Capítulo 11

Apenas viver, não é?

Como se o mundo facilitasse isso, como se todos ao nosso redor simplesmente ignorassem os nossos rostos e a aparência anormal que nos compõem e do nada nos aceitassem. Bem. Não foi bem isso o que aconteceu.

Depois de um ano se escondendo, vivendo como ratos, se espreitando por buracos cada vez piores, nós paramos, nos sentamos, e iamos decidir de uma vez por todas o que fazer. Por que apenas viver (se é que aquilo era viver), não estava mais dando certo.

-Então, alguém tem uma idéia do que fazer?

Já éramos muitos, cerca de 24 pessoas, tínhamos também encontrado outras espécies, como vampiros, zumbis, bruxas, e alguns monstros que eu não saberia dizer o nome só pela aparência (eles eram realmente feios). Na verdade nem os encontramos, eles vieram até nós, e continuam vindo. Cada um com uma ideia diferente do que somos. Alguns nos chamam de salvadores. Outros nos rotulam como escolhidos, e a maioria nos ver, ou melhor, me ver, como rei. Estanho não? Pois é. As coisas só tem ficado mais bizarras. Outra coisa, desde a queda do hospital, não ouvimos mais nada sobre os doutores ou a minha vó, e nem nos damos ao trabalho de procurá-los, acho que ainda não está na hora de uma vingança/ encontro em família.

-Por mim colocavamos fogo em tudo, assim não ia ter ninguém pra nos oprimir. - um dos lunáticos falou (tinham muitos).

-Idiota. Eles já nos veem como monstros, assim vamos ajudar a concretizar essa imagem. - e outro, dessa vez um dos "revolucionários ingleses" (um vampiro) - temos é que exigir mudanças, vamos a corte, eles terão que nos atender, esse é o único jeito.

-Bestas - ele sorriu - ninguém gosta da gente. Por que ainda nos importamos com isso? Eu não me importo em continuar vivendo na sarjeta. Aqui é...bom até que não é de todo mal. - dessa vez foi um dos preguiçosos, com o mesmo tom de voz com que dizia sempre "temos que mudar de novo dessa vez?" (e acredite, não era um zumbi).

A conversa deles continuou por mais alguns minutos, até que, bom até que nada. Eu mesma estava cansada de tudo aquilo, como o preguiçoso sempre dizia, por que sempre tínhamos que mudar de lugar? Porque tínhamos de ficar nos escondendo? Éramos monstros? De certo ponto de vista sim. Mas não ficamos por aí anunciando isso e propagando o caos. Vivíamos na nossa, e queríamos continuar assim, mas sem toda a repressão que tínhamos quando éramos expostos a sociedade. Eles sim pareciam monstros, e nada mais natural que acabar com os monstros. Viver com eles, talvez também esteja me deixando lunática.

Atualmente estamos em Londres, vivendo em um galpão longe da cidade, perto de um rio (pera, é seguro eu te dizer minha localização? Aliás, você também é um humano, não é?). Que fique assim mesmo. Estávamos ali não tinham nem 2 meses, e pra nossa sorte, se assim posso dizer, ainda não tínhamos dado de cara com nenhum humano.

Ouuu...como viemos pra cá? Como estamos nos escondendo? Como nos movemos a cada 3 meses de lugar? Como saímos no dia, quando queremos comida?

Por que quer saber? Pensa em nos caçar em? Van Helsing da vida.

Não estranhe, eu estava mesmo ficando louca.

-Lis? Não vai participar da reunião dessa vez? - Bob falou, estava diante de mim, ainda tinha a aparência de uma criança e era meio incomodo ficar recebendo conselhos dele.

-Me deixa - eu me virei, nesse momento eu estava deitada em um sofá velho, com os braços sobre o rosto - Não dá mais pra ficar com eles, todos são...tão, arg, sei lá é que, acho que se continuar assim, talvez eu funde o grupo dos birutas.

Ele sorriu, sabia que eu não lembrava o nome de todos e os dividia por grupos.

-Eu faria parte desse grupo? - suas perguntas sem sentido. Ele sempre vinha com elas quando eu falava sério.

-Faria, é o mais louco de nós, porque insistir tanto em? Me deixa.

Crianças, elas não nos ouvem.

-O que você tem?

-Um monte de pessoas no meu pé e você me enchendo o saco.

-E vai continuar deitada?

-Você vai me deixar em paz?

-Depende.

-Do que?

-Diga alguma coisa a eles. Eles esperam por você, querem te ouvir.

-O que acha disso, Gord? - perguntei, não suportava quando ele aparecia do nada e ficava me olhando de braços cruzados, como se fosse algum tipo de pai, ou alguma coisa materna.

-Vai continuar aí deitada?

-Vocês dois em, todos os monstros são assim?

-Não, normalmente somos mais legais. - Bob falou, se sentando no braço do sofá. - Você também é um monstro sábia.

Sim, era tanta coisa, tanta propaganda, tanta manifestação, tantas pessoas dizendo pela cidade, que já tínhamos nos acostumado com esse título, mas mudamos o seu sentido, o seu significado.

-Então, colegas monstros, monstros colegas.

-Dá pra falar sério? - Bob sussurrou em meu ouvido.

-Ok, bom, eu sei que todos vocês estão cansados dessa vida e desse lugar, eu sei, eu também tô. Mas não temos o que fazer, não dá só pra ir lá e esperar que nos aceitem, eles não vão nos ver diferente de uma hora pra outra. E não abaixe essa mão, não vamos colocar fogo neles. Vivemos escondidos, sim, mas eu não obriguei ninguém a isso, eu ainda nem sei porque me seguem (era verdade, eu não sabia mesmo), eu to cansada de vocês, tô cansada dessa vida, to cansada desses dois, tô cansada do meu sofá sujo e fedorento. Então, sem mais escolhas e obrigados a isso, vamos por fogo neles.

Ouvi-se um grito, depois vários outros, todos os monstros estavam meio que alegres com aquelas minhas palavras.

-Se acalmem, não literalmente. Vamos sair nas ruas, no seu caso não vampiro, vamos agir como o que somos, beber sangue é o que te mantém vivo não é?

-Sim.

-pois beba.

-Devorar cérebros e contaminar pessoas é a sua né.

-Pois devore, estão me entendendo? Não vamos nos mudar, só porque o que somos não os agrada, vamos ser nós mesmo, vamos agir como sempre agimos. Vamos tomar nosso lugar na sociedade.

-Uhumm, vamos pôr fogo em algumas casas.

-Alguém por favor, fique de olho nele.

Queriam que eu dissese alguma coisa, eu disse, e ainda foi o que eu pensava, bônus. Deixei a algum tempo de me importar com os humanos, quando minhas memórias voltaram totalmente, ai foi de vez, eu os odiava e a cada dia esse ódio crescia mais e mais. O que posso fazer? Eles não são nenhum santos? E vocês?

Quando terminei de falar, voltei ao meu sofá e me deitei de novo, mesmo sendo fedido, ainda era confortável.

-Não fiquem me olhando, queriam que eu disse alguma coisa, eu disse, estão satisfeitos?

- Não, não era isso que esperávamos. Tudo só vai se repetir, como sempre foi, vamos viver como vivemos, e eles vão instintivamente nos caça, e no fim vamos cair de novo, eles sempre vencem. Não dá pra acabar com eles. Acredite, já tentamos.

-Esperava mais de você, Liss - Gord disse.

-O que foi gente, o que esperavam então?

-Esquece.

É gente, isso foi a dois meses atrás, quando eu os deixei ir embora, foram os únicos que foram aliás, todos os outros continuam me seguindo como carrapatos, isso é meio irritante. Mais irritante ainda é que nosso número voltou a crescer. Agora temos mais grupos, mas depois lhes apresento. O mundo também mudou nesses dois meses, já temos até nosso próprio país, que aliás está em guerra com não sei que outra nação por aí, mas aos poucos vamos conquistando mais e mais e pra falar a verdade, acho que podemos até vencê-los. Sabe, erradicá-los de uma vez por todas, assim talvez possamos viver em paz.

-Senhora, temos um problema com o grupo dos mortos, eles estão aumentando demais, já tomaram duas cidades e transformaram todas as pessoas em mortos vivos.

-Mande-os devorá-los por completo da próxima vez, sem ficar mordendo.

-Também temos um problemas com os incendiários, eles começaram a exagerar.

-Deixe-os suspensos por uma semana, sem o fogo que tanto adoram.

-E os monstros marinhos …

Acho que isso começou muito a se parecer com um castelo, não tenho o que reclamar do trono que me deram, nem por tudo que como, e pelo conforto, aliás todos parecem mais organizados, exércitos, chega a parecer um. O que me incomoda um pouco é o título de lorde demônio, parece meio brega. Foi nesse ponto que as coisas começaram a ficar drásticas demais, pessoas morriam dia e noite enquanto monstros se erguiam das sombras para conquistar novas cidades, e foi nesse ponto que eu voltei àquele mesmo sofá, como se nada tivesse acontecido ainda, foi como acordar mesmo ainda estando rodeada de loucos tenho que acordar. Visões me deixam cansada.

Não estranhe, eu não estou ficando louca.

-Lis? Não vai participar da reunião dessa vez? - Bob falou, estava diante de mim, ainda tinha a aparência de uma criança e era meio incomodo ficar recebendo conselhos dele.

Éh, era uma visão, Bob me contou bastante coisa, contou que minha família tinha morrido a alguns anos atrás em um acidente. Contou algumas coisas bizarras sobre a minha avó, contou sobre os doutores, acredita que a maioria deles são anjos? Irônico não? É até engraçado. Continuando. E ele também me ajudou a descobrir um pouco mais dos meus poderes. Eu não sei muito bem o que sou ainda. Talvez um demônio, não sei, mas pelas asas negras, o chifre, os olhos vermelhos, os cabelos ruivos, tudo parece muito conveniente, mas enfim, um dos meus poderes é ter essas visões, eu só preciso me concentrar, e quando acontece, parece como um filme. Parece muito aquelas coisas de jogos. Outra coisa, eu também consigo mudar minha aparência, e isso até que é legal, ainda tem bastante coisa pra descobrir.

Espera um pouco, é a minha deixa.

-Me deixa - eu me virei, nesse momento eu estava deitada em um sofá velho, com os braços sobre o rosto - Não dá mais pra ficar com eles, todos são...tão, arg, sei lá é que, acho que se continuar assim, talvez eu funde o grupo dos birutas.

Éh, vou pensar sobre o trono. O futuro não precisa ser exatamente como aparece nas visões, eu posso mudá-lo…

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