Combate do Amor

Combate do Amor

01

Jennifer Dunnes

Saí do banheiro depois de um banho relaxante apenas de calcinha e uma regata branca parcialmente transparente e me dirigi à cozinha para me refrescar com um pouco de água. Eu só não podia imaginar que um homem grande e musculoso estaria parado no meio de minha sala, esperando que alguém o recebesse. Talvez a sorte estivesse do meu lado, pois ele ainda não havia notado minha presença.

Meu nome é Jennifer Dunnes e vocês estão prestes a presenciar o maior constrangimento da minha vida.

Uma semana atrás.

Lavar os porcos não era minha atividade preferida e isso se tornava óbvio depois que eu terminava o serviço. Enruguei o nariz por causa do cheiro impregnado em minha pele e praticamente corri de volta para casa. Eu definitivamente não gostava de lavar porcos.

— Filha! — chamou minha mãe antes que eu entrasse no corredor para o meu quarto. Parei ofegante e vi seu vislumbre jovem apesar da idade.

Mary era mais nova do que os cinquenta e poucos anos que a idade apontava. Minha mãe sempre foi, e é, uma referência para mim. Soube cuidar da filha pequena de dez anos e administrar a fazenda Solar muito bem, desde a morte do marido.

Confesso que dessa época, só lembro o quanto eu chorei por saber que não veria mais meu pai. Minha mãe, porém reuniu forças e continuou tocando a fazenda com ajuda dos funcionários leais que tínhamos e ainda temos. Com o progresso, ela acabou comprando a fazenda Dunnes, no interior de Portland, que é onde moramos atualmente. Ela é pouco menor que a Solar, que ficava situada em Olympia, perto de Seattle.

Isso porque é na Solar onde se faz todas as produções de leites e queijos. Quando mamãe decidiu comprar a fazenda Dunnes, foi por um simples motivo: tranquilidade. Aqui ela não precisava ficar todo o tempo trabalhando e com uma fazenda menor, eu vou aprendendo aos poucos como tomar o controle dos negócios, até porque eu assumirei seu cargo quando ela se aposentar.

Apesar de não ter feito faculdade de administração, sei como as coisas funcionam de tanto acompanhar minha mãe em suas viagens as processadoras de leite, então não é como se eu precisasse de um diploma. Minha mãe, é claro, não aprovou minha decisão, ela preferia que a filha estudasse em vez de amansar cavalos, cuidar de hortas e lavar porcos.

— Sim, mãe! — respondi depois de recuperar um pouco do ar.

— Era Milena no telefone, uma amiga de longa data. — diz com sorriso e acompanho.

— Eu sei mãe! Ela vive nos chamando para passar o Natal e Ação de Graças com ela e nós nunca vamos. — falo cruzando os braços e encostando-me na parede.

— Não vamos porque temos trabalho no dia seguinte Jenny, você sabe disso. — ela repreende e mudo o assunto. Eu, no entanto, não era burra para saber que datas comemorativas ainda entristeciam minha mãe.

— Claro que sei. Mas quais são as novas?

— Seu filho mais velho, David, está vindo para cá.

Vinco minhas sobrancelhas, mas minha mãe não percebe a interrogação.

— Por que ele está vindo? — pergunto.

— Parece que David acabou de voltar do exército e precisa de um ambiente calmo e tranquilo. Ele deve passar um mês no máximo, até as coisas se ajeitarem para ele. — ela explica e dou de ombros.

— Tudo bem então... Quando ele vem?

Mamãe respira aliviada e devolve o telefone

ao gancho. Talvez pensasse que eu não fosse aceitar e não é bem isso o problema. Não gosto de estranhos pela casa e nunca conheci nenhum dos irmãos Petersons. Na verdade, só aceitei porque minha mãe mencionou que 'David' acaba de sair do exército. Suspiro sem que ela perceba. Como deve estar a cabeça desse rapaz? O quanto de coisas ruins ele deve ter visto? Tento focar no que minha mãe esta falando.

— Ele vem daqui um mês. Vai ser bom porque vou passar umas duas semanas na fazenda Solar, ver como as coisas estão... Enfim, quero estar aqui para recebê-lo quando ele chegar. — diz solidária e sorrio.

— Faça como quiser mãe, agora... — me interrompo olhando triste para meu corpo. — Me deixe ir tomar um banho que não estou aguentando meu cheiro. — faço uma careta. — Você devia contratar mais funcionários para fazer isso. — reclamo e ando para o banheiro.

— E perder sua cara de nojo? Não filha, obrigada! — gritou minha mãe e neguei com um sorriso sem dentes, no fundo eu gostava de cuidar dos bichos e ela sabia.

Fazer o que se está no sangue?

No fim de semana, mamãe se preparou para mais uma viagem para Olympia. Jorge, o encarregado da fazenda Solar, sempre vinha de carro para a fazenda Dunnes um dia antes, descansava em um quartinho preparado para ele e no dia seguinte voltava com minha mãe. Jorge é um homem bem-educado, competente e fazia tudo pela minha mãe. Sendo quatro anos mais velho que ela, cheguei a pensar que rolava algo entre os dois. Eu não seria contra, para mim, mamãe merecia um novo amor, mas para ela, o coração está fechado para paixões.

No fundo, sou bem parecida com mamãe quando tinha seus vinte e cinco anos. Loira, olhos castanhos e pele bronzeada de tanto sol. Sou parecida até no quesito amor. Cheguei a ficar noiva de um garoto em Seattle, mas tudo que ele queria era que eu me entregasse a ele. Perdi a confiança nos homens... Isso porque não quero sofrer outra vez. Pode parecer estranho, mas ainda sou virgem e me orgulho disso. Ainda acho que vou encontrar um amor como minha mãe fez um dia, só espero reconhecê-lo quando vê-lo na minha frente.

Despedi-me de minha mãe e de Jorge, e voltei para dentro de casa me dirigindo à cozinha. Duas semanas sozinha não é tão solitário, já me acostumei a ficar a maior parte do tempo ajudando os poucos funcionários da fazenda. Como cuidar da horta, dos cavalos ou dos porcos.

Na “tabela dos afazeres” estava escovar cavalos. Sorri com a tarefa, eu adoro escová-los, sempre perco um bom tempo com eles.

Voltei para casa no finalzinho da tarde, passei antes pela cozinha colocando “um ok” ao lado da tarefa, escrita no papel e fui para debaixo do chuveiro. A água quente relaxou meu corpo de um dia exaustivo. Saí do banheiro enrolada em uma toalha e fui ao meu quarto colocar algo no meu corpo. Minha barriga deu sinal de vida e sacudi meus cabelos deixando-os soltos. Já podia sentir o gosto da torta de chocolate me esperando na geladeira, no entanto meu desejo é interrompido por um homem alto e musculoso, parado no meio da sala de estar.

Que diabos!

Eu tinha a plena consciência de que estava com uma calcinha de cachorro ridiculamente inadequada e, com uma regata que mostrava os contornos dos meus seios. Não é como se eu quisesse conquistá-lo, além do mais, nem sei quem é o cara que tem costas largas e braços grossos cobertos por uma blusa de manga curta. Meu nervosismo, e o aperto em certas partes do meu corpo era somente a preocupação de passar por um mico. Isso não tem nada a ver com o homem ter uma bunda perfeita em um jeans surrado. Revirei meus olhos impertinentes. Argh! Desde quando comecei a ficar tarada?

Sem fazer movimento algum, pensei nas possibilidades de me esconder sem que ele me visse. Não foi difícil comprovar que ter saído correndo dali tivesse sido minha melhor opção. O fato era que enquanto debatia em minha cabeça, não notei que ele já havia me visto e me olhava de maneira nada amigável. O mais esquisito, é que gostei desse olhar.

O rapaz não era só bonito de costas. Podia ser considerado o irmão do “deus da beleza” se existir um. Percorri meus olhos sobre o maxilar com uma barba rala, onde acomodava os finos lábios com um sorriso. Subi meus olhos reparando nos cabelos castanhos quase pretos caindo sobre os olhos, um corte cairia bem. Os olhos tão azuis me fitavam intensamente que, o que eu mais queria era ficar ali o admirando. Uma sobrancelha foi erguida e seus braços se moveram cruzando sobre o peito.

Ele com certeza tem uma rotina de malhação.

— Precisa de ajuda para encontrar o resto da roupa? — ele indagou e senti outro aperto em lugares que estavam adormecidos.

Sua voz máscula me fez parar de observar seus braços e focar outra vez em seu rosto. Eu, porém não havia escutado nada do que ele falou.

— O que disse? — pergunto perdida.

— Se precisa de ajuda com... — ele parou e apontou para meu corpo.

Franzi meu cenho e baixei meus olhos para meu corpo. Senhor! Levantei meu rosto envergonhada e tentei tampar minha calcinha de cachorro, o que fez o homem alargar mais o sorriso.

— Não olhe para mim! — rosnei irritada fazendo o rapaz descruzar os braços jogando-os no ar.

— Mas eu já olhei.

Cresci ainda mais meus olhos, inconformada.

Como ele pode ser tão mal-educado?

— Então pare, de continuar me olhando!

Sem a intenção de me dar liberdade, corri de volta para o corredor e encostei-me à parede. Que homenzinho arrogante. Gemo internamente por não ter trancado a porta da frente.

— Se esta procurando por emprego lamento dizer que veio na hora errada. Costumamos aceitar empregados pela manhã. — invento qualquer besteira desejando que ele vá logo embora.

— E se eu não estiver procurando emprego?

— Então não tem nada para fazer aqui. Vá embora. — vejo sua sombra adentrar pelo corredor e me desespero. — Fique aí ou juro que serei obrigada a usar minha arma em você. — ameaço e ele para. Menos mal.

— Está mesmo armada? — indaga sem confiança.

— Não vai querer ver o estrago! — aviso usando a voz mais confiante que possuo e estranho o suspiro que escuto vim dele.

— Desculpe se assustei a senhorita.

— senhorita? — juro que não era minha intenção.

Estou apenas procurando por Mary Dunnes. Você trabalha aqui?

Sinto me acalmar ao ouvir sua voz gentil e doce, sem um pingo do sarcasmo ou confiança. Seguro meu suspiro de alívio. O que esse rapaz quer em uma fazenda em pleno sábado? Pelo pouco que vi, é bem-apessoado, apesar do jeito sacana que me olhou não é daqui, se fosse, saberia quem eu sou.

— Por acaso você já viu alguém trabalhar com tais trajes em uma fazenda e andar pela casa principal desse modo? — pergunto com ironia e ouço sua risada leve. Cerro meus olhos confusa, é inevitável o fato de que esse som me agrade.

— Tenho que confessar que não.

Noto ele descansar o corpo na parede lateral da que estou e me aproximo mais. Sei que se ele ou eu colocarmos nossas cabeças para fora, nos encontraremos.

— Então já sabe que não sou uma empregada e como já disse antes, não falamos de trabalho a essa hora. Então, por favor, se retire e volte amanhã de manhã.

— Você deve ser Jennifer Dunnes, a filha. — ele diz para si mesmo e me pego corrigindo-o.

— Jenny.

— Me desculpe?

— Gosto que me chamem de Jenny. Jennifer parece que a pessoa está brigando comigo, mas isso não muda nada, não posso fazer nada por você hoje.

— Na verdade, acho que pode.

Outra vez escuto a arrogância em sua voz e franzo o cenho. O que ele quer? Será um maníaco? Imediatamente lembro-me da arma na mesa de trabalho na minha mãe.

— Acho que não senhor. Peço por favor, que vá embora. — digo já alarmada.

— Creio que será impossível Jenny. — meu coração acelera ao ouvi-lo dizer meu apelido. — Me desculpe se cheguei cedo demais. Deveria ter vindo daqui três semanas, mas estou realmente precisando de um lugar tranquilo. A cidade estava me deixando louco.

Três semanas? Aproximo-me da lateral da parede e coloco minha cabeça para fora deixando o meu corpo para trás. Vejo seus olhos serenos e brilhantes me observarem. Eram ainda mais bonitos e encantadores de perto. Desci meus olhos para os lábios finos ainda em forma de riso.

— Afinal de contas, quem é você?

— Prazer! Sou David Peterson.

Mais populares

Comments

Sarah Mylla

Sarah Mylla

😍

2024-06-10

1

Vilza de Souza

Vilza de Souza

Amando a estória 💗

2023-11-02

1

Ver todos

Baixar agora

Gostou dessa história? Baixe o APP para manter seu histórico de leitura
Baixar agora

Benefícios

Novos usuários que baixam o APP podem ler 10 capítulos gratuitamente

Receber
NovelToon
Um passo para um novo mundo!
Para mais, baixe o APP de MangaToon!