Capítulo 12

Sinto decepcioná-los, mas o trono e o título brega vão ter que ficar pra outra hora. Eh, sim, eu estou cansada de tudo isso, mas ainda não é o suficiente pra me fazer querer pisar em algumas formigas. Que foi? É a verdade.

O mal de ter visões é que você sabe o que vai acontecer e, mudar qualquer coisa, pode fazer todo o resto mudar também, só que no meu caso também é meio cansativo viver tudo de novo, então vamos deixar pra outra hora.

Vamos pular a conversa fiada. Bob me fez levantar e falar, eu falei, mudei algumas coisas e como eu disse o futuro também mudou.

Enquanto eu dava o meu discurso, pedindo pra eles terem paciência e tudo mais, Gord apareceu (olha, ele não tinha aparecido ainda como antes)

-Vamos, temos que correr!!- ele estava impaciente e estava suando mais do que o normal.

-O que aconteceu?

-Eles estão aqui.

- Eles quem?

-Que droga, vamos logo.

Não dá pra confiar no futuro. Ele terminou de falar e ouvimos as portas do galpão caindo, fazendo aquele barulho ensurdecedor e atordoante.

-Senhora, eles - o primeiro grito, antes dele simplesmente ser decapitado.

Mais um, mais um, mais um, mais um, mais um. Estavam todos morrendo, uma nuvem de fumaça tomava todo o lugar, e do alto, de onde eu estava, só era possível ouvir os gritos.

Bob e Gord estavam ao meu lado, ambos me rodeando e me protegendo.

-Vamos sair daqui!! -Gord gritou.

- Não podemos deixa-los! - eu gritei de volta.

-Você os odeia certo? - Bob começou.

-Sim

-Sabe que falo dos humanos, né?

-Esses também

-Você tá preparada pra isso?

Eu sabia muito bem do que ele falava, é a lei natural, o que todos deveriam seguir, é matar ou morrer, as coisas são assim. Eu só não sabia se estava pronta pra isso. Tá certo, eu os odiava (os humanos), mas nunca tinha matado nenhum deles, nem pensado nisso.

-Você está preparada pra isso?! - Bob voltou a falar, dessa vez gritando no meu ouvido, como se quisesse deixar bem claro o que ele já sabia.

-Não.

-Então vamos embora.

Eu não resistir, só me deixei cair, e da mesma forma todos os outros lá embaixo também caíram, era uma escolha tão fácil de se fazer, era só ir lá e pisar neles, em todos eles, deixando os corpos irreconhecíveis e fazendo-os gritar até se mijarem de dor, eu podia fazer isso, mas … eu escolhi não fazer. Eles me carregaram, os dois, me puxando, enquanto eu deixava, deixava todos morrerem. Como eu disse, é matar ou morrer, só que naquele dia eu escolhi fugir.

Seria legal poder voltar no tempo e consertar alguns erros, repensar e pensar quantas vezes fossem precisas antes de tomar qualquer decisão, mas eu não tinha esse poder.

Quando tudo terminou, nós voltamos ao galpão e eles ainda estavam lá, digo, os corpos, a maioria esticado pelo chão sem algumas parte do corpo, outros estirados em fogueiras enquanto queimavam. Eu mesma não aguentei a cena, não aguentei o cheiro, não aguentei o gemer de alguns com os corpos ainda com um pouco de vida. E sai, fui pra perto do rio, perto do cais, e me sentei ali, temendo que a qualquer momento eu fosse por tudo pra fora, tudo mesmo.

A água parecia tão calma, tão morna naquele dia quente de verão e os peixes tão… sabe, é meio estranho viver em um mundo onde todos estão constantemente tentando tirar a sua vida, te tachando como monstro e te caçando dia e noite, e ali, bem abaixo de mim, os peixes, as vezes dá vontade de ser um peixe, o que eles fazem de mais? Nada. Isso mesmo. Nada. Vivem a vida deles.

Não me chame de louca, quando tudo ao seu redor está caindo em cinzas, fantasiar as vezes pode ser o único refúgio, isso não é loucura.

- Não, não é, é covardia.

-Você de novo?

Dessa vez era o Gord, com seu péssimo senso de entendimento, e com seu poder, ler mentes.

-Você está fugindo de tudo isso, se sente indefesa, e assim busca um refúgio, levando sua mente a outro lugar, à uma ilusão.

-Do que está falando?

-To falando de você. Já faz um ano que saímos daquele lugar e você ainda não fez nada, se nega a ir atrás das pessoas que te fizeram sofrer, se negar a olhar o que acontece ao seu redor, se negar a olhar pra você mesma.

-Eu sei disso.

-E porque não faz nada?

-Ata, como se eu soubesse o que fazer. A vida não vem com um manual, não existe nenhuma referência, ninguém nunca passou por isso antes. E se eu fazer a escolha errada, e se eu seguir o caminho errado, e se eu disser as coisas erradas, em? Não é tão fácil droga.

- Não é pra ser, se fosse não teria graça.

-E onde você ver graça nisso, em Gord? Nos corpos lá dentro pegando fogo? Nesses malditos cartazes? Nas pessoas que nos odeiam? Ou na vida? Me diz? Eu não vejo graça em nada disso.

-Eu também não.

-Então o que está dizendo?

-Uma hora você vai entender, não posso culpá-la…

-Esquece, cadê o Bob?

-Ele tá lá dentro ainda, tá tentando fazer alguma coisa.

-Então me deixe com os meus peixes, pelo menos a vida deles parece mais normal que as nossas.

Era verdade, meia verdade, ficar ali observando fazia todo o resto, sei lá, aturavel. Mas a calmaria só durou até o barulho de um motor (não, não foi o de uma motosserra, não estamos em uma história de terror aqui), estava se aproximando e junto dele, assustando os peixes e fazendo toda a água estremece, e quem estava no comando daquilo? Um humano.

-Éh, não dá pra ter paz em mundo como esses.

-O que vai fazer?

-Caçar algumas pessoas.

-Como?

-Vamos descobrir.

Eu me levantei, evitei olhar pros turistas que chegavam de barco, e voltei ao galpão, Bob ainda estava lá. Sentado em um banquinho enquanto olhava tudo ao redor, ainda com a expressão normal, de uma criança assustada.

-Eu entendo. Vamos - falei, pondo a mão em um dos ombros dele - sei que você pode achá-los.

Ele não respondeu, não disse nada, mas pareceu aspirar alguma coisa, e no segundo seguinte se transformou. Sim, não estranhe, ele não era um lobisomem normal.

Quando os achamos, eles estavam em um bar, já era noite e eles bebiam enquanto pareciam rir de alguma coisa, no meio de uma batida de copos.

Eu entrei primeiro, junto de Gord, e assim que pisamos naquele ambiente, senti o cheiro embriagante de bebida velha e cigarro molhado, fomos direto ao balcão.

-O que vão querer?

-Água.

-Isso é tudo que temos, se quiser Água, afunde a cabeça no rio. - o atendente falou e depois de uma risada fez todos os outros também rirem, voltando a atenção pra mim e pro Gord.

-Jinks, as duas querem água, que tal molhar a garganta delas em ? - outro falou, um dos que estavam sentados em uma mesa junto de vários outros caras barbudos, e mais uma vez todos voltaram a rir.

- Não to muito no clima, quero apreciar um pouco mais a sensação da última caçada. - Talvez tenha sido o Jinks a dizer e todos riram mais uma vez.

-Que caçada? - Gord perguntou, indo até ele.

-Os monstros, aqueles que apareceram no jornal sabe, achamos o esconderijo deles e fizemos a festa, é uma pena não termos pegado a líder deles. Sabe, ela parece com você, mas com as asas e o chifre, nunca vi coisa mais feia - eles riram - se bem que você não é de todo mal. - eles riram de novo.

-Então você matou todos eles? - Gord falou de novo.

-Você é surdo por acaso? Os miseráveis nos deram um pouco de trabalho, mas no final, não é tão difícil esmagar algumas baratas. - riram mais uma vez.

-Vocês vão lamentar, não terem matado todos eles.

Não deu tempo deles responderem, quando Gord e Bob terminaram tudo que restou foi agora além do cheiro de cigarro e bebida, o cheiro de sangue.

Em um breve resumo, Gord fincou a mão no peito do Jinks e a puxando, tirou o coração, que ainda pulsava em sua mão. Nesse momento, todos caíram de suas cadeiras enquanto ele tremia suspenso no ar, alguns logo se levantaram, pegaram armas, machados, mas foi tudo uma tentativa inútil. Bob só fez passar as garras pelas paredes de madeira e tudo que eu vi foram os troncos caindo um após o outro, os que restaram, ficaram implorando pela própria vida, eu até os vi chorar, esses Bob não se deu o trabalho de matá-los. Por fim, só restou o atendente.

-Eu ainda estou com sede - falei. (Eu realmente estava)

-E-e-espere. - ele se abaixou, mostrando que ia pegar água. Mas quando voltou a ser ergue, em suas mãos estava apenas a carabina velha que ele no mesmo instante disparou.

-Morra, criatura do inferno. - ele falou, e ironicamente também riu, eu estava ficando cheia daquelas risadas.

Quando me dei conta, minhas asas me cobriam, e o projétil estava no chão, junto com um pouco do meu sangue que também escorria aos poucos. Bob e Gord não se alarmaram, Gord estava se limpando em uma das pias, e Bob já em sua forma normal de criança estava sentado no balcão enquanto balançava os pés sussurrando alguma música.

-Dddesculpa, eu tenho filhos, tenho uma esposa e...e..e..e - o homem chorava, tinha deixado cair a arma e com as duas mãos juntas, implorava por algum tipo de perdão

-Sinto pena deles, QUEIME. - eu falei, e no mesmo instante ele se desfez em cinzas, era uma novo poder? Não sei…

-Vamos embora daqui.

A noite não foi a das melhores, saímos dali, deixando pra trás amigos, e o bar atrás de nós em chamas, Gord caminhava ao meu lado esquerdo e Bob atrás de mim, ainda sussurrando o mesmo verso da música, repetidamente.

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