Minha consciência estava mais uma vez a deriva, eu já tinha me sentido daquele jeito, presa em uma sala escura e olhando por uma enorme tela enquanto outra pessoa agia em meu lugar, tomando conta do meu corpo e das minhas ações, me levantei, e comecei a explorar aquela sala e por mais estranho que pareça, não era bem uma sala, era como um campo, vasto e tomado por uma escuridão que se estendia e lhe cobria, após ter essa certeza, eu me senti como se estivesse na arquibancada, vendo toda a minha vida passar diante os meus olhos.
Ela estava na sala, ainda sobre a mesa e soltando pequenos gemidos de dor, com as pernas tremendo e sentido como se sua coluna estivesse torta. Seus olhos se abriram, foram de imediato ao alto junto de um longo suspiro que foi solto seguido da voz peculiar que saiu por entre seus lábios.
-O que fizeram com você? - ela olhava por todo o seu corpo, vendo as cicatrizes e a dor que a percorria.
Seus olhos em seguida foram ao redor da sala, ele olhou por todos os lados e percebeu a mesma estante de antes, os mesmo frascos e rótulos que ficaram claros a sua visão.
"Sangue de demônio"
-Vocês não sabem brincar, estão mexendo com a pessoa errada, estão torturando a pessoa errada, fizeram ela sofrer tanto que inconscientemente ela descobriu algo que não era pra descobrir - ele falava, fixo a um ponto incomum da sala, e se erguendo aos poucos enquanto as faixas que a prendiam se rompiam e se incendiavam. -Não precisam ser esconder mais, vocês queriam me ver não é?
Ouviu-se um riso, outro logo em seguida e uma imagem se forma bem a sua frente, eram as duas, estavam em outras formas, a A e a I estavam ambas envoltas por um espécie de par de asas, onde cada uma possuíam uma e se completavam, seus rostos também tinham mudado, usavam máscaras brancas e saiam luz dos lugares onde eram para ser os olhos e a boca, isso era o que ele via, só ele, outras pessoas as teria visto como as enfermeiras as quais estavam disfarçadas.
-Você apareceu, não achamos que daria certo, era um risco e tanto em I - falou e junto de suas palavras o mesmo riso.
-Sim sim, mas estamos felizes de enfim poder ter essa conversa com você, agora, o que pretende continuar fazendo com a garota?
-Não sei do que vocês estão falando.
-Não se faça de bobo **** - ela falou o seu nome mas algum tipo de censura o fez sair como um ruído.
-Como sabem o meu nome? - sua voz saiu rígida e seu rosto tomado por algum tipo de raiva incomum.
-Já disse pra não se fazer de bobo...
Ele virou seu rosto em direção a estante, estava agora fixo ao frasco peculiar enquanto as ignorava
-Queremos que a deixe, ela não é seu brinquedinho, estamos cansadas desse seu jogo, e já sabemos de tudo, você está fazendo isso, esteve fazendo isso durante todo esse tempo. Você não faz parte dela então a deixe.
-Não faço ideia do que vocês estão falando - ele começou a andar, foi em direção a estante e pegou o pequeno frasco que estava tomando a sua atenção. -se isso é tudo, eu pretendo voltar a dormir, mas antes, já que sabem demais -ele balançava o frasco bem diante dos olhos - eu vou ter que matar vocês.
-Nos matar? - ambas riram ao mesmo tempo - não acha que está nos substima..?
Suas palavras foram interrompidas, seus olhos caíram e foram em direção a sua frente, ela não conseguiu completar a frase e no lugar das últimas palavras jogou para fora uma bola de sangue que escorreu pela sua máscara branca.
-Irmã! - a I gritou, estava com os olhos fixos no que acontecia tentando entender a cena, tudo que ela viu foi uma luz, e logo em seguida a A caindo de joelhos com um buraco no peito, enquanto o outro continuava parado no mesmo lugar, mas com algo incomum na mão esquerda, era um coração, seu braço estava todo vermelho e ainda pingava restos do sangue da outra, e na sua mão o coração, gelado, batendo e sendo espremido aos poucos pelos seus dedos. - o que você fez com ela?
-Eu? Bem… nada - seus olhos viraram para ela, ela os fitou, ele a fitou de volta e a mesma luz voltou a tomar o lugar, no segundo seguinte ele estava diante dela, parado, a olhando fixamente, enquanto ela parecia tremer e não entender o que mais uma vez tinha acontecido. - ah antes de te matar eu tenho algumas perguntas, de onde tirou isso? - ele mostrava o frasco a ela.
"Como ele fez isso?" -ela pensava, com os olhos nele e de lado vendo o corpo de sua irmã no chão. Ela estava tremendo por dentro e expressando uma meia expressão de coragem por fora. "eu posso mata-lo sozinha, ele abaixou a guarda, eu consigo, ele foi idiota quando se aproximou de mim" - foi o que ela pensou, e acreditando nisso, começou a ergue o braço na tentativa de atingi-lo
-Tome, segure pra mim - ele falou, tinha deixado o coração cair no chão e a entregava um braço. ela não estava entendendo, por instinto ela segurou o braço com a mão esquerda e se deu conta do que podia ter acontecido, aí seus olhos foram ao seu braço, e ela percebeu que estava sentindo uma dor intensa e que seu braço não estava mais ali, era aquele que ela segurava.
Seus olhos subiram mais uma vez ao rosto dele, ele ainda encarava o frasco, a ignorando e ainda curioso quanto ao líquido ali dentro.
-O que você fez?!! - sua voz saiu trêmula em um grito.
-Eu te fiz uma pergunta, você está tomando muito do meu tempo, vai me responder ou não? “Sabe esquece, não sei como conseguiram esse sangue, nossa espécie foi extinta anos e não teriam como tirar isso dela, ela não é isso, é uma mescla, anjo e demônio, vivendo para escolher a qual forma vai se entregar.” - ele pensou, deixou cair o frasco no chão e o sangue que o compunha o manchou. Seus olhos forma até a doutora.
Ela caiu, gritou mais uma vez quando suas coxas bateram sobre o chão, agora o olhava de baixo sem sentir as suas pernas, ela se esqueceu das palavras para gritar, seus lábios tremiam, sua máscara tinha caído, e de seus olhos lágrimas escorriam sem parar.
"Ele não pode ser tão forte. Seus golpes, eu não vi nenhum deles, o que ele está fazendo."
-Quem é você? - foi o que ela disse, mesmo com as palavras engasgadas e sangue escorrendo pelos seus lábios ela soltou tudo como um suspiro.
-Isso é curioso, vocês sabem o meu nome mas não sabem quem eu sou. - ele tinha começado a encará-la, a olhava do alto com o olhar de nojo e desdém, com os olhos rígidos e quase soltando um sorriso. -Bom - ele enfim sorriu, tinha se mantido sério durante todo aquele tempo - Acho que nós podemos ser… o seu pior pesadelo, o que acha?
Ela não podia responder, nem sequer estava ouvindo mais, tudo estava se escurecendo para ela e o ambiente também parecia se distorcer enquanto girava, ela o viu de cabeça para baixo, o viu se afastar dela, limpar o sangue no rosto e se sentar na mesa de ferro. Ela enfim percebeu que ia morrer, porque seus olhos foram ao espelho, e pode ver o seu corpo, caído no chão, sem um braço, sem as pernas e sem a cabeça, ela pensou em gritar, mas antes de conseguir, morreu ainda vendo seu reflexo no espelho.
É disso que estou falando, eu estava sentada na arquibancada o vendo fazer tudo aquilo enquanto usava o meu corpo, era como se estivesse sonhando e vendo a minha vida de uma terceira pessoa, ele tinha se sentado na mesa e esperava alguma coisa, foi aí que eu acordei, minha cabeça latejava e tudo de que eu conseguia me lembrar naquela hora era de mim, não ele, matando as duas, eu me lembrei de todos os detalhes enquanto eu as matava, mas em nenhum momento lembrei dele, não lembrei do bar, não lembrei do estádio não lembrei de nada, espera, teve uma coisa que eu pensei ter ouvido naquele dia enquanto saia da casa amarela.
-vou te ajudar a matar todos que você odeia
Foi o que eu ouvi, mas eu estava cansada demais então pensei ser um delírio e voltei ao hotel de beira de estrada, naquele dia a minha noite foi meio agitada, eu amanheci no quarto da garçonete vendo-a se trocar, enquanto dizia estar atrasada e que tinha sido uma ótima noite, tudo que eu fiz foi me virar, agarrar o travesseiro e volta a dormir, imaginando onde gord e Bob podiam estar. Quase chorando… eu adormeci
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Atualizado até capítulo 26
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