CAP. 11 - LUA DE FEL

A festa, após a cerimônia não tinha hora para terminar.

Jane observou que seria uma ótima oportunidade para fugir, mas os súditos fiéis de Miguel estavam sóbrios e com olhos de águia a vigiavam em cada passo.

As horas passaram e na madrugada, Juca e Manoel se distraíram ao retirar os últimos bêbados que insistiam em ficar na festa.

Ela continuava lá, com os olhos pesados de sono, sentada e já sem as sandálias. Miguel também bebera além da conta e conversava animadamente sem pressa de voltar para casa.

Como os comparsas de Miguel estavam ocupados com os bêbados, levantou-se e sem avisar pôs-se a caminhar até à casa para poder dormir, porém antes que dobrasse a esquina, Miguel, com a rapidez de um felino a alcançara.

Pegando-a com firmeza pelo braço, perguntou:

— Onde pensa que vai sem mim?—

Jane o olhou com descaso e falou:

— Vou dormir e você tá bêbado! Solte-me agora e divirta-se!

— Não estou bêbado! — E com voz mais baixa, continuou: —Não deve andar por aí assim, além disso, que tipo de marido deixa a noiva ir sozinha para a cama?

Jane puxou seu braço e alisando-o, perguntou assustada:

— O que você está insinuando ? Acha mesmo que vou pra cama com você?

Ele olhou para os lados, antes de responder friamente:

— Vamos! Aqui não é o lugar adequado para conversarmos sobre isso.

Tentou segurar a mão dela. Jane esquivou-se e caminhou na frente dele.

O andar, num rebolado sensual o deixou em alerta.

Ao chegarem na casa, Miguel se desfazendo da breve recaída, fechou a porta. Sem perder tempo, disse:

— Deixa eu ver se entendi: pensa que quero ir pra cama com você?! A maior golpista que já conheci? Só pode estar brincando!

Jane pensava que ia ficar aliviada com aquelas palavras. No íntimo, porém, sentiu-se desprezada. Porém queria ofendê-lo por igual.

— Ah, então mais uma coisa em comum, pois você não faz o meu tipo!

Miguel então rebateu:

— Muito menos você! Se um dia você me procurar, vai ter que implorar e de joelhos!

Ela deu uma gargalhada debochada. Depois, prometeu:

— Isso nunca vai acontecer!

Eles se duelaram com raiva.

—A única coisa que quero é que pague a sua dívida, mas veja bem, mocinha... Lá fora você é minha esposa! Nada de ficar flertando com outros por aí!

— Faço o que eu quiser! — Ela avisou.

— Não enquanto estiver comigo! Tô falando sério! — Miguel ameaçou.

— Você é desprezível! O melhor dia da minha vida vai ser quando eu destruir você e os seus marionetes!

— Até lá, já destruí você primeiro!

Ele falou isso e passou por ela, com ar vitorioso. Jane ouviu quando bateu a porta com violência.

" É, enquanto eu estiver aqui, você vai se arrepender de me manter prisioneira! " Jane maquinava vingativa.

Após o primeiro embate, os dias foram passando lentamente.

Com exceção das pessoas que trabalhavam com Miguel, todos no vilarejo pensavam que o casal estava em lua de mel.

Jane era vista entre o povo como a esposa do homem mais bonito das redondezas. Por outro lado, Miguel também começou a ouvir dos moradores, que tivera sorte por ter uma bela mulher como companheira.

Isso incomodava os dois, pois tinham que se desdobrar nas mentiras sobre o quanto o casamento estava sendo maravilhoso.

Outro detalhe desses dias era que Jane ajudava nos afazeres domésticos, mas não podia fazer a comida.

Tinha vontade de dar toques de sua experiência culinária. O problema era que França era uma mulher muito ciumenta com a cozinha e não permitia a ajuda de ninguém.

Jane então, lavava a roupa, dava comida para as galinhas, patos e porcos e buscava a água para sua higiene pessoal.

Todo o tempo vigiada por Juca ou Manoel.

As vezes os dois.

Aquilo era irritante.

Miguel saía bem cedo para a roça de mandioca com outros homens e chegava antes de anoitecer.

Normalmente ia para o seu quarto, depois de tomar café e ficava lá com umas papeladas. Mal dirigia a palavra para Jane.

Evitava a esposa totalmente.

Com o tempo, ela foi se irritando com a ida ao riacho todos os dias para buscar água. Sua cabeça e suas costas doiam, fora o sol queimando sua pele. Precisava lavar o cabelo e a agua do balde era insuficiente.

A noite, enquanto Miguel armava uma rede para descansar, Jane pegou o inseparável bloco de anotações que exigiu dele para anotar suas dívidas e foi até ele.

Levou um susto ao vê-lo sem camisa, na rede, embalando-se .

Apenas com uma calça de algodão, ele falava com alguém ao celular.

Como percebeu sua presença, despediu -se da pessoa, encerrando a chamada.

O peito com pelos que iam dos mamilos até as partes que Jane nem quis pensar, eram convidativos.

Desviando-se para olhá-lo nos olhos, procurou concentrar-se em sua reclamação:

— Miguel, preciso de um banho digno, pelo menos duas vezes na semana. Essa ida e vinda ao riacho está acabando comigo. Estou sentindo dores nas costas só de carregar água!

Ele deu um sorriso de desdém. Queria que se sentisse injustiçada mesmo e soubesse que a vida não era fácil.

— Seja bem-vinda ao mundo do campo! É exatamente assim que as mulheres daqui vivem e não andam reclamando.

— Então quanto é pra pelo menos seus homens me levarem até um rio, onde posso tomar banho melhor?

Ela pegou o bloco para anotar o valor.

— Não existe preço pra isso... É bobagem!

— Droga, Miguel, preciso de mais água para lavar o cabelo e o lugar é tão longe! Pelo menos uma vez por semana...

Ele parou de se embalar. Observou-a por um instante avaliando se era boa ideia fazer algo a favor dela. Faria um teste para ver se devia confiar.

— Permito uma vez por semana. Amanhã falo com meus homens.

— Até que enfim! — Ela vibrou.

— Recebo agradecimentos!

Ela fingiu não ter ouvido e continuou:

— Outra coisa, quero saber os valores de cada serviço que faço aqui pra você não me enrolar. Creio que em seis meses consigo pagar essa dívida!