Ela não se virou e com o mesmo tom de voz disse, seguindo o nada.
-Venha comigo - eu olhei em sua direção.
-...mas e ela?- voltei a olhar pra garota e ela tinha desaparecido.
Sem obter resposta… eu a seguir.
-Quando você nasceu eu senti algo estranho em você, você não era igual a sua mãe e também não era igual a mim - a voz dela estava séria, mas também um pouco alegre- eu me senti feliz, todos se sentiram, mas eu me senti mais, você tinha algo diferente em você, tinha mais do que o meu sangue, tinha a minha linhagem, mas como eu disse eu também senti algo estranho em você, você era diferente, talvez tenha sido seu pai eu não sei, eu nunca gostei dele. No fim você acabou não sendo como eu, você era o total oposto, um ser das trevas, filha da filha de um ser da luz, eu não entendi, fiquei com medo e antes que seus poderes pudessem despertar eu os selei, pelo menos foi o que eu havia pensado, aqui - uma parte escura ficou clara e eu comecei a ver uma lembrança- lembra de quando você se perdeu aos nove anos na fazendo dos Jhonsons, você não tinha se perdido, você simplesmente distorceu a realidade quando caiu no celeiro, eu tive sorte de te achar, e aqui, lembra quando você sofreu o acidente com o ônibus, todos morreram e você foi a única a sobreviver, não foi um simples acidente, foram os outros seres das trevas atrás de você, eles estavam começando a te sentir.
E ela continuou a mostrar uma série de acontecimentos, explicando-os e dando motivos que eu nunca imaginaria para eles, enquanto ela falava eu a ouvia, sem questionar nem nada, eu continuei ouvindo, tudo parecia muito familiar pra mim, as memórias estavam ficando claras enquanto as daquele dia se apagavam.
-No final você se tornou um problema, seu poder estava se tornado forte demais e meu selo estava começando a se romper, eu tinha que dar um jeito, então eu criei um lugar, um hospital feito especialmente pra você, pra te curar, para te conter, meus irmãos até se propuseram a me ajudar, lembra dos doutores?
-Enfim, quando você tinha 13 anos eu convenci a sua mãe a te mandar pra esse hospital, estava na hora dela saber de toda a história da família, no início ela foi relutante, mas logo aceitou. Antes de te mandar pra cá eu precisava fazer com que você não tivesse um lugar pra voltar, fazer com que você se sentisse perdida e sem esperanças, então eu mudei as suas memórias, ou melhor eu as selei, e forjei uma nova, uma que mudaria tudo. Sim a daquele dia, aquele tão temeroso dia a seus olhos, uma família falsa, uma irmã falsa, uma lembrança falsa, você perderia tudo e assim poderia ser submetida ao tratamento sem resistir, sem pensar em voltar para algum lugar. -ela continuou andando e eu a segui - Nos primeiros 5 anos tudo estava dando certo, até a sua memória começar a voltar, você tentava de todas as formas rejeitar a memória que eu te dei e aos poucos alcançava a real, então eu passei a vir aqui todos os anos, para reiniciar o selo, eu até resolvi abrir o hospital pra outros doentes. Foi um ótimo plano, você ficaria bem em menos de 50 anos, eram minhas estimativas.
Enquanto eu a ouvia, ainda aceitando tudo, as suas palavras começaram a me atingir de forma amarga, era como se a cada palavra eu recebesse um soco, um chute, uma dor era acrescida. Quando ela terminou eu estava com a cabeça baixa, chorando, imóvel, quase caindo.
-Por que? - foi a única coisa que consegui dizer
-Por que? -ela perguntou.
-Por que fez isso comigo?
-Foi para o seu próprio bem.
-mentira!!
- … Para o bem de todos.
-...mentira!! Mentira!! Mentira!! Mentira!! Mentira!!- eu dizia enquanto balançava a cabeça ainda chorando.
-Você era um risco pra todos nós.
-Mentira - minha voz estava cansada - mentira, eu não tinha o direito de viver também?
-Você viveu.
-7 anos, 7 anos reprimidos e sobre as suas asas, isso não é viver. -Essas palavras antes de usá-las as firmei nas minhas memórias que aos poucos voltavam. -Você tirou tudo de mim!
-Querida - ela se aproximou - Você - e tentou me enlaçar com seus braços.
-Não encostar em mim!!! - eu gritei e lembro que com o meu grito a ferir. Ela estava afastada, e fogo estava ao meu redor, eu caí de joelhos, chorei durante alguns segundos enquanto ela me observava de longe. - Como esperava me curar com dor?
-Eu não estava te fazendo mal, era uma dor necessária.
-Dor necessária? - Nesse instante não era eu mais que falava, minha voz tinha ficado forte e grossa. Dor necessária? Como fazer alguém sofrer pode ajudar em alguma coisa? - eu consegui me controlar e voltei ao tom de voz normal enovelada pelo choro- você é mesmo minha avó?
-Querida…
-Não me chame assim!!!!- eu quero ir embora, quero sair daqui.
-Você não pode, se não percebeu ainda, você está morrendo, esse lugar é você, é dentro de você, escuro e sombrio, você escolheu as sombras.
-E você?!
-Eu sou só uma auto lembrança, eu a implantei pra lhe explicar quando você ficasse curada, mas ela ativou antes.
-Como eu saio daqui?
-Não sai, a menos que aceite o que você é.
-E o que eu sou?
-Não consegue ver, olhe ao seu redor, você é as próprias trevas, o terror, o medo, ou melhor como as pessoas os conhecem, você é um demônio.
-O que? - eu não desacreditei no que ela dizia, em nenhum momento, mas naquela hora eu desejei não acreditar, eu balancei a cabeça enquanto minhas lágrimas caiam e meus olhos pendiam em direção ao chão, em direção a escuridão e naquela sombra eu consegui ver o meu reflexo.
Uma criatura alta, bela, frágil e assustada, com medo enquanto se cobria com suas asas negras se escondendo do mundo, de todo o mundo. Aquilo foi o que eu vi, e se aquilo era eu, eu não via problema em aceitá-lo. Olhei uma última vez para aquela senhora que se dizia minha vó e antes de continuar a falei
-Acho que o mundo assim como você, tem uma concepção errada de tudo que ver, todos vocês só olham a capa.
-O que você pretende fazer?!
-Eu vou ser quem eu sou… eu vou abrir esse livro pro mundo - e sorrir, um sorriso não abusado mas alegre.
Depois de tais palavras, eu me deixei cair, tudo ficou lento, vi o rosto daquela senhora mudar, vi ela assumir uma forma diferente, eu vi um anjo com asas brancas avançar em minha direção, mas nesse instante eu mergulhei em minha sombra como em um mar, senti a pressão em meus pulmões, senti o ar saindo aos poucos e até senti o gelado da água, eu nadei, nadei até o fundo, em direção aquela figurava escura, e quando enfim cheguei perto o suficiente eu abri a boca sem medo de me afogar.
-Vai ficar tudo bem, não precisa se esconder mais.
Aquilo…. aquilo não, eu abri as asas, eu vi a mim mesma, uma figurava assustada, eu sorri pra mim e me abracei, nesse instante as asas voltaram a se fechar e nós acordamos como alguém que tinha acabado de se afogar.
Os demônios são assim, anjos assustados, nascidos com asas negras, as pessoas os rejeitam, os recusam, se negam a entendê-los. Suas palavras e olhares … direcionado a eles os atingem como facas e eles se defendem, se escondem, se cobrindo com a escuridão de suas asas, pobres criaturas.
Nossa história não acaba aqui, ela apenas começou, agora Lis vai enfrentar não uma prisão, mas o mundo
Ela levanta, se ergue, está mais alta, seus cabelos tem a cor do fogo, seus olhos a cor de chamas azuis e suas costas se cobrem por enormes asas negras que aos poucos se tornam cinzas sendo levadas pelo ar
-Bob!! Ela grita, você me atingiu de propósito né?
-Liza ...eu te senti, o gord também, tínhamos que fazer alguma coisa, então nos infiltramos aqui. - um garoto de cabelos claros e alegre falava enquanto balançava os pés sentado sobre a cama de Liza, ao lado dele estava um homem magro e esguio com as pernas cruzadas e com uma aparência séria e sedutora. - Mas assim que entramos, também tivemos a memória alterada, por isso demorou um pouco, sinto muito.
Seus olhos vão em direção a sua cama, ela os olha, e logo sabe de quem se trata, ela corre e os abraça e fica ali durante alguns minutos enquanto os dois pasmos se deixam abraçar.
Depois ela os solta.-... por favor me chamem de Lis- e fala com os olhos alegres -Eu não entendi por que atraio outras criaturas, tem muita coisa que eu ainda não sei… mas estou feliz por ter atraído vocês dois…
-Tudo bem, vai ser uma longa história, mas acho que posso te contar qualquer dia, agora que tal sairmos daqui.
-E pra onde iremos? - disso Gord
-Lis os olhou, olhou ao redor e percebeu o hospital todo destruído, viu as árvores, viu o sol, o sentiu por alguns segundos e em um tom alegre falou- meus queridos... Por agora vamos apenas viver…
Continua ...
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Atualizado até capítulo 26
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