Capítulo

Eu estava de boa. Não pretendia me enroscar com ninguém tão cedo. Mas aquela mina… De cara já se via que era diferente das outras. Seu modo de se vestir se destacava. A garota se vestia toda de preto, tinha tatuagens e um corte de cabelo esquisito. Não sei o que ela viu em mim - um rapaz tão comum e sem graça.

No dia em que atravessei o caminho dela, na lanchonete, a maluquinha não me desgrudava os olhos. Ela tava acompanhada de um carinha. Esse carinha tinha a mesma vibe que ela. Assim que os vi, achei até que fossem namorados. E por isso mesmo, evitei ficar ao alcance da vista dela, pois não pretendia arrumar confusão com seu "companheiro", pois tinha o mó receio de perder o trampo. Mais tarde, fiquei sabendo que eram apenas amigos. Os dois faziam parte de uma banda de rock.

Como eu disse, tentei fugir da garota, só que acabou sobrando pra mim anotar o pedido do casal de amigos. Na hora fingi estar ocupado em outro serviço, mas o gerente aproximou-se de mim e fez sinal para que eu fosse até a mesa da dupla pra anotar os pedidos.

Mal me aproximei e a mina já foi jogando uma cantada.

- Preparado pra anotar meu pedido, amorzinho? Deixa eu ver, deixa eu ver! Vou fazer três pedidos. O primeiro pedido são dois x-burguers acompanhados de dois shakes. O segundo é você, e o terceiro… fica por conta da sua imaginação mesmo.

Fiquei super sem graça, mas tentei manter a calma.

Anotei o pedido e fui até a cozinha. Voltei em poucos minutos com a comida.

Na hora que colocava os pedidos na mesa, a garota me pediu uma caneta e anotou em um guardanapo seu nome e o número do telefone. Em seguida, colocou no bolso da minha calça uma bela gorjeta junto com a caneta e o guardanapo rabiscado. Fique outra vez sem graça, enquanto que ela e o seu parceiro riram alto.

"Nossa! Mas que casal esquisito", pensei naquele instante.

Passado mais ou menos uma hora, a garota e seu acompanhante foram finalmente embora. Pude então respirar aliviado. Me sentia desconfortável, só de pensar que ela me fuzilava com olhares enquanto eu trabalhava.

Quando o expediente encerrou e nos reunimos no trocador, fui o grande alvo da zoação dos meus companheiros.

Evitei no entanto cair na pilha delas.

Fui pra "casa" com mó raiva da zoação. E tudo aquilo por conta daquela garota. "Que mina mó atirada"! Fui pensando pelo caminho. "Tomara que nunca mais apareça na minha frente". Só que ao chegar em casa, ao invés de jogar o guardanapo com o seu contato, guardei-o junto com meus documentos. O pior de tudo, é que ao dormir, acabei sonhando com ela.

No dia seguinte, no trabalho, bem no início da tarde, adivinha quem aparecesse por lá novamente? Sim, a atirada voltou à lanchonete. Sua atitude em relação a mim foi a mesma, não parava de me olhar em nenhum momento. Incomodado, pedi pra que meu colega fosse atendê-la. Ele até tentou me ajudar. Mas a atrevida da garota chamou o gerente, que em seguida chegou até mim e ordenou que eu fosse atendê-la. Na hora senti vontade de esganar meu chefe, mas o amor ao emprego falou mais alto e cumpri a ordem dele imediatamente.

Assim que cheguei a mesa, a garota escolheu o que ia comer e em seguida quis saber como eu me chamava.

– Olá, menino bonito! Me diz aí seu nome?

Pensei rapidamente e dei um nome falso pra ela.

– Eu me chamo Marcel!

Saí apressado para buscar seu pedido. Voltei com a mesma pressa para entregar-lhe a comida. Ela parecia ocupada, isso porque falava com alguém ao telefone. Melhor pra mim, pois pude escapar da sua presença sem ser provocado. No final do expediente, no entanto, fiquei sabendo que, instantes antes de atendê-la, ela já tinha perguntado como eu chamava pra um dos carinhas que trampava comigo. "Porcaria", pensei. Tomara que não volte me chamando de mentiroso. Não ia aguentar desaforo.

No dia seguinte, lá pelo mesmo horário da ida da maluquete à lanchonete nos dois dias anteriores, fiquei na expectativa que ela aparecesse. Não sei o que deu em mim pra ficar ansioso pelo retorno de uma cliente. E não sei dizer, se pra minha alegria ou infelicidade, a garota não apareceu.

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