...Segunda-feira....
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Assim como em todos as semanas, esse dia eu teria entrevistas com a doutora C, uma mulher jovem, de cabelos longos e negros, olhos pequenos e claros, e com um sorriso galante.
Ela não era como os outros doutores e sempre estava afastada deles. Ela era gentil e amável, mas isso só até o dia em que me disse seu nome, Cassi, isso me lembrou um pouco Cassiel, o anjo, mas deve ser só coincidência. Apesar da própria aparência revelar muito sobre ela, ainda tinham coisas que nem mesmo ela podia dizer.
Depois disso fiquei uma semana inteira sem vê-la, até ela aparecer no outro mês com uma máscara branca que tapava toda a sua boca. No início imaginei que ela tinha pegado uma gripe, porém não era só isso, ela tinha mudado completamente, seus olhos também estavam frios, e ela parecia cambalear ao andar como se não fosse mais ela ali e sim outra pessoa.
O que aconteceu com ela ? Ela nunca me contou. Depois daquilo ela também nunca foi mais a mesma, ela deixou de ser gentil e passou a ser séria, sua voz me passava confiança, agora ela era grotesca e severa.
Minha entrevista com ela só dura duas horas, ela me faz as perguntas, eu as respondo e depois ficamos alguns minutos ali paradas na sala de entrevistas, mas naquele dia Cassi resolveu ir além de minhas expectativas, começando com ...
- Fale um pouco sobre sua irmã - folheou alguns papéis enquanto falava. - Segundo nossas investigações, ela faleceu junto com sua família, mas você também elucida a sobrevivência dela. Aonde quer chegar com isso, o nome dela não seria E- li- z...
- Chega!... chega!... chega!... chega! - eu falava enquanto sacudia a cabeça, tentando não lembrar dela - ela estar viva, estar viva e nada do que você disser vai me fazer crer no contrário, então chega, por favor - eu falava com tom de voz alto, de cabeça baixa e evitando chorar.
As memórias que eu tinha da minha irmã eram sempre incompletas, eu via um rosto borrado pela luz, eu via cabelos longos sendo sacudidos pelo vento em algum campo e ouvia sua voz, primeiro ela me chamava, como se estivéssemos em um dia qualquer, até seu tom de voz se tornar desesperador e minha mente voltar aquele dia. Sempre termina assim.
Depois disso ela me olhou atentamente por alguns segundos, suspirou e então voltou a falar.
- Queria poder te ajudar ... - ela falou com um olhar triste e meio cruel enquanto voltava ao assunto - Mas, ela manda e a gente faz, então comece a contar e vamos acabar logo com isso. O que você lembra da sua irmã?
- Ela?! Quem é ela?! Quem são todos vocês?! Que droga?! Não podem continuar me prendendo aqui!
- Não estamos te prendendo, estamos te ajudando.
- Me ajudando?! Dessa forma?!
- É preciso!.. Nós...
Nesse momento eles entraram, a levaram e a minha entrevista acabou, sinto que ela estava prestes a dizer algo que não devia.
Não foi a primeira vez que aconteceu, que eu vi outras pessoas sem serem eles, os caras de preto que entraram, volta e meia apareciam andando entre os corredores, acho que eram seguranças ou algo do tipo.
Nesse dia, como eu não passei muito tempo na sala de entrevistas, terminei meu dia na sala de tratamento. Uma grande sala escura e cheia de equipamentos. Desde, serras, bisturis, várias coisas de cirurgia, uma prateleira enorme de remédios e ao centro uma cama coberta por fios e cabos de energia. As pessoas que gerenciam essa sala são duas senhoras de idade, elas são chamadas de enfermeiras A e I como as suas iniciais. Sempre que as vejo elas estão de jaleco e máscaras de médicos, acho que gostam de fantasiar que estão em uma operação de verdade. Assim que as vi naquele dia, elas se aproximaram me cumprimentando.
- Lisa, Lisa, Lisa - a I dizia parecendo alegre em me ver.
- Nossa querida Lisa vai nos surpreende hoje também?! - a A falou enquanto olhava pra cama elétrica.
- Vejo que as velhas ainda estão vivas, ainda bem ... - eu falei enquanto tentava disfarçar um sorriso...
- Cuidado com a língua garotinha, você pode ficar sem ela.
- Você também não devia brincar, ainda mais com o que acabou de acontecer- sua voz se tornou solene - Pobre C, espero que ela fique bem, bom agora vamos começar ... com o seu tratamento...
Assim que ela terminou de falar, os auxiliares que as ajudam me pegaram e me levaram até a cama, me amarram, elas vieram logo em seguida e aplicaram alguma coisa no meu braço, vindo de um vidro com líquido amarelo que eu pude ver antes de cair em um sono profundo.
Acho que fiquei desacordada por mais ou menos duas horas. Quando finalmente acordei ainda meio confusa, tentei mexer minhas pernas mas eu não as sentia, tentei, tentei, tentei, tentei e tentei mas nada, quando olhei ao redor e em direção a elas, por um segundo eu quis ainda estar dormindo, eu estava no meio do tratamento, minhas pernas estavam abertas com os nervos e carne expostas, e as duas senhoras debruçadas sobre mim enquanto brincavam com o meu corpo. Estranhamente eu não sentia nenhuma dor das coxas pra baixo, mas ao ver aquilo, aquela cena e as velhas brincando como duas crianças alegres, eu pude sentir da ponta do meu dedo até o último fio de cabelo do meu corpo estremece, minha pernas pareciam ter sido esmagadas e batidas em liquidificador, meu estômago estava se revirando aponto deu por tudo pra fora, mas aquela sensação que percorria meu corpo, aquela corrente elétrica que parecia deslizar sobre mim como uma cobra... eu gritei como se estivesse preste a morrer, implorei para que parassem, implorei com todos as forças, comecei a debater meus braços enquanto tentava me solta, e elas enquanto pareciam ocupadas demais com o trabalho me ignoravam, eu continuei a debater meus braços, a tentar me revirar, continuei a gritar, a agonizar, a chorar, forcei tanto os meus braços que meus punhos estavam cerrados, me mexi tanto que minha coluna parecia dividida, e elas continuavam ali, bem diante dos meus olhos sorrindo, brincando comigo, até uma delas se aproxima do meu rosto e falar.
- Que pena que acordou no meio do tratamento, tome mais cuidado na próxima vez com a dosagem A.
- Desculpe I, minha velhice está prejudicando minha memória, quanto era mesmo? - ela sorriu.
As duas sorriam evidenciado o tom sarcástico.
Também foi assim durante os primeiros meses, elas mudavam a dosagem e faziam eu assistir toda e cada cirurgia que faziam, algumas vezes eu dormia durante todo o tratamento mas isso era bem raro. Depois de um tempo eu não conseguia mais expressar tamanha agonia, eu só as observo atentamente durante as cirurgias, a cada momento a cada segundo, e tentando apenas não resistir, não chorar, não implora, por que isso as diverte, diverte todos eles, eles amam isso, e no final, ainda sou submetida a tratamento por choque... a sensação? - No início eu desmaiava de tanto gritar, cada parte do meu corpo formigava e eu desejava arrancar minha própria pele, na tentativa de aliviar, hoje em dia é só como se eu estivesse mergulhando em uma piscina cheia de gelo, é como se meu corpo todo estivesse com câimbra. Quando essa parte do meu dia termina, eu sou levada ao meu quarto ainda acordada e passo o resto da noite com o corpo paralisado, eu sinto que eu poderia desmontar se eu mexesse um músculo sequer, sinto como se cada parte de mim fosse sair, então eu só deito e continuo ali até amanhecer... passo horas e horas deixando que os sentimentos que eu impedir durante o dia tomassem conta de mim, tudo que eu reprimo e tento esconder sai essa hora. Quando enfim eu acabo dormindo... é sem perceber ...
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Atualizado até capítulo 26
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