Jennifer Dunnes
Eu havia concordado com uma loucura. Sabia disso, mas mesmo assim, aceitei a proposta de David.
"Porque meu dia não poderia ser tranquilo?"
Minha ideia inicial era passar o dia na cachoeira, mas aí tinha David, podia ter sido um sonho sua vinda, mas ele estava realmente aqui. Como por obrigação, me senti no direito de mostrar a fazenda a ele, e não sei como acabei falando sobre a cachoeira. É um lugar particularmente meu e apesar de meu pequeno incomodo em ter que mostrar, eu sabia que não iria ser tão ruim.
Então... Surge uma vaca atolada e um peão machucado. Eu tinha feito algo de errado para não merecer meu dia de folga? Parei o carro atrás de um pequeno monte e olhei de relance para David que observava cada centímetro de terra. Percebi assim que saí de casa que ele tem mania de olhar tudo como se esperasse por algo.
— Lembre-se de que vamos salvar uma vaca.
— digo trazendo seu olhar para mim.
— Tenho plena consciência disso.
— E tenho plena consciência de que nunca fez isso. — falo sarcástica.
— Temia essa certeza. — brincou com leve sorriso e abriu a porta. — Vamos Jenny, alguém precisa de nossa ajuda.
Saio do carro com certa rapidez indo parar ao seu lado. O brilho nos olhos dele me mostrava que estava se divertindo e ansioso. Aquilo me pegou desprevenida e pensei em lhe dar a melhor diversão que já tivera à custa de uma pobre vaca.
— Só para constar, vai fazer o que eu
mandar. — aviso e fito o céu, verificando o sol cada vez mais forte. — Tenho mais experiência que você.
— Disso eu não duvido.
Ergui minha sobrancelha com a entonação dita por ele. Foi com segunda intenção? Sorrio com meu pensamento, se ele ao menos soubesse que de algumas experiências eu não tenho nada.
— Está sorrindo? — sussurra e pisco percebendo que estava sendo observada.
Abaixo meus olhos memorizando o olhar de David sobre mim e o que vi foi... Desejo? Certamente que não. Não tenho dúvidas de que estou enlouquecendo e isso seria normalmente explicado, devido ao homem ser lindo ao extremo, com leves covinhas ao sorrir. É claro que ele não me olharia assim, sou uma completa estranha. Tenho vontade de rir outra vez, pois não faz nem 24 horas que considerei tê-lo como um irmão.
— Não estou sorrindo. — replico apesar de estar sim, quase sorrindo. — É apenas o reflexo do sol em meu rosto, isso faz com que... Haja um alargamento em... — de que diabos estou falando?
— Seus lábios? — ele completa divertido e sei que está se segurando para não explodir em risos.
— Oh, por favor, não segure o riso por minha causa. — digo a seu favor.
— Bastava dizer que seus pensamentos não me interessam, sendo que é exatamente o contrário, dadas as circunstâncias de que parecia que você estava a zombar de mim.
Por não saber que sou virgem? Talvez!
Vejo-o cerrar os olhos agora e presumo que estou quase sorrindo de novo. Tenho que ser menos expressiva, o problema é que isso é difícil. Não o respondo, não era necessária alguma palavra. Eu acho que não. Subo o pequeno monte com David em meu encalço e avisto o pequeno lago onde a vaca está afundada no início da lama. A pobrezinha deveria estar lá para tentar se refrescar. Não a julgo, está calor demais. Suspiro cansada só com um pensamento, ao menos a vaca está de frente para a saída.
— Tudo bem. Vamos fazer o seguinte. — iniciei descendo até a poça enorme de lama com David do meu lado. — Você vai ficar atrás dela e eu vou ficar do lado. Nós vamos empurrá-la, fazer força para ajudá-la continuar a andar, mas vamos fazer com cuidado entendeu? Não se esqueça de que é um animal.
— Entendi. — diz com um aceno breve e rápido.
Sem cerimônia nenhuma vejo David entrar na lama. Não estava com nojo com o fato de que iria estragar a roupa. Isso de fato chamou minha atenção.
— Vamos tirá-la daqui, certo? Basta nos ajudar também. — murmurou para a vaca e fiquei alguns segundos abobada antes de afundar na lama.
A terra molhada estava fria e bastante pegajosa, foi impossível não fazer uma careta. Fiquei ao lado da vaca e iniciei uma contagem de três números. Fizemos tanto esforço que, o que recebi foi uma olhada mal-humorada do animal.
— Não está dando certo, parece que nem está se movendo. — resmunguei depois da terceira tentativa.
— É claro que ela está. — anunciou David confiante. – Continue, 1... 2... 3.
Empurramos novamente mais duas vezes e ele estava certo. Ela se movia, embora que devagar. Após a sétima tentativa, a vaca deu seus coices e pulos devidamente incomodada e isso a ajudou a sair de vez daquela lama. Teria sido um resgate incrível se não tivéssemos caído na sujeira. A força projetada com as extravagâncias do animal nos levou de encontro com a lama. Levantei a cabeça a tempo de ver o animal seguir seu caminho tranquilamente e voltei para ver David.
— Porra! Olha só para isso. — exclamou exasperado e juntei os lábios.
David tinha o rosto lambuzado de lama e braços e tronco sujos também. Não foi possível segurar a risada que retumbou dentro de mim.
Parecia que ele tinha feito isso de propósito.
— Está achando engraçado? — ele perguntou nervoso e ignorei a voz séria em repreensão. Há tempos não ria como agora.
— Tenho que admitir que você está sim, muito engraçado. — engasguei ponho minhas mãos em meus joelhos afundados.
— Ah é? E que tal isso!
Eu não vi. Apenas senti o choque de algo molhado, gelado e viscoso escorregar pelo meu pescoço. Meu riso se calou em instantes e fitei David sem acreditar no que havia acontecido.
— Quantos anos você tem? Quinze? — não gritei, mas estava quase.
David cerrou os olhos e quase não decifrei o sorriso em seus lábios. Outra vez, com uma ligeireza não reconhecida, senti outro baque. Quem ele pensa que é para fazer isso comigo? Não fiquei para trás, ele começou, bem, ele terá, e como se fôssemos duas crianças, nos divertimos por breves segundos. Até o momento em que David me segurou pela cintura de costas — enquanto eu enchia minhas mãos com quantidade exagerada de lama — me prendendo com meus braços.
— Eu me rendo! — sussurrou próxima a minha orelha e me acalmei.
Melhor dizendo, me acalmei pela inquietude do seu som próximo a mim. O arrepio em minha nuca podia ser relacionado à respiração dele, mas eu sabia que não era. Não facilitou nada o quão juntos estávamos e de que sentia a grossura de seus músculos em meu corpo. Sorri nervosa evitando o silêncio e ele me soltou, embora um tanto relutante eu diria. Quer dizer, eu esperava que sim. Esperava!
— Melhor voltarmos para casa e tirar essa sujeira. — opinei embaraçada.
O carro estava coberto de lama por dentro quando avistei Roger em frente à minha casa. Eu esperava que não houvesse tantos problemas com a perna do funcionário, que não passasse apenas de uma torção. Era a primeira vez que acontecia tal coisa sem minha mãe por perto e a meu ver, estava até que indo bem. Claro que Roger saber das coisas me ajudava e muito. Quanto ao David, resolvi ignorar o desmanche que ele fez em meu corpo com apenas um toque.
— Você pode ir tomando banho David, vou falar com Roger, saber como está o rapaz e pedir que lave o carro. — expliquei, mas fui interrompida antes de sair do carro.
— Posso fazer isso para você. — ofereceu-se e sorri recusando.
— Você já fez muito por mim me ajudando com a vaca.
— Eu não me importo de fazer as coisas para você. — murmurou baixo me olhando de forma intensa.
Eu sabia que estava fedendo, descabelada e imunda, mas podia jurar que me sentia linda com a forma ardente que ele me olhava.
— David... Não precisa fazer as coisas por mim, eu sei lidar com tudo.
— Tenho espírito de liderança Jenny. — explicou como se fosse óbvio. Será que era o líder no exército? — Vá tomar seu banho tranquilamente que eu falo com Roger.
Está certo, até podia ser que ele era acostumado a cuidar de tudo e ter controle do que não fazia parte dele, mas não posso permitir que ele faça meu trabalho. Abri a boca fechando em seguida. Iria ser um pouco bruta, mas me interrompi pensando antes de falar. O caso não é algo impossível de se resolver, apenas saber como está o rapaz e pedir para limpar o carro e se fosse parar para pensar um segundo, eu quero muito um banho.
É o meu trabalho, eu sei, mas não morreria se ele fizesse isso por mim. No fundo, acho que ele deve estar se sentindo inferior por uma mulher comandar e fazer mais do que ele. Bom... Vou deixá-lo sentir que está por cima.
— Tudo bem, então. — digo ainda receosa e saímos do carro.
Andei em direção a casa enquanto via de relance David caminhar para o senhor de chapéu, Roger, e iniciarem uma conversa. Sem perceber ri sozinha da cena. Um homem respeitável do exército todo sujo e lambuzado de lama, aparentando dureza. Bom, Roger respeitou David de todo caso mostrando profissionalismo e eu já esperava isso dele.
Os dedos enrugados mostravam que fiquei
tempo demais no banho. Repreendo-me mentalmente por isso e corro para vestir um vestido simples de mangas curtas. Não sei como me esqueci de David outra vez. Provavelmente está zangado com minha demora e rezo para não ter se vingado sentando no sofá de mamãe. Ele me ajuda e eu o deixo sujo me esperando? Que modos! Esse é o mal de se ter um banheiro. Já deveríamos ter feito um em cada quarto. Escovo meus cabelos rapidamente e saio do banheiro indo ao meu quarto para colocar um calçado. Puxei de meu armário uma toalha limpa, um sabonete novo, e fui atrás de David.
Fiquei estática por não encontrá-lo na sala. Penso que talvez ele tenha tido sede e foi à cozinha, mas também não estava. Bati na porta do seu quarto e não obtive resposta. Onde ele está? Caminho para o lado de fora onde tudo estava silencioso se não fosse... A água que caía sem parar nos fundos da casa.
Minha curiosidade por saber quem estava derramando água me fez caminhar para a parte de trás da casa e engolir em seco com a visão de David se banhando com uma mangueira. Acompanhei o deslizar da água pelo seu tronco nu. A tatuagem meio tribal na cor preta me dava uma sensação desconhecida. A vontade de percorrer suas costas com meus dedos me deixava formigando. Por instantes desejei que estivesse sem o calção também. Que impróprio! Mas de tudo, não seria tão mal. Não tanto quanto ver sua mão descer pelo tórax e apertar o monte pouco visível em seu calção. Minha respiração falhou e tossi chamando sua atenção. Seu rosto virou e pude ver que existia alguma satisfação ali.
— Jenny! — clama surpreso e fito o chão agora tímida com seu olhar em mim.
— Me desculpe pela demora no banho.
— Sem problemas. Isso em suas mãos...
— É uma toalha e um sabonete. Eu não sei se você se incomoda ou não em usar sabonete dos outros por isso trouxe um novo.
— Com certeza não me importo de usar um sabonete usado por você. — comunica e arregalo os olhos. Na certa estou com meu rosto vermelho.
— Se quiser ir para o banheiro... Está livre agora. — digo vendo ele se aproximar sorrindo.
— Posso terminar meu banho aqui? — indaga enquanto puxa a toalha.
— Claro! — respondo alto demais e desço meus olhos para sua barriga.
Jesus! É tão firme... E eu nem sequer estou tocando. Meu ventre se contrai em formigamento, não me lembro de ter sentido isso algum dia.
— Posso usar esse sabonete por enquanto. — ele diz buscando minha mão e inspiro fundo quando ele toca. — Obrigado, Jennifer. — murmura e levanto meus olhos.
Escuro como uma tempestade é como estão os seus olhos. Abro minha boca para o leve suspiro e ele sorri com malícia. Observo-o voltar andando de costas, sem quebrar nosso contato e é quando busca a mangueira, que contrai o corpo, que eu, uma pobre humana, me repreendo por ficar apenas encarando.
Por que travo toda vez que ele está por perto?
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Comments
Sarah Mylla
aí que calor, eu que preciso de uma mangueirada, quer dizer um banho😅
2024-06-12
0
Vilza de Souza
Eita que até eu estou firmigando em lugares que nem lembrava que existia.
2023-11-02
2
Celia Maria
Eita ainda bem que te achei autora, amando cada uma de suas histórias é a terceira que leio em seguida e agora não paro mais 😍🌹
2023-08-30
2