De manhã ...
Eu estava dormindo profundamente quando algo pareceu pingar em mim. uma goteira que lentamente derramava gota por gota na minha testa me fez acordar. Já estava de manhã, podiam ser mais ou menos sete da manhã, mas eu não sabia e não importava mais, eu queria continuar deitada, queria voltar a dormir e ir pra um lugar onde o que aconteceu não tivesse acontecido, ou queria poder levantar e encarar isso como uma pessoa forte, mas eu não conseguia, talvez ninguém conseguisse ser forte em um momento como esse, a única coisa que eu conseguia fazer era não chorar mais.
Agarrei o meu travesseiro e o abracei, era confortável e o mais próximo do afeto de outra pessoa, talvez fosse tudo o que eu precisasse no momento, por isso continuei deitada coberta com aqueles lençóis agora vermelhos, devo ter ficado ali por mais ou menos três horas enquanto observa atentamente o teto, estava mergulhada em um mar de pensamentos, revivendo cada cena e cada detalhe a todo instante.
Quando enfim me senti a ponto de chorar outra vez, me levantei e fui até a janela, uma brisa refrescante soprou o meu rosto enquanto o sol entre as nuvens iluminava a janela, fiquei ali por alguns segundos perdida mais uma vez na noite passada, mas não dava pra continuar assim, eu tinha me resolvido, eu não podia só lamentar e demonstrar o quão fraca eu era, eu tinha que fazer alguma coisa, tinha algo de estranho, lembrei do carro no jardim, lembrei das chaves e pela primeira vez consegui sair da casa.
Fui até o carro ( tive sorte de ter ficado com as chaves ) peguei roupas limpas e voltei àquela casa, algo ainda me prendia a ela. Não demorou muito até eu achar um chuveiro que funciona-se, tirei as roupas sujas de sangue e entrei embaixo da água, me olhei naquele espelho embaçado enquanto passava a mãe tentando limpá-lo, meu rosto expressava tamanha agonia que até eu fui capaz de perceber que o meu estado não era dos melhores, isso me fez imediatamente desviar o olhar e enquanto a água caia eu chorei, derramei todas as lágrimas que não pude derramar, disse tudo o que sentia a mim mesma, e no fim, me senti um pouco melhor.
A água estava gelada mas eu só ignorei enquanto lavava meus cabelos, tentei tirar aquele odor de sangue enquanto observava a água cair sobre mim incolor e parar no chão avermelhada, o que me fazia muitas vezes me lembra daquilo.
Assim que terminei o banho, vesti as roupas limpas, voltei ao carro e fiquei lá por alguns segundos olhando a floresta ao horizonte. Pensei em tentar dirigir, mas o carro não ligava, tentei diversas vezes, até me irritar e desistir. As duas da tarde, resolvi voltar à casa mas aquele ambiente me destruía, uma sensação estranha percorria o meu corpo e eu queria ficar ali, queria correr para o quarto e deitar, queria viver tudo de novo e comprovar o que tinha acontecido, porém enquanto eu estava olhando para a casa, pensei ouvir uma coisa, me afastei e olhei ao redor, mas nada, então me aproximei e ouvi outra vez, era uma voz, o de uma criança, parecia ser uma criança chorando, demorei um pouco pra entender, mas quando pensei na Betty ( era como eu chamava a Elizabeth, minha irmã) eu recuei, recuei enquanto eu falava me perguntando.
- Por que eu tenho que sofrer mais, por que eu, por que logo eu, e se eu não aguentar tamanha dor, e se eu resolver desistir de mim mesma!!. - eu dizia enquanto involuntariamente as lágrimas escorriam.
- O que eu fiz pra ter que sofrer tanto !!!! - eu gritei repetidas vezes até ficar rouca.
- O'Que eu fiz ... pra ter que sofrer tanto....
Eu podia simplesmente sair correndo, podia abandonar aquele lugar, podia entrar no carro e continuar tentando ligá-lo, mas as coisas não eram tão simples, nada é tão simples. E mais uma vez a ouvi, dessa vez ela gritava alto chamando por mim - lis! lis! lis!! - eu me afastei mais, e entrei dentro do carro enquanto tentava tampar os ouvidos, minhas mãos pareciam queimar enquanto eu o fazia, e a vós dela ficava cada vez mais alta ecoando pela minha cabeça... - lis! lis! lis! lis! lis!! - repetidas e repetidas vezes eu a ouvia...
-... eu não aguento mais !! ... - eu falava enquanto chutava o inteiro do carro. - ... eu quero sair daqui !! ... eu quero que essa dor pare !!.... alguém faz isso parar ... aaaaa !!! - eu dizia, gritava, chorava...
Ela para de falar, ou melhor eu parei de falar, o olhei e ele ainda estava me olhando, me encarando com aqueles olhos sem expressão, esperando que eu continuasse, mas eu já tinha terminado.
- ... isso é tudo o que tem a dizer... senhorita LI... SA ...?
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Atualizado até capítulo 26
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