu surtir muito efeito nele, visto que tudo o que ele se concentrava era no maldito violão em meu colo. Nunca senti tanta inveja de um instrumento. Qual é! Eu era mais bonito do que aquela velharia, então por que ele olhava para aquela coisa e não pra mim? — Mas não vai chegar a lugar nenhum com essas unhas de gavião.
— O que há de errado com minhas unhas? — Eu já tinha sacado a dificuldade de tocar com elas, mas nunca pensei que teria que tirá-las. Daniel Pavlova possuía as unhas mais impecáveis. Todo mundo com bom senso sabia disso.
— Não dá pra tocar com elas, pode quebrá-las de um jeito bem doloroso ou arrebentar as cordas do violão. — Me senti a pessoa mais burra do mundo quando ele falou aquilo. — Entendo se não quiser se desfazer delas. A julgar pela forma como você se veste, dá pra ver que aprender não é sua prioridade.
Eu quis pular em cima dele quando se virou, indo ajudar outra pessoa que segurava uma guitarra. Fiquei ali parado igual a um palerma xingando aquele homem de todos os palavrões já inventados pela humanidade.
O sinal tocou pouco tempo depois e prometi a mim mesmo que não ia deixar barato. Ninguém me humilhava. Ninguém saía por cima de mim numa discussão. Ninguém me criticava e seguia a vida normalmente depois disso. E principalmente, ninguém resistia ao meu charme daquele jeito. Quem aquele filhote de cruz credo achava que era?
— A aula já acabou — disse num tom de deboche quando todo mundo saiu, restando apenas nós dois. — Queria esperar que todos saíssem para me dizer que está desistindo?
— Uma coisa que você tem que aprender sobre mim é que eu não desisto. Nunca — praticamente rosnei, indo até ele a passos largos. — Posso cortar as unhas. — Meu coração quebrou assim que falei aquilo. Porém, era importante para mim aprender a tocar para ter uma chance de entrar no festival de música que acontecia todo fim de ano. — Mas quero ter aulas particulares de violão com você.
— Só se for nos seus sonhos — murmurou, tamborilando os dedos na mesa de modo desafiador. — Tenho mais o que fazer, garoto.
— Daniel. Meu nome é Daniel — falei, deixando claro que não iria desistir tão facilmente.
— Daniel. — Gostei da forma como meu nome soou nos lábios dele. Foi impossível não ficar vermelho com aquilo. — Lamento, mas se quiser aprender, terá que ser durante as aulas do grupo. O máximo que posso fazer é pedir para um estagiário te ensinar.
— Não — fui curto e grosso ao recusar. — Tem que ser você. Para criticar tanto a forma como eu toco, o mínimo que espero é que toque como um anjo. Se é pra aprender, tem que ser com o melhor e numa sala de aula, ninguém supera o professor.
— Nossa! Você é afiado. — Soltou uma risada e não pude deixar de esboçar um sorriso em resposta.
— Não faz ideia do quanto, professorzinho.
Fábio cruzou os braços e começou a balançar os pés. Parecia estar se divertindo comigo.
— Vai me ajudar? — perguntei quando o silêncio entre nós se tornou insuportável.
— Não — tentei não demonstrar o quanto sua resposta me magoou.
Ele estava se fazendo de difícil e olha que eu nem estava flertando com ele ainda, só estava pedindo um favor na maior inocência. Se era pra ser grosso, então eu iria usar todas as minhas armas para conseguir o que queria.
Cheguei mais perto e resolvi ignorar meu coração batendo feito um tambor descontrolado dentro do peito assim que ultrapassei o limite da distância em que um aluno deveria ficar de um professor.
— Você usa maquiagem? — fiquei tão surpreso com a pergunta que demorei um tempinho pra processá-la.
— Claro. — Estreitei o olhar e espalhei um pouco o blush que passei minutos antes de entrar na sala. — Minha pele é incrível naturalmente, mas uma iluminadinha não faz mal, não é?
— Você parece um boneco — disse, me deixando um pouco sem jeito.
— Ah, eu sei. — Nem me esforcei para esconder o quanto aquele elogio amaciou meu ego. — A Barbie, né?
— Não — seu tom passou de sério para divertido em questão de segundos. — O Chucky.
— Você se acha muito engraçadinho, né? Pois saiba que vou falar com meu padrinho que só para você saber, é o reitor da faculdade. Vou abrir um barraco se for necessário, queridinho! — Eu estava tão indignado que nem percebi que tinha começado a gritar.
Quem aquele cara pensava que era? Me comparar com aquele boneco asqueroso cheio de cicatrizes? Logo eu que tinha a pele impecável de porcelana? Ele tava pedindo para ser esculachado.
— Faça isso e não passará de um garotinho mimado que não sabe resolver os problemas por conta própria. — O fato dele sempre parecer estar um passo a frente de qualquer argumento que eu usasse, me dava nos nervos.
— Você é mesmo parente do Valentino? — questionei, achando impossível que ele pudesse ter qualquer parentesco com um dos meus melhores amigos.
— Conhece o Valentino? — Ele piscou, baixando um pouco a guarda para o meu alívio. Talvez assim eu pudesse mostrar minhas garras sem ser massacrado depois.
— Ele é meu amigo — falei, ainda não acreditando que ele era mesmo um Costa. — Qual é seu nome completo?
— Fábio Alessandro Costa — disse de forma mecânica como se não apreciasse nem um pouco o próprio nome.
— Alessandro? — Meu coração bateu um milhão de vezes mais forte ao ouvir aquele nomezinho ser pronunciado. — Como a música da rainha Gaga?
— Existe uma rainha que é gaga? — Fábio pareceu tão confuso que quase me fez rir.
— Lady Gaga — expliquei e enfim o manto da compreensão recaiu sobre aquela cabeça de vento. — Qual é, se tivesse uma música da Lady Gaga com o meu nome, eu ia ser um nojo.
— Não gosto de Lady Gaga — disse como se não fosse uma blasfêmia do pior tipo.
— Vou fingir que você não disse nada, Alessandro. — Revirei os olhos, tentando canalizar toda a minha pouca paciência e armazená-la porque algo me dizia que eu iria precisar muito caso fosse mesmo conviver com esse cidadão.
— Odeio esse nome, prefiro Fábio.
— Que bom que não perguntei o que você prefere, então vou chamá-lo como eu quiser.
— Você é desagradável assim com todo mundo? — quis saber, arregaçando as mangas da jaqueta de couro azul que usava.
— Só com quem merece — rebati, decidindo usar outra tática para fazê-lo ceder, já que provocação não estava dando muito certo.
Acabei resolvendo testar meu charme irresistível de novo. Se ele ficasse desesperadamente atraído por mim, iria me ajudar e se arrastar aos meus pés. Tudo o que eu precisava fazer era simplesmente jogar o cabelo para o lado, mexer um pouco na franja e usar uma voz muito sedutora enquanto me aproximava lentamente dele.
— Dani! — alguém entrou na sala escancarando a pobre da porta. Fiquei mais longe de Fábio possível para mascarar minhas intenções.
Suspirei ao ver aquele mar de garotas invadindo a sala e interrompendo meu momento de sedução digno de Oscar.
— A gente comprou doces para você — disse Anna sempre prestativa até mesmo nas horas erradas. Tentei aparentar felicidade ao pegar a caixa de doces. Tive a leve impressão de que minhas próprias fãs me matariam de diabetes. — Ouvi dizer que suas unhas quebraram. — Suas sobrancelhas se uniram, mirando em minhas unhas. — Deve estar arrasado.
Quase gritei quando vi que uma delas tinha se partido, deixando-a desproporcional diante das outras. Se aquilo não era uma amostra grátis do apocalipse, então eu não sabia o que era.
— Mas que merda! — verbalizei minha frustração porque era melhor soltar tudo de uma vez do que guardar tanto rancor.
— Relaxa. — Anna se aproximou enquanto eu colocava a caixa na mesa onde Fábio estava sentado, analisando a situação como se a achasse cômica. — Marcamos um horário para você na manicure. Amanhã à tarde tá bom pra você?
— Amanhã não é dia ímpar? — Minhas sobrancelhas se uniram. — Nada abre no dia ímpar, só alguns restaurantes e graças a Gaga o shopping também!
— Tem um salão no shopping. — Anna parecia orgulhosa de si mesma e eu também, óbvio. — Foi lá que marquei.
— Salvou minha vida! — exclamei de um jeito bem dramático e segurei o ombro dela, oferecendo-lhe meu melhor e mais irresistível sorriso.
Anna retribuiu o gesto, derretendo-se além do aceitável. Claro que eu não podia julgá-la por isso. Era meio que impossível resistir aos meus encantos naturais.
Ela não conseguiu se virar enquanto ia embora, pois parecia incapaz de desviar os olhos dos meus. Seu grupinho a acompanhou e não pude deixar de ficar satisfeito em mostrar ao vivo e a cores àquele professorzinho mequetrefe o efeito que eu tinha nas pessoas e que eu deveria estar despertando nele também, só pra variar.
— Elas parecem gostar muito de você — murmurou ele com traços de divertimento tanto na voz quanto na expressão sempre serena.
Fiquei me perguntando se aquele cara nunca se estressava com nada. Qual é, até o namorado do meu cousin cosy que era um poço de paciência explodia comigo vez ou outra quando eu chegava na casa deles do nada, invadia o quarto e os pegava em flagrante em cenas bem comprometedoras.
Pavlova deu a chave do apartamento, então não era culpa minha ir até lá sem avisar. Sempre fui o tipo de pessoa que surgia nos lugares sem aviso prévio ou convite. Eu me autoconvidava sem problema nenhum.
— Eu não posso evitar ser tão popular. — Esperei que ele risse ao entender a referência, mas ele permaneceu em silêncio. Fechei os olhos por uns segundos, torcendo para as minhas suspeitas estarem erradas. — Você nunca viu ''Meninas Malvadas''?
— Não. — A forma quase conformada com qual disse aquilo me deixou incrédulo.
— Você tá vivendo errado, sabia? — Semicerrei os olhos, meus belos cílios tremeram um pouco por causa do rímel — Daqui a pouco vai me dizer que nunca viu ''As Branquelas'' também.
— Isso é um filme pornô? — Ele me olhou de um jeito bem estranho. Me senti mais pervertido do que eu já era naturalmente.
— Pelo amor de Britney, não! — praticamente berrei. — Vamos fazer assim: você me ensina violão e eu te introduzo a palavra da purpurina, o que acha? — foi um acordo tão bom que pensei que seria impossível que ele recusasse.
— Essa coisa de introduzir me parece meio antiético, não? — Achei engraçadão o jeito como ele disse aquilo, mas não me atrevi a rir e entregar tudo de bandeja. — Sem falar que detesto purpurina.
— Você é um porre, sabia? — grunhi, baixando um pouco olhar. — O que você quer em troca? Posso te pagar — tentei não deixar tão na cara que eu não tinha dinheiro. No máximo, o cartão de crédito do meu pai cujo limite eu já tinha estourado em uma das minhas inúmeras idas ao shopping.
— Não quero seu dinheiro — respondeu e torci para que ele não tivesse visto meu suspiro de alívio, até porque seria engraçado ele querer uma coisa que eu não tinha.
Minha carteira cor de rosa estava tão vazia que não me surpreenderia já ter teias de aranha nela. Para que ela tivesse alguma utilidade, coloquei um monte de camisinhas de hortelã nela porque pelo menos isso eu usava como se não houvesse um amanhã.
— Então o que você quer? — Olhei para ele e me senti intimidado logo de cara. Pessoas bonitas me deixavam meio tonto. De perto, dava para ver que ele tinha uma cicatriz profunda no lábio superior. Dava um certo charme até. Não sabia o por quê, mas essas imperfeiçõezinhas nas pessoas me atraíam.
— Me daria qualquer coisa? — Sem dúvida a intenção não era essa, mas foi impossível para um mente poluída feito eu não ter interpretado aquela perguntinha com um duplo sentido gritante.
— Não qualquer coisa, professorzinho. Meu bumbum você vai ter que batalhar muito mais pra ter. — Ergui uma sobrancelha e o encarei a tempo de ver sua expressão chocada. Era muito divertida a reação dele com indecências.
— Você acha que tá falando com quem, moleque? — Engoli em seco quando ele fez cara feia pra mim.
— Foi mal. — Pigarreei, meio sem jeito. — O que você quer então? — Meu rosto esquentou porque foi impossível não ficar constrangido depois de eu dar uma de oferecido para ele.
— Bem... — Ele me olhou de cima a baixo com um sorrisinho brincando nos lábios. Mirou nos meus pés e vinquei a testa, tentando entender o motivo. Será que tinha alguma coisa presa no meu salto? — Eu quero suas botas.
— Como é? — Tive que me apoiar na mesa para não cair. — Você só pode estar brincando. Essas botas fazem parte de mim. — Sentei no tampo da mesa. — Eu nunca daria para você e nem pra ninguém. Sou bem bonzinho, mas não compartilho algo tão pessoal.
— Então não temos trato — disse sem esboçar qualquer reação.
— Qual é! — Mordi o lábio inferior. — Tem que ter alguma outra coisa que você queira. — Eu estava implorando e me senti bem idiota por isso, mas se ele não me ensinasse, meu sonho de arrasar no festival de música iria pro ralo. — Qualquer outra coisa.
— Não — respondeu sem rodeios.
— Posso comprar um par parecido para você. — Senti minha garganta arranhar de tão seca. — Aí eu trago e fica tudo certo. Por Britney, me ajude!
— Eu não quero um parecido. — Senti que ele tinha prazer em me provocar. — Quero o seu. — Juro que ouvi o barulhinho do chocalho de uma cascavel porque era assim que eu estava enxergando ele agora.
Não era possível alguém ser tão cruel assim por nada. Negar uma ajuda inocente de um aluno incrível feito eu. Sério? O que eu fiz exatamente para que ele torcesse o nariz para mim logo de cara?
— Mas... — tentei formar algum argumento, mas não fui rápido o bastante. Fábio já estava arrumando suas coisas e se preparando para sair.
— Nos vemos na próxima aula. — Passou a alça da mochila no ombro. — Isso é, se você não desistir até lá.
Pera, aquilo era mais uma provocação?
Abri a boca para responder, mas ele me deu um sorrisinho e se retirou. Invés de correr atrás dele e me arrastar aos seus pés implorando para que me ajudasse, ajeitei a gola da minha jaqueta e desci os óculos de sol para esconder a vergonha estampada em meus olhos.
Me retirei tentando arquitetar um plano milaborante para me vingar daquele professorzinho de quinta com o máximo de classe possível porque até mesmo a gatinha mais dócil mostrava as garras de vez em quando.
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Oiii meus anjos, e nesse ponto iniciamos nossa história, espero que gostem
Beijos e até mais
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Atualizado até capítulo 44
Comments
🌟OüTıß🌟
Como não?!
e britany spears??
pq,tipo,é lógica!!
2024-08-13
0
Vilma Lima
estou amando de mais,e frase do bumbum foi de mais 🤣🤣🤣
2022-11-29
2
Mel 🌈
Amores atualização amanhã
2022-11-20
1