Capítulo 14

A manhã pareceu mais triste que o normal, ainda chovia, os ventos agitavam as cortinas, e o aquecedor soltava fumaça, era isso que dava ficar em hotéis de beira de estrada, sempre uma imundície, mas isso não vem ao caso, o que realmente importa, era a construção a alguns quilômetros dali, a casa que eu via em minhas lembranças. Foi uma sorte e tanto o Gord tê-la encontrado, eu mesma não acreditava mais em sua existência, pra mim tudo ainda era uma mentira, algo implantado em mim por aquela velha, ah como eu adoraria torturá la, estrangulá la com minhas próprias mãos, vendo a implorar por um perdão que nunca terá (respira)mas ainda é cedo. Gord encontrou a casa enquanto eu estava em minha fase assassina, ele disse que não teve tempo pra fazer mais nada, ele nem sequer podia se aproximar demais, porque uma aura intensa o impedia de pôr os pés sobre o gramado, isso foi a algumas semanas atrás, agora aqui estou eu, esperando o café e ansiosa pelo que vou encontrar daqui a algumas horas.

Eu assumo, assumo tudo, tenho um desejo intenso dentro de mim, que late pra sair e dilacerar alguns corpos, as pessoas ao meu redor, aos meus olhos, são apenas sacos de lixo andando sem ordem, eu sempre os via assim, pude até ver a peculiaridade da senhora que me trouxe o café. O vestido curto, as pernas à mostra, os lenços nos ombros, a forma de andar como se tivesse tentando evidenciar o corpo que tinha. Era uma senhora, devia ter uns 30 anos, e era uma senhora, e de alguma forma estranha eu sentia algum tipo de atração por aquele saco de esterco. Eu me contorci enquanto bebia um gole do café, estava amargo, mas o gosto ruim mesmo veio de sentir atração por aquele ser.

Era mais ou menos 6:30 quando os dois entraram pela porta dizendo que tudo estava pronto, que tinham arranjado um carro e que eu não ia precisar sair por aí voando (chamava muita atenção). Eu me levantei, mudei minhas roupas, vestindo um visual interiorano, tentando se encaixar no que as outras pessoas ao redor eram, sai do quarto, e a primeira coisa que fiz foi voltar, era um horror sair dali com aquelas botas altas, o chapéu de palha, as calças jeans e a blusa amarrada abaixo dos peitos, eu voltei a minha roupa habitual. Os tenis escuro e aberto, a blusa vermelha, o casaco velho, e as calças escuras. Eu até tinha mudado o tom do meu cabelo, agora era algum tipo de castanho, não sei ao certo, só vi em outra pessoa e achei que ficaria legal em mim.

Sem mais delongas, eu saí, tive que ir sozinha, os dois não estavam se sentido bem e não adiantaria de nada, já que eles não conseguiam nem se aproximar da casa. Sim, eu aprendi a dirigir, já tem um tempo, não é algo notório quando se tem asas, mas útil, quando não se pode usá-las. Bastou chegar a alguns metros pra que eu também sentisse aquilo, era como se uma força, uma mão cobrisse toda a casa, o ar era denso, e andar se tornava quase impossível. Eu saí do carro, e fiquei de frente para construção, uma casa comum, grande, com a cor amarela nas tábuas se descascando e as janelas vermelhas fechadas. Observei todo o entorno antes de enfim pensar em passar pelo portãozinho branco, e foi no meio disso que pude ver aquela figura feminina e magra, se balançando no que antes eu pensava ser meu balanço. No mesmo instente meu estômago se contorceu e eu me curvei pronta pra botar alguma coisa pra fora, mas não saiu nada. Me reergui e endireitei os olhos em sua direção, era ela, eu sabia, nunca esqueceria aqueles cabelos, aqueles olhos, e aquele sorriso, ela estava me olhando, de longe e começou a mexer a boca, como se falasse alguma coisa, por mais estranho que pareça, mesmo a aquela distância, eu a ouvi, ela falou:

-Nâo vai entrar?

Foi tudo que ela disse, tudo mesmo, ela até parou de olhar pra mim, estava concentrada em se balançar, indo e vindo, seu cabelo acompanhando o ar, era a doutora C… eu ia hesitar, mas calma e, confiante eu abri o portão, o ar denso tinha voltado ao normal, eu podia andar normalmente, pisando sobre a grama, indo em sua direção. Quando cheguei perto o suficiente, ficando do seu lado esquerdo, ela voltou a falar:

-Poderia, me balançar? -Ah que voz, minha gente, era a mesma, mas aquela, daquele momento, doce, aconchegante, como se me enlassase.

-Claro - foi tudo que eu consigui dizer.

Pedi o tempo de quantas horas ficamos ali, ela sorrindo e eu a empurrando, de longe pareciamos pessoas realmente alegres, mas era só uma mascara e meus braços já estavam se cansando.

-Quem é você?

-Eu sou eu, ou por acaso se esqueceu de mim?

-Nao é isso, qual o seu nome?

Ela parou de se balançar, pousou os pés na grama e com um movimento rápido estava diante de mim, passando as mãos pelos meus cabelos, a centímetros de distância do meu rosto, eu podia até sentir sua respiração, vi seus olhos irem em direção aos meus lábios e deles pros meus olhos.

-Não se preocupe, o anjo do amor é meu irmão - ela falou, como se imaginasse o que eu estava pensando - me chame de Cassiel, ou Cassi, como preferir.

Ela se afastou, tinha abandonado toda a doçura e voltado a voz amigável com a qual eu conhecerá, até de costas ela era atraente e me atraia. Ela estava vestindo um vestido amarelo, estava descalça e com algum tipo de pulseira no braço, seus cabelos negros deciam até a cintura.

-Não acreditei que eram anjos quando o Gord me falou, acho que anjos não fariam tudo aquilo com uma pessoa.

-Você está certo, nós não fazemos isso com pessoas, até porque você não era uma, não é?- ela olhou pra mim de relance- não faça essa cara, apesar do que passamos juntas, não acho que você me odeia…ou estou errada?

-Não tenho motivos pra te odiar, nunca tive, só não entendo porque fizeram tudo àquilo…

-Não fomos nós, tá, os outros até se divertiam com aquilo, mas foram só ordens, existem coisas maiores do que nós neste mundo, Lisa, coisas que você nem imagina.

-Deus existe?

Ela sorriu e por fim falou - o que você acha?

-Então, o que estamos fazendo aqui?

-Me mandaram, disseram que você viria e eu tinha que te impedir.

-E o que você vai fazer?

-Não sei, não to afim de lutar. E você?

-Bom, eu só quero respostas, e encontrar a minha avó.

-Sabe, podiamos fazer algo mais divertido que tudo isso? O que acha?

-E o que seria?

-Vem comigo...

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