Capítulo

Chegamos em um país de língua e costumes diferente do nosso, ficamos hospedados num albergue dos mais baratos, onde dividimos a mesma cama. Quanto a isso tudo ok, já que tínhamos passado várias noites juntos. O ruim era ter que dividir o mesmo quarto com pessoas totalmente estranhas. Porém, como a gente passava boa parte do dia fora, tava valendo.

No início, começamos a vender bijuterias artesanais na rua. A Cátia já fazia e tirava seu sustento da venda das bijuterias. Daí ela me ensinou a fabricar e a vender as peças, no entanto logo me aborreci com aquele trabalho. Achava o bagulho muito monótono e não rendia quase nada.

Fui em busca de algo mais rentável.

Saí pedindo emprego de porta em porta. A língua me atrapalhou um pouco, porém, mesmo assim, consegui uma vaga como lavador de pratos. Pouco tempo depois, passei a ajudar na cozinha. Aprendi a cozinhar e, de uma hora pra outra, me tornei auxiliar de cozinha.

Por indicação minha, a Cátia também foi trabalhar no restaurante, entretanto, nenhum de nós chegou a comentar que vivíamos como um casal, pois eu tinha certo receio.

Naquela época, tínhamos deixado o albergue e morávamos numa casa.

Lá se foi quase um ano de paz e sossego com a Cátia, eu e ela nunca brigávamos. Não a amava, da mesma forma que ela também não me amava. Acho que só juntamos nossos trapos por conta da solidão e da carência. Sendo que depois de já estabilizados e familiarizados com o país estrangeiro, não havia porquê continuarmos juntos.

No entanto, eu não tinha coragem de chegar nela e pôr um ponto final na nossa história, daí, portanto, esperei que ela tomasse a iniciativa.

Só que a Cátia parecia que vivia no mundo da lua. Pois em nenhuma das nossas conversas, deu a entender que terminaria.

Porém, olhando pra trás, agora, dava pra eu ter percebido que o nosso lance tinha degringolado. Cátia deixou de me procurar na cama, eu é que a procurava. Só que com o tempo, fui perdendo a vontade de transar com a minha parceira.

Comecei a procurar na rua o que não encontrava em casa. Traía ela na maior caradura - com vizinhas e até com colegas de trabalho. Mesmo assim, a garota não se tocava.

Pensei em parar de esperar pela iniciativa da minha companheira e abrir logo o jogo pra ela. Mas, qual não foi a minha surpresa quando peguei a mina agarrada aos beijos com o chefe, na sala de mantimentos do restaurante.

Custei a acreditar no vi, mas meus olhos não me deixavam enganar. A Cátia tava de cacho com o próprio patrão casado.

Ao me verem, os dois se largaram e, sem jeito, a Cátia começou a arrumar as prateleiras, enquanto o homem saiu de olhos baixos.

Eu não me atrevi a dizer nada, fui pra casa e fiquei esperando uma explicação da minha parceira. Horas depois, ela chegou como se nada tivesse acontecido. Fez o jantar e jantamos. Assistimos um pouco de televisão. Daí eu me levantei pra ir me deitar, foi quando então ela resolveu abrir o jogo.

Enfim, Cátia me contou como começou seu romance com o chefe, me pediu perdão e disse que não me revelou tudo antes porque tinha medo de me magoar.

Eu falei que a entendia, e que ela não precisava sentir-se culpada. Na verdade, senti até certo alívio ao descobrir que ela já havia arranjado outro cara. Isso porque, há tempos, desejava dar o fora.

No outro dia, fui até o restaurante e pedi minhas contas. O ruim de pedir demissão foi que acabei recebendo uma merreca.

Em seguida, dei um tchauzinho aos colegas e fui embora.

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