A primeira coisa em que você pensa quando está prestes a matar algumas pessoas, é se elas realmente deveriam morrer. Se o mundo seria melhor sem o lixo que o consome, ou se alguém sentiria falta de alguns sacos de esterco ambulante, essa é minha visão sobre as pessoas no mais baixo nível, lá embaixo mesmo, sabe.
Bem, eu não pensei em muita coisa quando matei o cara atrás do balcão, senti que era algum tipo de necessidade interior, e se eu não fizesse naquela hora, acabaria por fazer em outro momento, então fiz, melhor do que matar outro qualquer por aí.
A segunda coisa, depois de matar alguém, é qual a segunda vítima? Por que é assim, não sei se vocês já mataram alguma pessoa, mas tem um sentimento misterioso por trás, algum tipo de êxtase e preenchimento, uma alegria que sobe ao rosto, um sorriso ao acaso, os olhos brilhando, a mão coberta do vermelho escarlate, e o poder, sim, tem um leve sentimento de poder ali, tirar a vida de alguém leva a isso, vocês deviam experimentar alguma hora, eu recomendo. Enfim, quando você começa, mesmo que a primeira vez seja involuntária, tem sempre uma segunda vez, compare com o primeiro beijo, o segundo não é trilhões de vezes mais …, então, e essa é uma das coisas mais importantes, quem você matara a seguir? Eu pessoalmente já tinha minha resposta formada, mas não queria sair por aí como um lixeiro ou zelador, varrendo o mundo, e tirando todo o seu lixo, o lixo dos humanos, porque querendo ou não, tudo de ruim que existe provém de vocês, vocês criaram os crimes, os roubos, os assassinatos, a política, as leis, o preconceito, tudo… Um dia depois daquilo, de incendiar o bar, eu já estava atrás da segunda vítima (não dá pra esperar, é aquele sentimento te consumindo) mas eu estava em duvida, quem eu deveria matar? Um rei tirano que estava levando a sua população à ruína, ou um assassino em série que atormentava uma das cidades da Inglaterra? Sinceramente eu queria matar os dois, e o teria feito se no fundo na hora de olhar nos seus olhos, ouvindo seus berros, suas mãos levantadas em minha direção, seu choro, eu não tivesse desistido. Foi um momento e tanto, assumo. Então tive que matar o rei, e foi meio que fácil, tem alguma coisa neles que te faz odiá-los mais e mais, eles são rudes e mesquinhos, se acham poderosos e mesmo diante da morte, te afrontam. Então foi fácil.
E teve um sentimento novo ali, um vazio. Essa é a terceira coisa em que pensa, como parar? Não adianta, não da pra parar, não depois da segunda vez, ou você continua ou sucumbe a uma vida onde sua própria consciência vai te deteriorando aos poucos, até não sobrar mais nada. Então, em relação ao vazio, eu experimentei, e posso dar minha opinião mais sincera sobre. Primeiro, imagine um poço, fundo e escuro, você olha pra dentro e ele está cheio de água, vê seu reflexo tremendo, depois da segunda morte e já pensando na terceira, você volta ao poço, ele ainda está cheio, mas você não vê mais seu reflexo, pensa que ele está vazio, e isso no momento não chega tanto a te abalar, o que te abala mesmo é pensar em como vai encher aquele poço, com sangue, não segue de verdade ta, fantasiosamente, você vai usando as mortes pra encher o poço, e em cada uma vai procurando algum tipo de sentimento pra te preencher, e quando não acha, contínua, numa procura frenética e sem fim. Esse é o vazio te consumindo, se é que me entende. Eu não tive problemas com isso, meu poço sempre esteve vazio, tudo que eu fazia era em uma desculpa deslavada pra enchê-lo, então foi fácil passar por isso.
Depois disso tudo, você está lá, de joelhos, no meio da chuva, e ao seu redor estão todos os corpos, o sangue escorrendo pelo seu rosto junto da chuva e as lágrimas que você disfarça, você ouve as sirenes ao longe, vê as luzes, azul e vermelho, e quando eles chegam, ouve os gritos, ecoando pelos seus ouvidos, vê eles apontando as armas, mas sua visão está turva e tudo não parece menos do que um sonho, ai você é preso. No meu caso, não, eu não estava chorando, estava concentrada na musiquinha da loja ao lado, a mesma música que o bob cantava dias atrás antes de deixar a segunda morte me consumir, pensando no trajeto até ali e no que eu realmente estava fazendo, era isso, eu estava perdida, a gente sempre se perde quando não tem o que fazer ou pra onde ir, foi isso, eu os deixei, e agora, também ouvindo as sirenes, as luzes, eu também estava preste a ser presa.
"Eu também podia matá-los" pensei, deixando escapar um sorriso um tanto louco e reprimido.
-Você é algum tipo de criança que vai ficar nos dando trabalho? - Bob faou, estava atrás de mim.
-isso te diverte de alguma forma? -foi a vez de gord
-Vamos embora
-Pra onde? Não temos pra onde ir.
-Não precisamos, não se apegue demais ao que nunca teve, Lis Agora vamos.
-Vocês…
-Vamos logo
Eu não to afim de continuar contando sobre meus desvios, eu ainda seguia a mesma estrada, ainda a procurava, e talvez (nunca descarte esse talvez) … tudo tenha sido pra mim aprender como matar. Estávamos perto dela, eu podia sentir, estava chegando o dia de nos encontramos.
Era meia noite, eu estava tendo dores de cabeça e suando, ainda de frente ao espelho, sem nem ao menos pregar os olhos ou piscar, vendo aqueles olhos me encarando, aquela criatura grotesca e cruel a minha frente, ela parecia com raiva, pronta para matar alguém, deixando evidente o sorriso no canto direito, seria ela uma louca? Ou enfim a biruta que temia se tornar?
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Atualizado até capítulo 26
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