Capítulo 18

Já disse muito da minha vida para vocês, já contei meus medos, alguns delírios e as minhas dores, e ainda continuamos aqui, vocês me ouvindo e eu ditando as coisas que enfrentei, e acredite, ainda tem muito pela frente.

Naquela mesma manhã, ao ter virado para o lado e voltado a dormir, o dia passou tão depressa quanto um segundo, eu abri meus olhos, ainda estava entre os travesseiros e os cobertores, virei de lado e vi minha blusa sobre o abaju na pequena mesinha do lado da cama, virei para o outro lado, vi minha calça sobre o armário e meus sapatos jogados de qualquer jeito pelo chão, tive que parar um segundo para lembrar da noite passada e ao vislumbre da primeira lembrança, me ergui, ainda sentia as mãos dela pelo meu corpo e o seu cheiro no travesseiro ao lado, aquele tipo de loção barata que fica grudada em qualquer coisa. Me endireitei na cama, sentei e levei a mão ao rosto, ainda era eu, foram poucos os suspiros que soltei até chegar ao banheiro, no caminho peguei minha blusa e minha calça, e lá estava eu mais uma vez, me encarando no espelho, com os olhos perdidos na imagem a minha frente, a garota com os cabelos bagunçados, usando apenas as roupas de baixo, com a alça do sutiã pendendo e quase caindo por completo, as marcas roxas pelo corpo, e para minha surpresa, nenhuma cicatriz, nada, não tinha nada mesmo, era só eu e o meu copo. Me vesti, molhei o rosto e prendi o cabelo de qualquer jeito, saí do quarto batendo a porta atrás de mim e andei pela fileira de quartos um do lado do outro até chegar ao meu. Eles estavam lá, os dois, com os olhos preocupados e andando de um lado para o outro.

-O que aconteceu com você? Onde tava?- Bob foi o primeiro a falar.

Me desviei das perguntas dele e fui de encontro com as de Gord.

-O que encontrou lá? - ele estava me olhando sério e inflexível.

Parei diante dos dois, olhei nos olhos de cada um e me deixei cair na minha cama, não era bem minha, mas pelo menos tinha o meu cheiro, abracei um de meus travesseiros e falei voltando a me levantar.

-Eu quero um café bem forte.

Eles me olharam perplexos por alguns segundos e depois soltaram algum tipo de risada pela cara que eu estava fazendo. Não demorou muito e estávamos na recepção, o hotel tinha uma pequena área para almoço e café, e lá estávamos nós, sentados ao redor da pequena mesinha preta e esperando a garçonete chegar.

-Então, o que aconteceu?

-Eu fui enganada - falei de forma ríspida e ainda com o meu travesseiro do lado.

-Como assim?

-Eram as duas enfermeiras.

-E como foi enganada?

-Elas se apresentaram de outra forma, eu fiquei frágil e acabei caindo na armadilha delas.

A garçonete tinha chegado, estava do meu lado esquerdo bem acima de mim, usava um uniforme rosa cheio de babado e que se completava com uma saia até a altura dos joelhos, eu ainda não tinha visto o seu rosto, não me preocupei em virar em sua direção, apenas disse o que eu queria e deixei os outros fazerem o pedido.

-O que vão querer?

-Café.

-Só café? Ok, volto já.

Ela saiu, e dois minutos depois voltou com três copos grandes e brancos com café, e voltou de novo a cozinha, íamos voltar a nossa conversa quando ela apareceu atrás de mim, pôs um cupcake na minha frente e falou.

-Esse é por conta da casa.

Só tinha um, não era dois nem três, só um e era pra mim, eu não disse não, estava com fome e aquele recheio, espera, era o meu favorito, depois de uma mordida virei em sua direção, a mulher sorridente ao meu lado abriu ainda mais o sorriso e soltou uma piscadela enquanto voltava a atender as outras mesas.

Eu não entendi, sinceramente, voltei a morder o cupcake e imaginei onde eu já tinha visto aquele rosto.

Os dois à minha frente ainda me olhavam, também estavam tentando entender o que tinha acabado de acontecer enquanto bebericavam o café e se perguntavam onde estava o cupcake deles também. Soltei um pequeno sorriso e voltei a nossa conversa.

-Você conseguiu lidar com as duas?

-Não foi tão fácil, mas no fim, sim, não me lembro de muita coisa depois das torturas. Só de ter dado um jeito nelas.

-Você foi torturada?! - Bob perguntou largando o café e levantando por impulso.

-Eram as duas velhas, o que mais esperava delas?

-Agora são duas a menos, temos que achar os outros e acabar com isso de uma vez por todas.

Eu levei o último pedaço do cupcake na boca e não demorou muito para a mesma garçonete aparecer do meu lado com outro. Dessa vez reparei mais em sua aparência, tinha a mesma cor de cabelo que eu tinha antes, mas o dela era mais espessos e desciam até os seus peitos em ondas, algumas mexas formavam círculos acima dos olhos enquanto outras desciam até a bochecha com um leve tom rosado, seu olhos pequenos eram preenchidos por um tom claro de azul marinho, enquanto suas bochechas bem abaixo, eram bem modeladas e tomadas pelo mesmos tom de rosa. Meus olhos desceram até seus peitos, o uniforme parecia apertado nela e isso os realçava, desci pela sua cintura leve e torneada até chegar em seus pés, o que ela estava calçando contrastava com todo o resto, eram tênis brancos, pintados provavelmente a mão de várias cores.

Essa era ela, a mulher talvez um pouco mais velha do que eu, que estava do meu lado segurando o cupcake, sua mão desceu até a mesa passando diante dos meus olhos em um movimento lento e traumatizante, porque no mesmo instante aquela lembrança voltou a minha cabeça.

Estava chovendo, o vento atiçando as cortinas, os raios iluminando o quarto com pouca luz, um cheiro leve de perfume barato no ar e as suas mãos, deslizando e descendo pelo meu corpo nu, as unhas pintadas de vermelho subindo em minhas costas, seu cabelo contra o meu rosto, e aquele mesmo cheiro preenchendo a minha cabeça, a visão mudou, a chuva tinha parado, e eu estava sendo sufocada, afundada na cama, meus braços abertos e o cobertor na altura da cintura, em cima de nós duas, ela estava em cima de mim, com o rosto preso no meu, enquanto me devorava com um beijo.

Quando voltei a mim, eu estava ofegante, ela tinha se abaixado na minha altura pra ver se eu estava bem e seu rosto estava bem diante do meu, tinha tomado uma expressão preocupada, enquanto chamava pelo meu nome.

-Liz, Liz, Liz.

Bastou eu abrir os olhos por completo, e ver os seus à minha frente, todo o resto do ambiente tinha desaparecido da minha visão, só estava eu e ela, bastou isso para eu agarrá-la, para apertá-la contra mim e devolver aquele beijo da noite passada. Não senti resistência da sua parte, só senti uma de suas mãos indo dos meus cabelos ao meu pescoço e a outra descer pelo meu corpo

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