CAP. 19 - UM DETALHE APENAS ...

O galo anunciava que a manhã estava chegando. Enquanto isso, Miguel voltava do quarto de Jane, com o animal que estava escondido debaixo da cama dela.

Preso numa gaiola, o bicho de vez em quando se debatia, tentando fugir em vão.

Ele entrou em seu quarto e pôs a gaiola num canto.

Aproximou-se da rede.

Jane continuava a dormir.

O semblante dela estava sereno, despertando nele uma vontade de acordá-la aos beijos, mas conteve-se.

Até aquele instante estava impressionado com a noite incrível que tiveram. Finalmente, encontrara uma parceira à altura. Gostou de saber que ela era uma mulher com um apetite sexual como o dele.

Enquanto admirava o rosto bonito da mulher, Jane se remexeu, deixando à mostra um dos seios, que tinha marcas roxas de seus lábios. Suspirou profundamente.

O compromisso de ir ao trabalho o impedia de novamente se jogar nos braços dela.

— Jane... — Chamou-a com doçura.

Ela abriu devagar os olhos castanhos esverdeados, que os atraíram imediatamente.

— Hum... O que faz aí, Miguel? Ainda tá cedo... Vem pra cá...

A voz rouca dela abriu mais ainda o desejo dele, mas precisava ir.

— Não posso, querida...O trabalho me espera, mas antes quero te apresentar o responsável por nossa noite... — Ele parou ao notar que Jane se moveu para fitá-lo com atenção e os seios foram totalmente descobertos.

Ela percebeu o olhar de desejo dele e cobriu-se, sorrindo.

Miguel continuou:

— Mal dormida...

Nova troca de olhares. A noite ainda muito viva na mente dos dois. Jane, porém, preferiu mudar o foco para saber que bicho estava no seu quarto.

— Mostra!

Ele então retirou o pano que cobria a gaiola. Ali estava um filhote de camaleão que se debatia, doido para fugir.

Jane gargalhou.

— Gente, nunca imaginei! Até camaleão vira cupido nesta ilha.

— Isso! Esse malandrinho!

— Taí um nome de batismo. De agora em diante esse será o nome desse camaleão! Malandrinho!

Miguel retribuiu o sorriso dela, concordando.

— Bom, vou soltá-lo agora na mata.

—Ok, mas antes de ir para o trabalho, volta aqui pra se despedir, tá? Vou só tomar um banho.

Ela piscou com malícia. Miguel lançou um olhar sedutor.

— Já volto!

Jane se levantou da rede, enquanto o marido saía com o Malandrinho. Ia escovar os dentes e tomar um banho rápido, enquanto isso. Olhou para a cama quebrada. Impossível não lembrar o motivo de ela estar partida, ao chão.

Suspirando, dirigiu -se para o seu quarto e foi direto para o banheiro. Mirou-se no espelho e encontrou ali, a Jane que conhecera antes de se envolver em tantos problemas em Belém.

Vivian tinha razão.

Bancar a santa não era com ela. Gostava de sexo e ter um homem incansável na cama como Miguel, era mais do que sorte.

Minutos depois, ela enxugava o cabelo, quando de repente, um detalhe importante veio como um raio em sua cabeça: esqueceram de usar preservativo!

O gemido agora era de um profundo arrependimento. Era uma completa imbecil por agir de forma impensada.

Ela pegou a toalha e enrolou o corpo. Nesse mesmo instante, Miguel chegou e percebeu que a mulher com quem fizera amor não estava mais ali.

O semblante preocupado de Jane fez a sua excitação sumir num passe de mágica. Ela estava a andar de um lado para o outro.

— Jane... O que está preocupando você?

Ela, sem parar de andar, nervosa, explicou:

— Eu.. Eu cometi um erro... Não devíamos ir pra cama ontem!

Miguel ficou pasmo ao ouvir aquelas palavras.

— Jane... Não estou entendendo...

— Não usamos nenhum preservativo... Então isso quer dizer que... Que...

Ele ficou chocado ao perceber o que tanto a preocupava.

— Vixie!

Sem medir as palavras, Jane disse:

— Olhe, mas não se preocupe! Assim que abrir a farmácia, vou comprar a pílula do dia seguinte e vai ficar tudo resolvido!

Então, Jane encarou o marido, que naquele momento mudara completamente a fisionomia para um olhar desaprovador.

— Nem por cima do meu cadáver! Se você engravidar, que mal pode haver? Não somos casados?

Ela ficou chocada.

Aquele era o mesmo Miguel que a chamava de golpista? Será que depois da noite que tiveram, ele simplesmente achava que não devia mais pagar a dívida e sair da ilha? Ou muito pior, queria que fosse sua escrava sexual e todo ano teria um novo filho?

— Não vou ter bebê nenhum! Não estou preparada psicologicamente para ser mãe... — E para completar, disse: — Você não ia gostar de ter um filho meu...

Miguel endureceu mais ainda a fisionomia e num tom autoritário falou, exaltado:

— Não importa de quem seja! Se tem meu sangue, eu assumo!

Jane arregalou os olhos, com raiva.

— O corpo é meu e faço o que eu quiser!

— Não, senhora! Seu corpo é meu e você vai ter nosso filho!

Aquilo irritou mais ainda Jane, que sem pensar nas consequências, gritou:

— Pois bem, se por acaso ficar confirmada a gravidez, você fica com o bebê como pagamento da dívida e eu sumo da sua vida de vez!

Miguel sentiu como se tivesse levado um forte soco no estômago.

"Aquela mulher não prestava mesmo! Era capaz de vender até um filho só para se ver livre dele e aplicar seus golpes em outros velhos desavisados?"

Muito ofendido, Miguel encarou-a. Com toda a frieza que pôde mostrar, foi, firme:

— Não tem problema, Jane! Concordo com sua proposta. Se você estiver grávida, você fica até o bebê nascer, depois pode considerar encerrada sua dívida! E se você se arrepender, eu mesmo expulso você!

Ele saiu com ódio nos olhos e saiu, fechando a porta com violência.

Jane não sabia, mas ele tinha um motivo muito especial para ficar tão revoltado com as palavras dela. Miguel lembrou-se da sua própria infância sem mãe.

O pai dele sempre lhe falara o quanto foi desejado. Sua mãe não podia ter filhos e quando anos depois apareceu grávida, considerou que fosse um milagre.

Ansiava carregá-lo nos braços e assim que isso aconteceu, chorou de felicidade.

No entanto a alegria virou desespero para seu pai que se viu sozinho para criá-lo, porque sua mãe falecera por complicações no parto, poucos dias depois de ele nascer.

Miguel lamentava que Jane pudesse recusar ser mãe de uma maneira tão banal, então, naquele momento, ele a consideraria a pior mulher da face da terra.

"Mãe desnaturada!" Mas ele, assim como o seu pai, jamais abandonaria um filho.

Não queria lembrar de um detalhe apenas: apesar do sexo que tiveram, ela estava ali forçada.

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